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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Duas palavras sobre um poema de Miguel Torga


ESPERANÇA

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que ouve apenas o eco...
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio dum vinho herético e sagrado.

Miguel Torga


Ao homem comum  - e Miguel Torga não foi um homem destes - na sua passagem pelo arco da vida, não raro se lhe depara no dia a dia uma dicotomia que o Poeta e com razão chama um absurdo humano, ou seja, ser um anjo ou um demónio e dar consigo a beber um vinho herético e sagrado, que ora lhe sabe a um néctar sem casta de fama, ora o regala, como se bebesse um vinho de Arhanes, da ilha de Creta.

Contudo, Miguel Torga deu a este poema o nome de ESPERANÇA, o que traduz, com excelência o drama do homem comum que vive na procura de ser mais anjo que demónio, nesta luta entre o MAL e o BEM, possivelmente, a causa deste Mundo desejar - sem se saber como - beber pelo cálice profano onde se misturam estes dois sentimentos humanos... mas, sem se esquecer da ESPERANÇA de um dia vir a beber o vinho sagrado, que o torne, entre os seus iguais, mais anjo que demónio.

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