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domingo, 28 de junho de 2015

O liberalismo - dito democrático - dos nossos dias...




"HORAS DE PAZ" é uma obra publicada em dois volumes - e, hoje, pouco conhecida - do grande e multifacetado talento de Camilo Castelo Branco, que assim a chamou para ilustrar, no tempo em que a escreveu (1855) - tinha então 30 anos - alguma paz interior, que é algo que num dia qualquer da existência, por muito tumultuosa que seja, se sente, pelo facto do homem ser um misto de carne e espírito e, quando este, se alteia por cima dos desmandos da carne é o fautor, por excelência, da formusura da sua condição natural.

No 1º volume desta Obra - Cap. VII - sob o título "Do Papa e do seu poder temporal", dando veia larga ao polemista que ele foi, refutando um aritgo publicado com o mesmo título nos nºs 4 e 5  do jornal literário de ideias liberais "A Península" que se publicou no Porto, Camilo Castelo Branco num dado passo escreve assim:

Se abris um livro, se estudais um artigo, se dissecais um pensamento dessa prodigiosa biblioteca de modernos civilizadores, para logo se vos aclara a ideia inspiradora de seus sistemas,  e vedes o desvelo incansável e fervoroso de todos eles, resumido na palavra ASSOCIAÇÃO todas as venturas constituintes da felicidade do povo.
Associação industrial, associação agrícola, associação comercial, associação mercantil, associação literária, associação à luz do dia, associação nas trevas da noite - é tudo associação, menos "associação religiosa".

E sarcástico como era seu timbre, Camilo continua a zurzir nas ideias liberais de cariz coercitivas, dizendo:

Nisto, manda a razão confessar que não são contraditórios os que se intitulam amigos do "género humano".
Apostados em desviar os discípulos da escola estacionária dum espiritualismo sobre-humano, convém aos "mestres" fazê-los carne, embrutecê-los na vida dos sentidos, acorrentá-los às sensações externas, materializá-los, enfim. (...)



Passaram 160 anos desta crítica de Camilo aos "mestres" do Liberalsmo e todas as suas palavras estão mais actuais que nunca, porque nestes tempos "democráticos" - que deviam ser e não o são na pureza que a verdadeira Democracia defende - as ideias liberais continuam a ser a cama onde se deita esta "democracia" doente.

E, ainda, que sejam permitidos movimentos religiosos gregariamente associativos - porque deles depende, em grande medida o bem colectivo às pessoas marginalizadas que o Estado esquece - este mesmo Estado liberal que se diz "democrático" faz a todo o custo tentativas de desviar os discípulos da escola estacionária dum espiritualismo sobre-humano, no dizer de Camilo, que ao falar deste modo, diz às claras - para quem o quer entender - que a escola estacionária nos aspectos da matriz em que assenta o seu "Credo" não pode ir além dos ditames do seu Fundador que lhe ditou Leis Eternas que têm de resistir aos liberalismos de qualquer tempo.

Pelo que é um "crime" que o nosso Estado ou qualquer outro dos nossos dias comete:

  • Quando aposta em desviar o homem do espiritualismo sobre-humano, ou seja, aquele que está acima da razão do cálculo matemático das sebentas escolares,
  • Quando aposta em fazer do homem um arcaboiço metido num pedaço de carne,
  • Quando aposta  em embrutecê-los na vida dos sentidos,
  • Quando aposta em acorrentá-los às sensações externas.

Prova esta pequena análise em cima dum velho escrito das "HORAS DE PAZ" do grande escritor, que ele - que conheceu tantas horas amargas - num dado momento da sua vida aquietou a turbulência da sua vida para ter um encontro de paz com Deus e que as suas velhas palavras continuam a ser setas atiradas ao nosso tempo, apostado, sobremaneira, em matar toda a vida do sentido religioso e em seu lugar, enchê-la dos prazeres da carne que depois de morta é um monte de pó sem qualquer valor, enquanto o sentido religioso do homem e a sua abertura ao transcendente não morre com a finitude da carne.

Um facto que os "mestres" dos liberalismos de ontem e de hoje, propositadamente esquecem para impor a sua "lei" aos distraídos e, manhosamente, aos que se apegam à escola estacionária de que nos falou e bem, Camilo Castelo Branco.


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