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segunda-feira, 8 de junho de 2015

Dafne, a sibila Délfica no tecto da Capela Sistina. Por que está lá?


(pintura de Miguel Ângelo em 1509)

Ao todo Miguel Ângelo retratou cinco sibilas no tecto da Capela Sistina.
  • Sibila de Cumas, sacerdotisa de Apolo;
  • Prisca, a sibila Eritréia
  • Dafne, a sibila Délfica
  • A sibila Líbia
  • Sambeta, sibila Pérsica
De todas elas a mais conhecida é Dafne a sibila Délfica que com as outras quatro são personagens da mitologia greco-romana, sendo descritas como mulheres que sob inspiração de Apolo - o patrono do Oráculo de Delfos - possuíam poderes proféticos o que levou o pintor Rafael a pintar sibilas numa capela da Igreja romana de Santa Maria della Pace, cujo tema é a Ressurreição de Jesus.

Consta-se que Miguel Ângelo a quem, por convite do Papa Júlio II foi encomendada a pintura do tecto da Capela Sistina, contrariou a vontade do Papa que o queria ver decorado com a pintura dos doze Apóstolos, tendo no espaço que lhe seria destinado executadas as pinturas de sete profetas do Antigo Testamento, que segundo alguns estudiosos representam os sete dons do Espírito Santo, intercalando-os com a representação da cinco silbilas gregas, as apregoadas profetizas do mundo pagão grego-romano, ocupando a sibila Délfica um lugar que a coloca defronte do profeta Joel, tendo ao centro o profeta Zacarias.

Esquema pictórico do tecto da Capela Sistina (Assim chamada em honra do Papa Sisto IV)

O que levou Miguel Ângelo a trazer imagens pagãs para aquele local?

Presume-se que, em obediência a uma crença generalizada desde a Idade Média segundo a qual a filosofia grega era uma antecipação da Mensagem de Cristo, donde se concluía que os profetas apontavam para o advento da Igreja judaica e as sibilas para a Igreja global.
Esta ideia veio a ter a sua expressão mais nítida na Quarta Écloga do poeta Virgílio (70 a.C.-19 a.C) que é tida como uma referência a Jesus e na qual existem conotações cristãs, quando ainda se esperava que Jesus nascesse como havia sido predito pelos profetas, como Miquéias e Isaías.

Diz assim, Virgílio:

Eis que retorna a virgem
Uma nova raça humana a descer das alturas do céu
O nascimento de uma criança, com a qual a idade de ferro da humanidade
Chega ao fim e uma idade de ouro se inicia
Sob a tua orientação, por mais que restem vestígios de nossa antiga podridão,
Uma vez livre dela, a terra estará liberta de seu medo incessante
Por ti, ó menino, a terra sem ser arada
Há de dar frutos infinitos
O teu mesmo berço há de derramar por ti
Ternas flores. Também a serpente há de morrer
Aceita as tuas grandes honras, pois em breve chegará o tempo,
Doce filho dos deuses, grande herdeiro de Júpiter
Vê como ele se abala – o poder abobadado do mundo.
A terra e o vasto oceano e as profundezas do céu
Tudo, vê, tomado de alegria pela era que nasce.


Como é facilmente detectado existem elementos bíblicos neste texto, como a - "virgem" - "o nascimento de uma criança" - e a ideia de - um novo céu e uma nova terra, no termo: "chega ao fim e uma idade de ouro se anuncia" e o relato de outros eventos, embora conotados com os deuses gregos, têm implicações com o único e verdadeiro Deus.

Por fim, uma pergunta que jamais terá resposta.
Por que razão o Papa Júlio II deixou que vencesse contra a sua ideia, a opinião de Miguel Ângelo que no seu trabalho isolado de quatro anos, não pintou os doze Apóstolos?

Nunca o saberemos.


Mas corre um relato que dá conta de Miguel Ângelo que se considerava mais escultor que pintor, ter obedecido contrariado à encomenda do Papa Júlio II, quando ele o tinha chamado a Roma para lhe fazer o seu próprio mausoléu que hoje encontramos na Basílica da San Pietro in Vincoli, decorado pela famosa estátua de Moisés da autoria de Miguel Ângelo, constituindo o conjunto uma primorosa obra de arte estatuária.

O mesmo relato dá conta - e aqui entra talvez a fantasia - que o Papa Júlio II teria agido de conluio com os pintores, seus rivais, para o desviar da obra do mausoléu, e que este motivo foi decisivo para não fazer a vontade papal e dar às sibilas a honra de figurarem no tecto, correspondendo assim, aos seus dons proféticos, antecipadores da vinda de Jesus e da Igreja das Nações que Ele viria a fundar.

Seja isto - verdade ou não - o que é verdade é que Miguel Ângelo entregou-se de tal forma ao seu trabalho que pintou o obra maior da pintura de todos os tempos.


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