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sábado, 26 de maio de 2018

EUTANÁSIA? - Não mates, cuida!


in, "Effathá"
Boletim Semanal da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica
ano 2 nº 120 - Domingo da Santíssima Trindade - 27/05/2018

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A "Federação Portuguesa pela Vida" tendo como lema "Toda a Vida tem Dignidade" vai organizar uma concentração de apoiantes
 no próximo dia 29 de Maio, dia em que na Assembleia da República muitos dos deputados que elegemos para cuidar da vida dos portugueses, especialmente dos que ajudaram com o seu exemplo a manter viva a chama de Portugal à luz da honra e da moral - que não conhece credos religiosos - agora que a vida se esfuma, para pedir aos detentotes do poder executivo no momento em que estes se predispõem para lhe dar, numa troca - embora a pedido - uma "morte assistida" em vez dos cuidados paliativos que lhe haviam de dar até ao último suspiro a dignidade de morrer.

EUTANÁSIA? - Não mates, cuida!

As palavras do cartaz são - como se quer - um modo conspícuo de chamar à atenção para as consciências dos que se deixam embarcar nesta moda importada de uma Europa acéfala e por demais cheia de vícios amorais, infractores e desrespeitadores de um Deus que passa, cuja doutrina, alguns - que são já muitos milhares - meteram no caixote do lixo das mentes distorcidas que fazem da vida humana um crédito valioso, mas apenas, enquanto são úteis para um Economia global que erigiu um novo "bezerro de ouro", um ídolo, à semelhança do que fez o povo de Israel ao convencer Arão a adorá-lo quando Moisés subiu para o Sinai para ali receber os dez Mandamentos da Lei de Deus.


EUTANÁSIA? - Não mates, cuida!

Cuida é o que é pedido e não erijas o dinheiro num novo "bezerro de ouro", porque a sociedade - seja qual seja - tem o dever de honrar a vida dos seus cidadãos enquanto a vida existir, mesmo aquela vida apagada, porque houve nela a chama estuante de uma vida plena que foi útil - ou não o tendo sido por vários motivos - mas tem de merecer o respeito e cuidados da sociedade, e deixa de viver em troca de um consentimento captado numa hora de declínio e em que a mente se deixou aquietar numa languidez que parece um prenúncio final, não o sendo.
A lei é esta: 

Ninguém tem o direito de se matar a si mesmo e a ninguém pode ser concedido o direito de acabar  - ainda que consentida - com a vida do seu semelhante.

Não vale a artimanha que está construída, porque nem tudo o que é decorrente da lei do legislador é legal perante a Lei da Vida que tem nascimento e morte até ao derradeiro instante da vida que de modo algum deve ser abreviada. 
Eis, porque, estas cogitações que faço me levaram à leitura desse célebre Poema de António Feijó, em que no seu "Hino à Morte" ele a chama de EUTANÁSIA e isso, eu percebo e advogo.

Hino à Morte

Tenho às vezes sentido o chocar dos teus ossos
 E o vento da tua asa os meus lábios roçar;
 Mas da tua presença o rasto de destroços
 Nunca de susto fez meu coração parar.

 Nunca, espanto ou receio, ao meu ânimo trouxe
 Esse aspecto de horror com que tudo apavoras,
 Nas tuas mãos erguendo a inexorável Fouce
 E a ampulheta em que vais pulverizando as horas.

 Sei que andas, como sombra, a seguir os meus passos
 Tão próxima de mim que te respiro o alento,
— Prestes como uma noiva a estreitar-me em teus braços,
 E a arrastar-me contigo ao teu leito sangrento...

 Que importa? Do teu seio a noite que amedronta,
 Para mim não é mais que o refluxo da Vida,
 Noite da noite, donde esplêndida desponta
 A aurora espiritual da Terra Prometida.

 A Alma volta à Luz; sai desse hiato de sombra,
 Como o insecto da larva. A Morte que me aterra,
 Essa que tanta vez o meu ânimo assombra,
 Não és tu, com a paz do teu oásis te terra!

 Quantas vezes, na angústia, o sofrimento invoca
 O teu suave dormir sob a leiva de flores!...
 A Morte, que sem dó me tortura e sufoca,
 É outra, — essa que em nós cava sulcos de dores.

 Morte que, sem piedade, uma a uma arrebata,
 Como um tufão que passa, as nossas afeições,
 E, deixando-nos sós, lentamente nos mata,
 Abrindo-lhes a cova em nossos corações.

 Parêntesis de sombra entre o poente e a alvorada,
 Morrer é ter vivido, é renascer... O horror
 Da Morte, o horror que gera a consciência do Nada,
 Quem vive é que lhe sente o aflitivo travor.

 Sangue do nosso sangue, almas que estremecemos,
 Seres que um grande afecto à nossa vida enlaça,
— Somos nós que a sua morte implacável sofremos,
 É em nós, é em nós que a sua morte se passa!

 Só então, da tua asa a sombra formidável,
 Anjo negro da Morte! aos meus olhos parece
 Uma noite sem fim, uma noite insondável,
 Noite de soledade em que nunca amanhece...

 Só então, sucumbindo à dor que me fulmina,
 A mim mesmo pergunto, entre espanto e receio,
 Se a tua asa não é dum Anjo de rapina,
 Se eu poderei em paz repoisar no teu seio!

 Inflexível e cego, o poder do teu ceptro
 Só então me desvaira em cruel agonia,
 Ao ver com que presteza ele faz um espectro
 De alguém, que há pouco ainda, ao pé de nós sorria.

 Mas se nessa tortura, exausto o pensamento,
 Para ti, face a face, ergo os olhos contrito,
 Passa diante de mim, como um deslumbramento
 Constelando o teu manto, a visão do Infinito.

 E de novo, ao sair dessa angústia demente,
 Sinto bem que tu és, para toda a amargura,
 A Eutanásia serena em cujo olhar clemente
 Arde a chama em que toda a escória se depura.

 É pela tua mão, feito um rasgão na treva,
 Que a Alma se liberta, e de esplendor vestida
— Borboleta celeste, ébria de Deus, — se eleva
 Para a luz imortal, Luz do Amor, Luz da Vida!

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

A morte - mas a morte natural - devia ser assim: "A Eutanásia serena em cujo olhar clemente" como diz o Poeta na penúltima quadra, a vida se devia finar no momento em que "a Alma se liberta" para voar "ébria de Deus", - não como obra de uma lei humana sem sentido - mas em obediência à Lei Eterna de Deus que deu vida a toda as criaturas e as chama "ébrias" do seu Amor quando soltaram os últimos suspiros de vidas que se finaram por elas e não por arremetidas iníquas de um decreto humano.

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