D. João II
Gravura publicada pela Revista "O Occidente" nº 273 - de 21 de Julho de 1886
Pela Fé e pelo Império
Esta foi a divisa que "menino e moço" aprendi e acarinhei até ao tempo da razão adulta, quando me foi dado ver mais longe quanto ao motivo que nos levou à gesta das Descobertas - feito notável do Portugal marinheiro de que muito nos orgulhamos e fez de nós uma Pátria respeitada no concerto internacional do tempo exacto em que tal facto aconteceu e, ainda hoje, é motivo de orgulho nacional - devendo, no entanto, termos presente que não fomos até aos confins do Mundo, apenas para dilatar a "Fé e o Império", porquanto, nos moveram actos de riqueza que pudesse enriquecer um Portugal pobre e sem recursos materiais.
Ainda hoje somos assim.
A velha gravura do rei D. João II, é um retrato fiel da nossa asserção ao mostrar o monarca à frente de um mapa onde se mostram caravelas - onde se lê: ÁFRICA - e que já haviam chegado sob as ordens do Infante D. Henrique até às montanhas da Serra Leoa, mas que morto este em 1460 havia deixado toda a costa abaixo por desbravar, pelo que, o autor da gravura mostra D. João II, tendo nas costas uma arca de tesouro colocado em repouso - figurando as conquistas do Henrique, o Navegador - mas tendo debaixo do braço uma nova arca onde ele queria guardar o que faltava descobrir, acima de tudo para enriquecer Portugal em detrimento da dilatação da Fé e do Império.
Entronizado em 1482, desde logo iniciou a exploração da costa da Mina, onde instalou uma feitoria com a construção do Castelo de S. Jorge da Mina e Golfo da Guiné, continuando a saga do seu tio-avô D. Henrique, começando por "adjudicar" sob uma tença anual feita ao Reino a continuação da empresa a um certo Fernão Gomes - senhor da Guiné - que veio a explorar parte da costa até à Costa do Ouro, a partir do qual, a seu mando, começou a empreender a busca do caminho para a Índia e assim, em 1484 Diogo Cão descobre a foz do Congo e explora a costa da Namíbia, em 1488 Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança, tendo colocado Álvaro de Caminha a colonizar as ilhas de S. Tomé e Príncipe, enquanto por terra Pêro da Covilhã a Afonso de Paiva se intrometem até à Abissínia, em busca do lendário Preste João para fornecerem ao rei a possibilidade de se chegar à India por mar, empresa que tomou a peito a partir de 1495
Manda a verdade histórica dizer que as naus das Descobertas enfunavam a velas mostrando "aos mares nunca navegados" a Cruz de Cristo, mas manda a verdade, aquela que sinto, que a causa principal de tantos marinheiros terem morrido nas longas e inóspitas viagens, foi a conquista das riquezas que se adivinhavam naquelas paragens, onde a Fé, que ficou - e isto também é verdade - foi uma consequência em vez de ter sido uma causa primeira.
Costuma dizer o povo: "O seu a seu dono", ou seja, a verdade a quem pertence, seja ela individual ou colectiva, o que neste caso, verdadeiramente, me leva a pensar que fomos "além do Bojador" porque para lá haviam riquezas que importava trazer para Lisboa, como aconteceu com o ouro do Brasil.
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