Fac-símile de "A Renascença" - fascículos 8 a 10
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"A Renascença" foi um dos mais importantes periódicos literários que se publicaram no último quartel do século XIX e teve como fanal ser um meio da divulgação como órgão de trabalho intelectual da "geração nova" que teve em Antero de Quental uma das suas maiores figuras.
O grande Poeta, incompreendido em largas faixas dos homens do seu tempo onde abundam, por demais, figuras gradas de seguidores da Igreja e de um Deus de que ele nunca se afastou, nestes dois sonetos, mas com mais preponderância no primeiro, tece com a arte poética do soneto - que ele "burilou" como poucos o fizeram - um facto, comum no seu tempo, como no de hoje, sobre a desatenção de muitos homens e mulheres para o Mistério que, se queira ou não, envolve as vidas de todos os mortais, deixando que sopre "ao Deus dará" "Um veneno subtil, vago, disperso" - e sem rodriguinhos falazes, afirma ele - esta falta humana "Empeçonhou a criação divina".
Eis aqui, plasmado por este homem de génio o grande problema a que Antero de Quental, magistralmente, convida todas as criaturas a pôr a mão na consciência, tendo um maior recato quando falam a esmo sobre um poder que se lhe escapa, como ele é, como se fosse a areia fina que escapa entre os dedos.
Leiamos, o último terceto de Antero de Quental na continuação directa do pensamento que informa o terceto anterior e sem rebuço rendamo-nos à memória deste ilustre filho dos Açores:
Só uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da
existência.
Desabrocha no fundo da
consciência.
Bom seria que assim fosse: que bem lá no fundo de cada criatura - a "flor humilde" que cada um de nós é, ao menos, uma vez na vida desabrochasse e tomasse na devida conta o barro de que somos feitos...
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