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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Um olhar sobre um passado ainda próximo!



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A política económica foi uma das mais belas inspirações do nosso tempo. Meter todos os interesses da grande multidão numa fórmula constituída, em partes iguais, de justiça e de sentimento, é um ideal soberbo! Mas as grandes ideias precisam de grandes homens; e, em vez disso, é a política de negócios, sem intenção e sem alcance, a que está de cima neste momento! A finança egoísta, exploradora, insaciável, triunfa em toda a linha. Na tribuna não ressoam já as grandes palavras que apaixonaram e comoveram a geração que nos precedeu; as vozes que mais valem são as que retinem, como metais, no cálculo de operações fabulosas... (...)


Parte do discurso de António Cândido sobre a moral política, proferido no Ateneu Comercial do Porto em 29 de Agosto de 1887, em reflexo do que havia feito na Câmara dos Deputados em 17 de Fevereiro de 1880, aquando da apresentação da "Vida Nova".





Espanta que há tantos anos, este tribuno tenha afirmado que as grandes ideias precisam de grandes homens e, em vez disso, é a política de negócios sem intenção e sem alcance, a que está de cima neste momento!

Lê-se isto é até parece que o tempo parou!

E, depois, num arroubo de grande lucidez política António Cândido acrescentou ao seu discurso, sem medo das palavras - isto é, mandando às malvas o politicamente correcto, que hoje é norma - para dizer que, a finança egoísta, exploradora, insaciável, triunfa em toda a linha, apontando com a coragem que se lhe conheceu e o tornou um homem famoso que na Câmara dos Deputados - como então se chamava a actual Assembleia da República - as vozes antigas duma outra geração de deputados haviam dado lugar às vozes que retiniam como metais, no cálculo de operações fabulosas.

E continuamos a espantarmos como - de certo modo e guardadas as devidas distâncias do tempo e do lugar - o que hoje acontece tem similitudes que nos causam apreensão pela ausência da Pátria enquanto garante aglutinador das ideias construtivas que deviam estar presentes em todos os debates.

É que, olhando o que se passa nas transmissões televisivas - que melhor era não serem dadas - são palavras ocas, a ponto de procurarmos em vão naquela multidão de palavras sentimentos de amor pátrio, sendo que é com muita dificuldade que encontramos um pensamento válido, que não seja o vazio das ideias e uma grande falta de sentido de Estado em muitos dos deputados que elegemos.

Vala a pena procurar nos anais da História este belo discurso de António Cândido, que certamente é bastante desconhecido pelos actuais representantes do povo, de tal modo entrincheirados nas suas diatribes que não lhe sobra tempo para lerem e meditarem nos tribunos que tivemos e que ajudaram a preparar o caminho para a implantação de uma República, que afinal, verdadeiramente, até hoje, não soubemos honrar.



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