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domingo, 28 de maio de 2017

"RESGUARDO" - Um poema de Miguel Torga



RESGUARDO

Quero-te num poema.
Viva e transfigurada,
Sentada
No banco dum jardim
De versos outonais,
A ver nos horizontes irreais
Sumir-se o tempo, o burlador
Do amor,
Que diz que volta, mas não volta mais.

(Chaves,  12 de Setembro  de 1983)


Este poema "RESGUARDO" que Miguel Torga nos legou desde Chaves, num daqueles dias, dos muitos em que calcorreou as cidades e vilas de Portugal com o fim de conhecer o povo nos seus diversos cambiantes naturais, é uma bela imagem literária.

Na sua imaginação e liberdade poética o artista da palavra desejava ver a sua poesia longe dos olhares da multidão, mas "viva e transfigurada"  e desejou vê-la "sentada"  num banco de jardim em que, os "versos outonais" - tendo voado as folhas do arvoredo por força da estação natural -  deixassem ver  melhor os horizontes na largura do seu olhar...

E para quê?

Simplesmente para ver sumir-se naquele horizonte outoniço - lembremos que a poesia tem a data de 12 de Setembro -  o tempo do amor que ele via passar e que, ao contrário do tempo natural que na próxima Primavera havia de voltar a cobrir de folhas as árvores do jardim, o tempo do amor é um "burlador" porque diz que volta... "mas não volta mais".

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