Um dos
contos mais célebres de Alexandre Herculano que ele publicou nas "Lendas e
Narrativas" é o que nos dá conta da construção da abóbada do
Mosteiro da Batalha.
Ao que parece, o insigne historiador foi inspirado por um relato antigo de Frei Luís de Sousa que na sua "História de S, Domingos", relata uma história que os frades da Batalha contavam, dizendo que a abóbada da Casa do Capítulo caíra três vezes no momento em que haviam sido retirados os cimbres.
Isto bastou para Herculano urdir o conto.
Do
ponto de vista da História de Portugal, sabe-se que desde o momento em que conquistou o
trono, D. João I encarregou o arquitecto Afonso Domingues
para delinear e dirigir a construção de uma obra monumental que glorificasse
perante os vindouros a inesquecível Batalha de Aljubarrota.
De imediato o arquitecto traça o projecto e a obra é iniciada, tendo arcado com o contratempo de mestre Afonso ter ficado cego no ano de 1401, num tempo em que a famosa abóbada da Casa do Capítulo aguardava a sua construção.
O rei, aconselhado pelos seus homens de confiança, retira mestre Afonso - que podia ter continuado a dirigir a obra segundo o seu plano - e chama para o substituir o arquitecto irlandês, Ouguet, que procede à alteração do projecto incluindo o da abóbada, que logo que terminada a sua construção desaba perante a raiva impotente do irlandês, um facto que fez D. João I retroceder e voltar a chamar o Mestre Afonso, restituindo-lhe o emprego que este acabou por aceitar perante as muitas desculpas do rei.
Concluída a abóbada de acordo com o plano inicial, Afonso Domingues, segundo a lenda, posta-se durante três dias em jejum absoluto, deitado bem no centro da obra, onde acabaria por morrer, mas tendo dito pouco antes de expirar:
"A
abóbada não caiu, a abóbada não cairá".
O que
moveu a pena de Alexandre Herculano foi a distinção que ele quis fazer da
mestria do arquitecto português ante o estrangeiro, numa clara afirmação
nacionalista da raça e da cultura portuguesa, tendo a lenda um cunho de
verdade.
Relembrar
isto, no tempo que corre é um dever nacional, porquanto correm por aí ventos de
desnorte que não raro deixam de fazer valer aquilo que é nacional - seja nas
artes ou em qualquer outra actividade - para colocar em primeiro plano o que é
estrangeiro, pondo-nos a viver, desse modo, algo estrangeirados dentro do velho
Portugal que se tornou independente no século XII, para o voltar a fazer no século
XVII, pelo que puxar para cima o brio dos portugueses é um dever que cabe a
cada um de nós.
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