Volta do Trabalho - (clihé de Marques Abeu)
in. Revista "Occidente" de 20 de Fevereiro de 1914
Um punhado de rosas em lembrança daquelas esforçadas mulheres que nas aldeias portuguesas dos princípios do século XX arrostaram e venceram crises económicas, mas tendo de sobra valores para os dar aos tempos de hoje, tão necessitados deles!
Porque, tal como a mulher da foto -  descalça pela miséria dos tempo, mas linda nos seu trajar simples e lavado - ainda assim as conheci nos tempos em que "menino e moço" visitava a aldeia onde nasci e, sempre, admirei o porte, a alegria e a força das santas mulheres - minhas avós - que via regressar ao fim das tardes do cultivo das veigas ou dos socalcos que eram aplanados nas encostas dos montes.
As suas imagens dos tempos em que ia nas "férias grandes" beber o ar puro da minha aldeia serrana ficaram para sempre presentes na minha retina, hoje algo embaciada pelos anos.
Esta recordação foi realçada ao folhear um exemplar da bela Revista que foi a "Occidente", e aquela mulher que regressa do trabalho de enxada ao ombro fez que a minha lembrança voltasse para trás, agradecido a Deus e à sociedade que paulatinamente foi melhorando as condições da vida humana, que naquele tempo era quase uma escravatura que a bondade levava a rir.
Fui testemunha disso, daquela bondade sofrida onde eu vi, sempre, na pureza do olhar e, até das graças onde ferviam cantigas - em todas as que conheci - revejo-as na poesia "Gentil Camponesa" do Poeta popular António Aleixo que transcrevo, rezando por todas elas a bela oração da minha infância e que nunca esqueci.
As suas imagens dos tempos em que ia nas "férias grandes" beber o ar puro da minha aldeia serrana ficaram para sempre presentes na minha retina, hoje algo embaciada pelos anos.
Esta recordação foi realçada ao folhear um exemplar da bela Revista que foi a "Occidente", e aquela mulher que regressa do trabalho de enxada ao ombro fez que a minha lembrança voltasse para trás, agradecido a Deus e à sociedade que paulatinamente foi melhorando as condições da vida humana, que naquele tempo era quase uma escravatura que a bondade levava a rir.
Fui testemunha disso, daquela bondade sofrida onde eu vi, sempre, na pureza do olhar e, até das graças onde ferviam cantigas - em todas as que conheci - revejo-as na poesia "Gentil Camponesa" do Poeta popular António Aleixo que transcrevo, rezando por todas elas a bela oração da minha infância e que nunca esqueci.
MOTE 
 Tu és pura e imaculada, 
 Cheia de graça e beleza; 
 Tu és a flor minha amada, 
 És a gentil camponesa. 
 GLOSAS 
 És tu que não tens maldade, 
 És tu que tudo mereces, 
 És, sim, porque desconheces 
 As podridões da cidade. 
 Vives aí nessa herdade, 
 Onde tu foste criada, 
 Aí vives desviada 
 Deste viver de ilusão: 
 És como a rosa em botão, 
 Tu és pura e imaculada. 
 És tu que ao romper da aurora 
 Ouves o cantor alado... 
 Vestes-te, tratas do gado 
 Que há-de ir tirar água à nora; 
 Depois, pelos campos fora, 
 É grande a tua pureza, 
 Cantando com singeleza, 
 O que ainda mais te realça, 
 Exposta ao sol e descalça, 
 Cheia de graça e beleza. 
 Teus lábios nunca pintaste, 
 És linda sem tal veneno; 
 Toda tu cheiras a feno 
 Do campo onde trabalhaste; 
 És verdadeiro contraste 
 Com a tal flor delicada 
 Que só por muito pintada 
 Nos poderá parecer bela; 
 Mas tu brilhas mais do que ela, 
 Tu és a flor minha amada. 
 Pois se te tenho na mão, 
 Inda assim acho tão pouco, 
 Que sinto um desejo louco: 
 Guardar-te no coração!... 
 As coisas mais belas são 
 Como as cria a Natureza, 
 E tu tens toda a grandeza 
 Dessa beleza que almejo, 
 Tens tudo quanto desejo, 
 És a gentil camponesa 
in "Este
Livro que Vos Deixo..."


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