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domingo, 5 de junho de 2016

A saudade em dois textos de Mons. Moreira das Neves

Saudade 
Quadro de Almeida Júnior (1899) - in, Wikipedia
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Saudade.

Palavra bem portuguesa que segundo os estudiosos vai buscar a sua raiz aos Cancioneiros da Vaticana  e da Ajuda, e mais perto, ao "Leal Conselheiro" do Rei D. Duarte e a Azurara, na "Crónica da Guiné", tem como mais comummente é acreditado a sua génese na época dos Descobrimentos Portugueses ao ter-se em conta a solidão dos que ficavam e daqueles que partiam, meses a fio, longe dos entes queridos.

No livro "Variações sobre a Saudade", do insigne Poeta Mons. Moreira das Neves, numa edição invulgar que apresenta todos os textos escritos pela mão do autor, nas dobras da capa da frente e da posterior, o texto que ali encontramos da autoria de Manuel Ferreira da Silva, abre com este pensamento de Miguel de Unamuno: "Se alguém merece ainda ser lembrado,é porque não morreu inteiramente." o que quer dizer que a definição da saudade encontrou neste célebre homem de letras, um modo de falar dela com toda a carga emotiva que a palavra contém.

Do Livro escolhemos dois textos compostos, cada um deles por três quadras e por eles podemos ver quanto a palavra - Saudade - fez vibrar o seu autor.


Extinta a última brasa,
Tudo morreu? Ninguém cria.
A saudade em nossa casa
Faz as vezes da candeia.

Se alguém pergunta por onde
Anda alguém a quem quer bem,
A saudade é quem responde
Primeiro do que ninguém.

A saudade, abrindo a mão,
Se trigo de ouro semeia,
O trigo nasce do chão,
Mesmo em desertos de areia.

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Ninguém diga que a saudade
Abandona os infelizes.
Ele nunca deixa a herdade
Em que afundou as raízes.

A saudade traz imersos
Os olhos na eterna Luz.
Assim a viu nos seus versos
Frei Agostinho da Cruz.

Quem busque terra estrangeira
Pode sem medo contar:
- Fica a saudade à lareira
Sentada no seu lugar.


 in, "Variações Sobre a Saudade"


Bem podia ir por aí além a falar sobre a palavra saudade.

Penso, porém, que depois de ler estes dois textos, tudo o que viesse depois iria tirar-lhes o sabor da autenticidade de cada palavra que Mons. Moreira das Neves alinhou para nos falar do seu sentir sobre esta palavra de sabor tão português.

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