Os homens compram tudo pronto nas lojas...
Mas como não há lojas de amigos, os homens não têm amigos.
Saint-Exupéry , Antoine de
Ao fazer a
paráfrase desta frase de Saint-Exupéry vem-me ao pensamento um velho conceito
de S. Tiago, o Orago da terra que me serviu de berço – Praçais - e que na sua
imensa profundidade nos diz: Amizade ao
mundo é inimizade com Deus. (Tg 4, 4)
Os homens que
compram tudo nas lojas – e tudo pronto, perfeito e acabado – nem se dão conta
que os objectos que adquirem se não tiverem a carga espiritual que preenche a
dignidade primária enquanto necessidade para o desempenho da vida, são amizade ao mundo frívolo que satisfaz
vontades, mas inimizade com Deus que
nos manda adquirir outros tesouros, com são os que se prendem com a amizade que
deve ser dada aos homens e não ao mundo concreto onde estes se cruzam.
Que não
aconteça, pois, que pelo facto de no mundo não haver lojas de amigos nos esqueçamos de os alcançar, até porque, se
cumprirmos com a honra e o dever que se impõem à nossa consciência de pessoas
compenetradas da missão que nos cabe cumprir no mundo, obtemos, com a
singularidade de o fazermos de graça – como mercê de Deus - todos os amigos que quisermos e, assim, contrariarmos
a conclusão do pensamento de Sait-Exupéry, que é, convenhamos, algo que é
preciso fazer no tempo que passa, sobretudo, agora, em que uma crise de valores
– espirituais e materiais – parece querer afundar o mundo dos homens.
Se levarmos
até ao séc. 4 a .C.,
o nosso pensamento recordemos Séneca, que a propósito dos homens que compram
tudo mas não podem comprar a amizade por ser um “produto” que não tem cotação
comercial, mas porque o velho filósofo entendia como muito valioso aquele
sentimento, nos diz: que nunca a fortuna
põe um homem em tal altura que não precise de um amigo, razão evidente que
deve lançar o nosso entendimento para a conquista da amizade, não às
frivolidades do tempo que passa – no dizer de S. Tiago – mas àquelas que se
fundam no assento espiritual de um mundo concertado e que Deus sonhou plasmar
entre o convívio dos homens.
A amizade não
é, pois, uma utopia sem sentido, porquanto, deve respeitar o sentido expresso na
célebre canção, para citarmos algo que aconteceu bem perto de nós:
Amigos para sempre é o que nós iremos ser.
Na Primavera ou em qualquer das estações,
Nas horas tristes, nos momentos de prazer.
Amigos para sempre!
Em 1992, este
foi um grito de alma – que a amizade por ser, possivelmente, o mais genuíno dos
sentimentos humanos - levou Sarah Brightman
e José Carreras a cantar desta maneira no encerramento dos Jogos Olímpicos de
Barcelona, deixando ao mundo um alvitre sonoro e vibrante para que a amizade
reinasse em qualquer das estações e não só na Primavera, quando o mundo se
enche de flores.
Eis, porque, é
preciso e urgente, porque - não há lojas
de amigos – saber que, apesar disso, existem espantosas lojas de dons espirituais onde se podem “comprar” as
fantásticas sementes da amizade que fica para sempre.
Amigos para sempre!
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