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quarta-feira, 15 de junho de 2016

Nunca é demais falar sobre o aborto


O JURAMENTO DE HIPÓCRATES (1)

" Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.
Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.
Conservarei imaculada minha vida e minha arte.
Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.
Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.
Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Nota: O sublinhado no texto é nosso.
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Exprimo a minha perplexidade perante o modo como ontem e  hoje – mas, parece, hoje mais que ontem – se não segue à risca o texto de Hipócrates, que penso, continua a ser jurado.
O “Juramento de Hipócrates” é um texto único, pela sua forma e, sobretudo, pela humanidade de que se reveste.
Neste tempo em que se torna urgente continuar a acordar consciências em todos os campos, parece, que trazer a lume este texto milenar se torna necessário, não só para os técnicos de saúde que praticam o aborto como para todos os homens e mulheres – que esquecendo as responsabilidades que lhe cabem na geração de vidas humanas – tratam de leve este assunto, como se o feto fosse uma coisa e não um potencial sujeito de direitos perante os seus progenitores e perante a sociedade, de que só não vem a fazer parte, porque num dado passo lhe cortaram o processo de crescimento.

Vejamos o que acontece no ventre das mães:

Nas 2 primeiras semanas os 46 cromossomas do zigoto conferiram-lhe uma identidade genética.
Na 3ª semana o coração já bate no embrião nos seus pequenos 3mm.
Na 4ª semana surge a abertura da boca. Começa a formar-se os olhos, ouvidos internos.
Na 5ª semana surgem os traços faciais. Os olhos já tê retina e cristalino. Mãos e pés são aparentes.
Na 6ª semana já tem 12 a 15mm. Surgem as saliências auriculares. Já se recortam os dedos.
Na 7ª semana tem tiróide, glândulas salivares, brônquios, pâncreas, canais biliares e ânus.
Na 8ª semana acaba o período embrionário. Os primórdios dos principais órgãos estão formados.
Na 9º semana tem 5cm. Engole, mexe a língua e chucha no dedo.
Na 10ª semana começam a forma-se as unhas e dentes. Abre e fecha os olhos e emite sons.

 Que o "Juramento de Hipócrates" e a sequência biológica do desenvolvimento do feto no ventre materno sirva para acordar consciências neste Portugal envelhecido, bem necessitado do nascimento de novas gerações, porque a continuar o trilho humano por onde caminhamos, neste aspecto fundamental do rejuvenescimento pátrio estamos a correr o risco de perdermos importância no concerto universal, não nos servindo de desculpa ser este fenómeno comum noutras paragens, porque nos compete olhar pela nossa casa.

É um desconchavo que a lei do aborto aprovada entre nós sirva, como se fosse um produto anticoncepcional, pelo abuso que ela se faz... o que prova que em Portugal a deriva que se pratica é um acto a raiar o crime, esquecidos como andamos que pessoa humana de acordo com a biologia molecular, a embriologia médica e a genética nos diz, cientificamente, que a vida começa com a fusão do espermatozóide e o óvulo, a que se chama a fecundação, que desde logo com o ingresso do espermatozóide no gâmeta feminino, implica o seu DNA fundido no zigoto, cuja célula possui uma identidade genética própria, diferente da que pertence aos que lhe transmitiram a vida, e a capacidade de regular o seu próprio desenvolvimento, o qual, se não for interrompido, passará por cada um dos estágios evolutivos do ser vivo, até a sua morte natural.

E se, "os bem pensantes" pensassem nisto?



(1)  - Hipócrates nasceu em  Cós, 460 e faleceu em Tessália, 377 a.C.  É considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado "pai da medicina". Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde.

Nascido numa ilha grega, os dados sobre sua vida são incertos ou pouco confiáveis. Parece certo, contudo, que viajou pela Grécia e que esteve no Oriente Próximo.
Nas obras hipocráticas há uma série de descrições clínicas pelas quais se pode diagnosticar doenças como a malária, papeira, pneumonia e tuberculose. Para o estudioso grego, muitas epidemias relacionavam-se com factores climáticos, raciais, dietéticos e do meio onde as pessoas viviam. Muitos de seus comentários nos Aforismos são ainda hoje válidos. Seus escritos sobre anatomia contém descrições claras tanto sobre instrumentos de dissecação quanto sobre procedimentos práticos.

Foi o líder incontestável da chamada "Escola de Cós". O que resta das suas obras testemunha a rejeição da superstição e das práticas mágicas da "saúde" primitiva, direccionando os conhecimentos em saúde no caminho científico. Hipócrates fundamentou a sua prática (e a sua forma de compreender o organismo humano, incluindo a personalidade) na teoria dos quatro humores corporais (sangue, fleugma ou pituíta, bílis amarela e bílis negra) que, consoante as quantidades relativas presentes no corpo, levariam a estados de equilíbrio (eucrasia) ou de doença e dor (discrasia). Esta teoria influenciou, por exemplo, Galeno, que desenvolveu a teoria dos humores e que dominou o conhecimento até o século XVIII.

Sua ética resume-se no famoso Juramento de Hipócrates.


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