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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Augusto Casimiro (1889-1967)



Capa do Livro "Naulila" da autoria do capitão-Poeta Augusto Casimiro.
O nome advém de uma povoação do sul de Angola, onde no dia 18 de Dezembro de 1914 se travou uma batalha entre as forças portuguesas e alemãs, que na época mantiveram ambições pela conquista daquele território.
 
 
De seu nome completo Augusto Casimiro dos Santos, nasceu em Amarante no ano de 1889, localidade onde decorreram os seus estudos iniciais até ao então 5º ano liceal, continuados em 1904 na cidade de Coimbra, pelo facto de ter decidido seguir a careira militar, no Regimento de Infantaria de Coimbra, onde a par da carreira universitária acedeu ao Curso da Escola do Exército - ramo de Infantaria - graduando-se em 1909.
Bem cedo a tendência literária ocupou o seu espírito, colaborando na imprensa escrita em 1910, época em que aderiu, convictamente, aos ideias republicanos que então assomavam no panorama político nacional.
Como militar participou na I Guerra Mundial no fim da qual exerceu o professorado no Colégio Militar, a que se seguiu a sua ida para Angola onde exerceu as funções de Governador do Distrito do Congo durante o decorrer da década 20/30 do séc. XX., funções que o levaram a escrever sobre a temática colonial, a ponto - depois de se terá afastado da Ditadura, em 1930 - participou no movimento militar que ficou conhecido como "Revolta da Madeira" em 1931, que motivou a sua deportação para Cabo Verde para a ilha de Santiago e S. Nicolau.
Amnistiado em 1936, regressou ao Continente e reintegrado no Exército, tendo mantido a sua oposição ao Estado Novo, integrando o M.U.D. onde apoiou Norton de Matos e, mais tarde (1958) Arlindo Vicente à Presidência da República.
Da sua vasta colaboração literária na imprensa, destaca-se, entre muitas, as seguintes publicações:
 
- "A Águia" (1914-1930); "Atlântida"(Portugal-Brasil. 1915-1920); "Diário de Notícias"; "Diário de Lisboa" (1909-1911); "Gente Nova"- (Coimbra, 1912-1913); "Ideia Livre" (Porto, 1911-1916); "Ilustração Popular (Porto, 1908-1909); "A Manhã" (Lisboa, 1917- 1922); "Mocidade Africana" (Lisboa, 1930-1932); "Panorama" (1940); "Portas do Sol" (Santarém, 1917); "Portucale" (Porto, 1928-1966).

Entre outras, publicou as seguintes obras:


"Para a Vida" 1906; "A Vitória do Homem" 1910; "A Tentação do Mar" 1911; "A Evocação da Vida" 1912; "O Elogio da Primavera" 1912; "A Primeira Nau" 1912; " À Catalunha" 1914; " Primavera de Deus" 1915; "A Hora de Nun'Álvares – versos"  1916; "Nas trincheiras: fortificação e combate" (co-autoria com Mouzinho de Albuquerque) 1917; "Nas Trincheiras da Flandres" (com desenhos de Diogo de Macedo e Cristiano Cruz), 1918; "Sidónio Pais": algumas notas sobre a intervenção de Portugal na Grande Guerra, 1919 ; "Calvário da Flandres": 1918, 1920; "O Livro das Bem Amadas" 1921; "O Livro dos Cavaleiros" 1922; "Naulila" 1914, 1922; "A Educação Popular e a Poesia" 1922; "África Nostra" 1923; "Nova Largada" – Romance de África, 1929; "Ilhas Crioulas" 1935; "A Alma Africana" 1936;" Paisagens de África" 1936; "Cartilha Colonial" 1937; "Momento na Eternidade" 1940; "Portugal Crioulo" 1940; "A Vida Continua" 1942; "D. Teodósio II" [trad. do castelhano, da obra de D. Francisco Manuel de Melo], 1944; "O Segredo de Potsdam" 1945; "Lisboa Mourisca" 1147-1947, 1947; "Portugal na História" 1950; "S. Francisco Xavier e os Portugueses" 1954; "Portugal Atlântico – Poemas da África e do Mar" 1955; "Dona Catarina de Bragança: Rainha de Inglaterra, filha de Portugal" 1956; "Angola e o Futuro" alguns problemas fundamentais• Obra Poética de Augusto Casimiro (prefácio de José Carlos Seara Pereira), Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2001;"A Ocupação Militar da Guiné, na História da Expansão Portuguesa no Mundo, vol.III, Lisboa, 1942, pp. 359-362.

Augusto Casimiro faleceu a 23 de setembro de 1967, em Lisboa. Encontra-se no talhão dos combatentes no cemitério do Alto de São João.


Foi prosador e poeta de grande valia, destacando-se com o seu verso vibrante onde levava a alma lusíada a cantos pátrios de grande relevância no famoso Livro: "A Hora de Nuno Álvares", como é exemplo - e profundo - este soneto:

A que eu adoro teve o Amor de quantos
Por muito a amar, a História coroou:
Heróis, poetas, missionários, santos,
Filhos de Portugal qua a Glória amou.
 
Teve-lhe amor Nuno Álvares. Cantou
Luís de Camões o amor dos seus encantos,
Por ela a Gente fora ao Mar. Eu sou
Marinheiro, poeta como tantos...
 
Ó Bem-Amada, - eu amo-te na imagem
Da minha Terra, a idílica paisagem
Doce e religiosa que sorri.
 
E hei-de noivar contigo, Pátria! quando,
Herói por teu Amor, tombar cantando
No teu regaço, a combater por ti!
 
 
Mas é, no Livro "A Vitória do Homem" que a alma de Augusto Casimiro se agiganta com as perguntas que faz a si mesmo e à Natureza que o criou artista da palavra e o homem da luta onde o perfil militar assentou praça a favor de ideais de liberdade e de justiça humana, razão, porque, no soneto "O Poeta e a Nau", o seu ideal contrário à Ditadura cantou deste modo:

 
Vai errante, no Mar, uma nau sem governo...
O oceano é chão, o céu azul fundido em aço...
As velas mortas... Nem sequer vento galemo
As vem inchar para dormir no seu regaço!...

Sobre o antigo convés pesa um velho cansaço.
E, ou destino fatal ou maldição do inferno,
O mastro grande em vão aponta para o espaço...
- Sobre as ondas a nau é um cárcere eterno!

Dominando em redor, lá na gávea mais alta,
Um marujo, a cantar, fala do Além e exalta
Um passado esplendor sobre a nau sepulcral...

"Porque o vento há-de vir a aninhar-se nas velas!"
"Porque a nau voará - tocará nas estrelas!..."
- O marujo é Poeta - e a nau... Portugal!


E o Poeta nunca se conformou. O marujo do soneto foi o timoneiro que nem todos respeitaram no seu profundo amor por Portugal e, mesmo hoje, a homens ilustres como foi Augusto Casimiro, apenas lhe deram um nome de rua (Capitão Augusto Casimiro) na freguesia de S. Gonçalo, Amarante, quando homens como ele mereciam muito mais se entre nós a cultura fosse tratada como devia ser.
Ouçamos o lamento do Poeta-Capitão:


SENHOR, a noite veio e a alma é vil
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos, hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou
A mão do vento pode erguê-la, ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância
Do mar ou outra, mas que seja nossa.


Não sendo possível conquistar uma outra qualquer Distância pela lei da Física, resta-nos uma parte do mar universal e, esse sentimento que só nós temos no mundo inteiro: a saudade, que é em grande parte, uma saudade de ti, meu nobre Capitão, Prosador e, sobretudo, um Poeta de raro encanto, que um dia, num hino à mulher-Mãe, no poema "Maternidade" publicado pela "Seara Nova", onde escreveu assim:

Pelas manhãs suaves,
com o arzito das aves
Melindrosas,
Enternecidas e silenciosas,
Passam as Virgens para a Maternidade.

De mãos poisadas sobre o ventre
Vão,
Benditas sobre todas as mulheres,
Senhoras da Expectação.

Lembram-me aqueles
Imagens desterradas,
Enterradas ou despedaçadas,
Maternas, virgens e belas,
Senhoras do Ó de mãos rezadas
Sobre o ventre pejado, numa graça
De ave que poisa e ainda esvoaça.
A embalar um destino,
- Como se levassem ao colo um deus menino.

Na manhãzinha pura
E comovida,
De olhos no chão,
Nossas Senhoras da Ternura.

- Virgens porque levam no seio o amor à Vida -
Passam por mim, - vão à Maternidade.

Nossa Senhora vai no meio delas
Pisando a cobra no meio das estrelas...

- E na manhã aumenta a claridade!

 
Obrigado pela tua vida, meu caro Capitão-Poeta! 

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