Renúncia
Fui nova, mas fui triste... Só
eu sei
Como passou por mim a
mocidade...
Cantar era o dever da minha
idade,
Devia ter cantado e não
cantei...
Fui bela... Fui amada e
desprezei...
Não quis beber o filtro da
ansiedade.
Amar era o destino, a
claridade...
Devia ter amado e não amei...
Ai de mim!... Nem saudades, nem
desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor
de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis
prender...
E o que me resta?! Uma amargura
infinda...
Ver que é, para morrer, tão
cedo ainda...
E que é tão tarde já, para
viver!...
Eu que cheguei a ter essa alegria
Eu que cheguei a ter essa
alegria
de junto ao meu possuir teu
coração!
Eu que julgava eterna a duração
do voluptuoso amor que nos
unia,
sou ‒ apagada a última ilusão,
morto o deslumbramento em que
vivia,
— um cego que ao lembrar a luz do dia
sente mais negra ainda a
escuridão.
Tu me deste a ventura mais
perfeita,
perdi-a e dei-te a chama
insatisfeita
dessa imensa paixão com que te
quis…
Hoje, o que eu sinto, inútil,
revoltada,
não é mágoa de ser desgraçada,
— é pena de
ter sido tão feliz.
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Ante estes dois sonetos dessa ilustre filha de Alcobaça que a Literatura Portuguesa conhece pelo nome de Virgínia Vitorino, apetece fechar os olhos, reflectir na sua mensagem e render silenciosamente uma homenagem sentida à poetisa e dramaturga, agraciada pelo Governo português em 1929 e 1932 e pelo Governo espanhol em 1930 e, hoje, indevidamente esquecida por um Poder que não preza a Cultura nem o nome dos que lhe deram a Verdade do seu nome.
Deus que é bom e conhece todas as criaturas que passaram e souberam escrever o seu Nome, tenha no assento etéreo e no lugar devido a chama da sua alma que foi um lume que se apagou no tempo que lhe foi dado viver, mas cujo calor continua a viver nas suas poesias, como estas que são um marco existencial que continua a marcar caminhos.
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