Galileu - quadro de Félix Penha
in, Revista "O Occidente" de 11 de Janeiro de 1893
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Na imagem, Galileu tenta fazer valer a sua lei científica a um dignitário da Igreja Católica que se lhe opunha e o fez ajoelhar perante a Inquisição sem que para tal tivesse razão.
É a verdade histórica que manda dizer isto.
Ninguém de per si ou em grupo é infalível quanto às suas ideias, como aconteceu com a Igreja Católica do tempo de Galileu Gallilei, porquanto, Galileu defendia a tese fundada em Copérnico, asseverando que a Terra não ficava no centro do Universo mas orbitava o Sol, enquanto a Igreja ao defender o contrário com uma interpretação literal da Bíblia não aceitavando aquela tese como uma verdade absoluta, mas apenas, como uma hipótese, facto que obrigou o cientista a negar publicamente as suas ideias no ano de 1633.
O Santo S. Joâo Paulo II, em 31 de Outubro de 1992 reconheceu o erro da Igreja cometido contra o homem que é considerado o "pai de ciência moderna" enquanto, matemático, astrónomo e físico, e foi um dos primeiros a estudar os céus utilizando um telescópio através do qual manteve inalterada a sua verdade que o fez sentar ante as ordens do Papa Urbano VIII no Tribunal da Inquisição.
Motivo?
O facto da Igreja aceitar como verdade sem qualquer possibilidade de contradita uma afirmação exarada em (Josué 10, 12-13) Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aia¬lon.» E o Sol deteve-se, e a Lua parou até o povo se ter vingado dos seus inimigos, o que para Galileu era uma forma incorrecta de interpretar a Palavra de Deus, que sendo para ele o Livro infalível da Verdade estava sujeito às falhas interpretativas dos homens.
Foi esta controvérsia que levou António Gedeão a consagrar ao velho homem da ciência humana do século XVII o celebrado poema:
Poema para Galileo
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileu! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios).
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileu Galilei!
Olha. Sabes? Lá na Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da
praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu
Estava agora a lembrar-me, Galileu,
daquela cena em que tu estavas centado num
escabelo
e tinhas à tua frente
um guiso de homens doutos, hirtos, de toga e de
capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio
mordiscava os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e
das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece-me que
estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor,
que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu
pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileu!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores
deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões
de braços,
andava a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilômetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileu Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso, estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão direta dos quadrados dos tempos.
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