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terça-feira, 8 de maio de 2018

A "Batalha de Ourique", a polémica de Alexandre Herculano e o seu contrário



Capa do Vol. VII da "História Universal" de Cezar Cantú
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Neste desfiar de assuntos do meu "blog" - tão vários quanto pode fazer o meu poder de análise e de prospecção de temas de seriedade intelectual, quando me não perco ao entrar com toda a educação familiar que recebi, em críticas de âmbito social, só para dizer a mim mesmo que estou vivo e nada do que passa à minha volta me é indiferente - hoje, publico mais um tema histórico que se radica na fundação do reino de Portugal, captado do grande intelectual italiano - Cezar Cantú 1804 - 1895 - cuja História Universal é um Monumento Literário.

Contemporâneo do nosso historiado mais famoso, Alexandre Herculano (1810 - 1877) , que sobre o "Milagre de Ourique" que antecedeu a batalha de Ourique teceu uma opinião descrebilizadora, dizendo que o texto - do próprio rei Afonso Henriques que teve a visão de ter recebido Jesus Cristo  - era "um documento mal forjado", esta opinião entrou nas muitas polémica em que sempre se envolveu sobre a historicidade e a validação da aparição de Cristo nos alvores na nacionalidade portuguesa que passou a servir de bandeira nacional, quando esta sua atitude teve como pano de fundo a sua questão pessoal com o clero de que o livro - Eu e Clero - é uma amostra do grande problema que viveu e do qual se não libertou, achando-o impreparado e fanático a a que opôs a sua bem conhecida aversão ao ultramontanismo do tempo.

Bem mais prudente que ele foi Camilo Castelo Branco, porque para ele o que acontecera em Ourique - ao contrário de a julgar como Herculano uma questão científica - a identificou no campo lendário de uma "pia tradição" que podendo ser infundada historicamente, não era uma questão inútil por ser querida do povo ainda que, "apaixonado pelo maravilhoso", mas fazendo parte do seu acervo de herança de crenças populares em que se situavam alguns mitos onde se assentavam algumas nacionalidades, como a portuguesa, pelo que tocar numa crença amada era ferir a alma do povo, algo que Alexandre Herculano fez, sem honra nem glória, que não fosse, a de se virar contra o clero e saciar-se a si mesmo da afronta que lhe fez.

Cezar Cantú

Tudo isto serve de intróito para chamar o texto de Cezar Cantú, que longe da polémica do seu confrade português regista no seu famoso trabalho de História Universal este pedaço de prosa captado da sua obra - Cap. XIX - e que reproduzimos, devidamente tratado para o português actual:

Afonso Henriques, chegado à idade viril, recuperou os seus Estados de viva força, enclausurou sua mãe, baniu o seu padastro e se defendeu contra Afonso de Castela.

Cinco emires árabes se adiantaram contra ele à frente de 'um formidável exército; estava acampa do avista deles nas planícies do Oriente, nos confins dos Algarves, quando numa escura noite, Cristo lhe apareceu na Cruz, e lhe disse: "O exército te aclamará de Portugal, aceita; toma para tuas armas as mima cinco chagas e os trinta dinheiros, porque fui vendido, e a tua raça será gloriosa até à décima sertã geração".
Afonso fez disto a sua declaração por escrito, e sob a fé do juramento; o exército aclamou-o rei em (24 de Julho de 1139), coroando-o na célebre Vitória de Ourique que custou a vida aos cinco emires, não deixou dúvida alguma a respeito d'esta revelação.

O rei de Castela contestou a Afonso o título que acabava de obter, excepto se reconhecesse dever-lho; seguiu se uma guerra entre eles; depois apelaram para decisão do papa. Então Afonso atraiu a seu favor Bernardo, colocando o seu reino sob o padroado de Nossa-Senhora de Clairvaux, (Claraval) à qual prometeu, a título de feudo, cinquenta maravedis de ouro por ano, para que ela conservasse Portugal livre de todo o domínio estrangeiro.
Além disso fez homenagem, como vassalo, a Pedro e à Igreja de Roma, obrigando-se a um pagamento anual de quatro onças de ouro; e Alexandre III (1179) lhe confirmou o título de rei, e a posse de todas as terras, que pudesse conquistar aos Mouros.

Temos, assim, que Cezar Cantú - um católico liberal - bem longe de entrar na polémica alimentada - e mal quanto a nós por Alexandre Herculano - limitou-se a registar o acontecimento, que lendário ou não, entrou para ficar na História de Portugal.

É evidente que sobre o "Milagre de Ourique" muito se tem dito e escrito, mas o que tem de ficar de pé, é o aspecto da história como algo situado entre a realidade e o sonho, ou melhor dizendo, entre o natural e o sobrenatural, mas que enche de poesia - e como disse Camilo Castelo Branco ganhou foros de uma "pia tradição" que sem trazer mal ao mundo lhe deu um pouco mais da beleza que costumam ter as coisas simples.

E é nesse contexto que ele se tornou como um grado motivo de eleição onde assenta o primeiro reinado da Monarquia Portuguesa, tendo como realidade histórica a Batalhe de Ourique.

Batalha dura em que, segundo a história real desde as primeiras horas da manhã até noite fechada os soldados de D. Afonso Henriques se "viram a braços" com hordas de serracenos que acometiam o arraial por todos os lados, com Ismael, o chefe que comandava a primeira coluna a ser derrotado no primeiro embate e a fugir em debandada, tal era o ardor da luta com que os homens de D. Afonso os acometia, fugindo o resto do exército mouro ao ver derrotado o seu chefe, indo-lhes no encalço e tendo morto os cinco reis mouros.

Foi, então, que em capo aberto, Afonso Henriques foi aclamado Rei de Portugal, tendo de imediato resolvido que a Bandeira Portuguesa passasse a ter cinco escudos representando os cinco reis mouros vencidos.

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