Pesquisar neste blogue

terça-feira, 25 de abril de 2017

"Devo-me à humanidade Futura" (Fernando Pessoa)



 Os Meus Sonhos São Mais Belos que a Conversa Alheia

Não faço visitas, nem ando em sociedade alguma - nem de salas, nem de cafés. Fazê-lo seria sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inúteis, furtar tempo senão aos meus raciocínios e aos meus projectos, pelo menos aos meus sonhos, que sempre são mais belos que a conversa alheia.
Devo-me à humanidade futura. Quanto me desperdiçar desperdiço do divino património possível dos homens de amanhã; diminuo-lhes a felicidade que lhes posso dar e diminuo-me a mim-próprio, não só aos meus olhos reais, mas aos olhos possíveis de Deus.
Isto pode não ser assim, mas sinto que é meu dever crê-lo.

Fernando Pessoa, 'Inéditos' (in, Citador)


De todas as frases deste pequeno texto de Fernando Pessoa retenho uma que diz assim:

Devo-me à humanidade futura.

E retenho esta frase por sentir que se todos nós neste Mundo que nos é dado viver no curto ou longo espaço de tempo, pensássemos como o celebrado autor das Letras Portuguesas, certamente, pela dignidade como devemos viver, sentindo que nos devemos a uma lembrança futura, seja no seio das nossas simples e ignoradas famílias, seja, como aconteceu com Fernando Pessoa, que sem qualquer vaidade - sentiu que a sua vivência como pessoa a que acresceu toda a arte da escrita com que encheu a vida - num dado momento existencial e com toda a justiça fazia que o seu trajecto de vida se devia dar inteiro à humanidade futura - como se deu - devia fazer dele um homem ciente de que os seus sonhos vividos silenciosamente, distantes do bulício, não o fazendo, disse ele, era sacrificar a minha unidade interior, entregar-me a conversas inúteis.

Merece um aplauso, efectivamente, esta frase: Devo-me à humanidade futura, porquanto ela devia ser um lema de vida para qualquer pessoa e fazer deste modo de viver um meio de entrar mais profundamente dentro de si mesmo, onde nos silêncios que se vivem, todos nós temos riquezas que ficam inexploradas e, depois, não deixamos à humanidade futura, seja dentro das famílias, da roda dos amigos ou da sociedade, lembranças do que não demos, tendo tido todo o tempo de o fazer, razão suficiente para ter parado a leitura quando li esta frase no texto de Fernando Pessoa.

Sem comentários:

Enviar um comentário