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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O concreto das coisas!



Capa do Livro


Transcrição ipsis-verbis de parte do livro acima representado pela sua capa de mercado.


Na Primavera de 2010, José Sócrates deu uma entrevista histórica à RTP. Na noite de 18 de Maio, quando o País já vivia há meses em sobressalto por pausa da constante: subida dos juros da divida pública. o então primeiro-ministro afirmou na televisão do Estado: "o mundo mudou em duas semanas e tenho obrigação de conduzir a governação estando atento às mudanças das realidades"

A custo o chefe do Governo reconheceu aquilo que o mais comum dos mortais. especialista ou não em mercados financeiros já havia percebido há muito tempo: a realidade da vida mais tarde ou mais cedo, impõe-se à vontade dos homens. A teimosia de José Sócrates em reconhecer que Portugal necessitava de ajuda financeira externa. como se provou passado menos de um ano encontra paralelo na indiferença com que a classe politica encara a promiscuidade entre o interesse público e as conveniências do sector privado.
Os ingressos de ex-ministros e ex-secretários de Estado em empresas de sectores por eles tutelados enquanto governantes ou as transferências de deputadas para firmas privadas e escritórios de advogados, abandonando o mandato para o qual foram eleitos: representantes do povo, são sinais paradigmáticos de como os interesses pessoais se podem sobrepor ao interesse colectivo do pais. Como sempre que não interessa fazer mudanças. os partidos políticos, naquela velha atitude portuguesa de varrendo o lixo para debaixo do tapete, fingem que nada acontece. (...)

"O assunto mais tenebroso da corrupção portuguesa é que há muitos factos que não são vistos como corrupção", afirmou o sociólogo António Barreto, ex-ministro do Agricultura e actual presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos. numa entrevista ao Jornal de Negócios em 3 de Março de 2011. E precisou a sua ideia: “A promiscuidade polilico-financcira-cconomica não é entendida como tal. As pessoas podem saltitar de uns cargos para outros: da politica para a actividade económica pública. dai para a actividade económica provada e ainda voltam a entrar na política, fazendo favores uns aos outros. (...)


(...) A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até à suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho, a Carne e o Verbo.
 Entre nós, o Verbo não encarnou inteiramente. Somos corpo e alma, verbo encarnado e verbo não encarnado, a matéria e o limbo, o esqueleto de pedra e um fumo que o enconbre e ondula em volta dele, e dança aos ventos da loucura...
 E aí tendes um pobre tolo sentimental, uma caricatura elegíaca.
 Neste limbo interior, neste infinito espiritual, vive a lembrança de Deus que alimenta a nossa esperança, e transfigura esse bicho do Demónio, que anda por esses boulevards, vestido à moda ou coberto de farrapos.
 Ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga.
 Tudo é memória: um fumo leve, em mil visagens animadas; ou denso, em formas inertes e sombrias; e, ao longe, a grande fogueira invisível que os demónios e os anjos alimentam.
 Vivo, porque espero. Lembro-me, logo existo. (...)

Teixeira de Pascoaes, in 'O Pobre Tolo'




É de todos os portugueses minimamente informados a luta travada - a destempo - por José Sócrates antes de se decidir a pedir ajuda económica internacional para solver a crise económica que o Governo por ele liderado teve de pedir.

Todos nos lembramos disso e, agora, não vale chorar sobre o leite derramado... mas vale - isso sim - relembrar que Portugal está a correr o risco de voltar àquele passado auto-suficiente de José Sócrates que se ouvia a si mesmo se, António Costa, a ganhar as eleições primárias do PS no próximo dia 28 de Setembro, e der ouvidos ao clã do antigo chefe de Governo que levou Portugal à pré-bancarrota e que, decerto, espreita uma nova oportunidade.

Por isso nos parecem importantes os pequenos trechos que reproduzimos e cujos sublinhados nos pertencem.

O primeiro é uma memória e vale por aquilo que representa de aviso, devendo ser dito e com toda a verdade, que a opinião de António Barreto sobre a promiscuidade política  colhe em todos os Partidos que têm governado Portugal, como se se tratasse de uma doença endémica.

Já quanto ao segundo, merece a pena ler Teixeira de Pascoaes sobre o que ele entende da realidade e do sonho, sobretudo, se pensarmos que nem sempre no sonho se podem esconder todas as realidades - porque estas quando se tornam assassinas dos sonhos - deixam de o ser... e são, apenas, impossibilidades reais.

É desta dualidade onde os demónios e os anjos se alimentam de que José Sócrates se serviu a si mesmo - ou deixou que o servissem -  não ouvindo os ventos que se faziam ouvir, pelo que, os que o acompanharam - como António Costa que foi seu Ministro e bem próximo - se ganhar o direito de vir a concorrer às eleições legislativas de 2015 o que se lhe pede é que não venha a dar cobertura aos demónios que não deixam de andar por aí, à solta.

Contudo, não nos esqueçamos que todos nós - políticos ou não - ardemos num incêndio de esperança, para que reste de nós uma lembrança, um fumo que sobe e não se apaga - pelo que, se para tanto temos todo o direito, que fique de nós, como lembrança, esse fumo que sobe e não se apaga.

Pessoalmente, penso , que isto não aconteceu com José Sócrates.


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