Caim e Abel
Tela de Giovanni Domenico Ferretti
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Num dia que se perde na primeira aurora dos Tempos de acordo com o relato bíblico a voz de Deus fez-se ouvir em Caim, perguntando-lhe:
- Onde está o teu irmão Abel?
Recebeu do primeiro assassino que a História da Humanidade regista a seguinte resposta, cobardia, fugidia e manhosa:
-Não sei! Porventura sou o guarda de meu irmão?
E foi assim que começou a irresponsabilidade humana de um homem sobre a sorte do outro a que acresce, neste caso, o facto de se tratar de alguém que era irmão de sangue daquele que jazia morto, vítima da sua monstruosidade.
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No tempo que passa, esta história tem todo o sentido, porque o pensamento do homem massificado por uma sociedade que deixou de respeitar os valores que estiveram subjacentes na pergunta de Deus a
Caim, parece querer deixar ao abandono a fraternidade humana e, no entanto, continua a impor-se, entre nós a pergunta longínqua de Deus:
- Onde está o teu irmão?
E não vale - nunca mais nos pode valer! - a resposta cobarde
de Caim, porque a humanidade do nosso tempo que precisa
urgentemente de encontrar referências de Deus, por enfermar deste mal e, no
entanto, na linha humana cada homem está ligado ao outro pelo cordão umbilical
da fraternidade e do amor presente desde o primeiro instante da Criação.
Deus, como diz o texto bíblico repreendeu severamente Caim pela
resposta que além de ser mentirosa era desumana porque não respondia à questão
essencial, ou seja, quando lhe devia dar conta da morte que dera a Abel, perdeu-se em
evasivas e subterfúgios.
A cena, com outros contornos acontece, hoje, suspensa de uma pergunta que nos devia inquietar:
- Que fizeste do teu irmão?
Não o matei, diremos... e falaremos verdade...
Porém, se ponto de vista social em nada contribuímos para
lhe darmos uma vida melhor seremos culpados pela morte prematura dos seus
ideais, dos seus sonhos, das suas aventuras.
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