in, "A Paródia"(Folha independente feita para toda a gente) nº2-Vol.1-12 Janeiro 1923
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Esta publicação herdou o título de "A Paródia" de Rafael Bordalo Pinheiro e surgiu nas bancas em 10 de Janeiro de 1923, tendo a Redacção desta "Folha independente" homenageado o grande caricaturista, jornalista e ceramista na capa do primeiro número.
Esta gravura da "PÁTRIA LACRIMOSA" foi o reflexo da desorientação em que o Estado se vinha degradando às mãos dos republicanos, com a ala jacobina em Janeiro de 1923 em colisão intelectual e política contra Leonardo Coimbra, uma das raras e gradas figuras públicas - filósofo e professor, criador da "Renascença Portuguesa"- de nada lhe valendo o apoio de intelectuais brilhantes como Raul Brandão, Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes.
O ano de 1922, estará na origem desta gravura.
Na continuação de outros semelhantes, havia sido de desnorte total, tendo começado com o adiamento das eleições de 3 para 29 de Janeiro com o desmantelamento do acordo entre democráticos, liberais e reconstituintes do Partido Republicano da Reconstituição Nacional, com Cunha Leal a apelar para "as forças vivas" de economia, seguindo-se-lhe um conflito com Gomes da Costa, a tentar usar o exército contra a Guarda Nacional Republicana e que o leva a decidir que as forças do exército cerquem Lisboa, transferindo o governo para Caxias, sem contudo nomear Gomes da Costa chefe das forças sitiantes de Lisboa e que o levou a declarar "os partidos hoje açambarcam a Nação e os próprios homens de valor que se encontram nos partidos não podem fazer a defesa da colectividade porque têm de obedecer a interesses partidários", uma opinião livre que lhe valeu a sua prisão.
Ainda, naquele mesmo mês surgiu em Lisboa um agrupamento de liberais, reconstituintes, socialistas reformistas, sidonistas e independentes com firme determinação de enfrentar os democráticos, que viriam a ser derrotados nas eleições do dia 29 de Janeiro e que nesse mesmo dia vivem a ameaça de um "lock-out" da Carris, sendo anda Presidente do Ministério Cunha Leal, que em resultado das eleições ganhas pelo Partido Democrático, no dia seguinte se demite.
E seguiu-se um ano vivido entre golpes, escaramuças, com o exército contra a GNR, com Afonso Costa, em Fevereiro a recusar-se formar governo por não estarem resolvidos problemas que tinha a ver com a ordem pública, de que resultou que a Polícia de Segurança do Estado se tenha passado a chamar Polícia de Defesa Social e com a formação do governo a 6 de Fevereiro presidido por António Maria da Silva, com as forças do exército, ainda, a cercar Lisboa, até que em Março a GNR é diminuída de efectivos em Lisboa e é dispersa pela Província.
O Estado, entretanto, com todas estas convulsões sociais, esquece a agricultura e Portugal começa a sofrer um acréscimo de preços dos bens mais necessários que atingem valores incomportáveis, a que se junta a desordem na marinha com Agatão Lança a denunciar na Câmara dos Deputados que dos anteriores Ministros daquele ramo das forças armadas, muitos não eram militares e tinham as suas clientelas que deviam ser atendidas, uma acha a mais para a fogueira em que ardia a República.
Salvou-se do atoleiro da vida nacional que então se vivia a partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no dia 30 de Março na sua aventura aérea que os levou até ao Rio de Janeiro.
Mas a saga social continuou com o ministério da tutela a suspender as obras da construção dos chamados "bairros Sociais" e com a prisão em Abril de operários que tinham aderido a uma greve geral, a que se veio juntar a luta dos católicos contra os monárquicos, o que leva em Abril, Augusto de Castro, um afamado escritor a considerar numa carta enviada a João Chagas que fora o primeiro Presidente do Ministério no advento da República, dizendo que Portugal "precisava de ser governado".
O surgimento em 29 e 30 de Abril de 1922 do II Congresso do Centro Católico muito se ficou a dever ao desmando do governo, levando à aparição de António de Oliveira Salazar, admitindo que os católicos tomem parte na coisa pública, dando assim, um novo fôlego ao Centro Católico Português, (CCP).
Em contramão dos ideais do CCP, o governo autoriza no dia 1 de Maio (Dia do Trabalhador) um peditório a favor dos russos, numa afronta descarada e inútil, a que se segue, meritoriamente, o lançamento do primeiro plano rodoviário da República e o inquérito às aparições de Fátima de 1917 mandado fazer pelo Bispo de Leiria D José Alves Correia da Silva e, mais um a vez, em Julho um novo confronto com Gomes da Costa, até que surge um manifesto de Bernardino Machado intitulado "A Crise", eclosão de novas greves (Covilhã) e em Agosto uma agitação popular com a mobilização dos Sindicatos contra os "novos tipos de pão", com tumultos em Lisboa, Santarém, Coimbra e Porto de que resultaram alguns mortos, levando o governo a ceder, sem contudo evitar a deflagração de bombas na cidade do Porto no mês imediato, com mas greves na construção civil, na metarlurgia.
Como remate destas convulsões sociais é assassinado o líder da Confederação Patronal Portuguesa, Sérgio Joaquim Príncipe, apunhalado no dia 8 de Setembro na Rua de Santo António da Sé, por ter contribuído para o insucesso de várias greves e o ano viria a ter em Novembro mais tumultos em Lisboa com mortos e feridos, de nada tendo valido os esforços de remodelação governamental.
Foi de tudo isto que logo no início do ano de 1923 o aparecimento da gravura PÁTRIA LACRIMOSA" fez todo o sentido, porque os republicanos desde 1910 e as dezenas de governos que já se haviam formado, paulatinamente, foram cavando a ruína da I República, dando azo ao aparecimento da Ditadura Militar em 1926.
Vale a pena consultar a lista:
Esta gravura da "PÁTRIA LACRIMOSA" foi o reflexo da desorientação em que o Estado se vinha degradando às mãos dos republicanos, com a ala jacobina em Janeiro de 1923 em colisão intelectual e política contra Leonardo Coimbra, uma das raras e gradas figuras públicas - filósofo e professor, criador da "Renascença Portuguesa"- de nada lhe valendo o apoio de intelectuais brilhantes como Raul Brandão, Guerra Junqueiro e Teixeira de Pascoaes.
O ano de 1922, estará na origem desta gravura.
Na continuação de outros semelhantes, havia sido de desnorte total, tendo começado com o adiamento das eleições de 3 para 29 de Janeiro com o desmantelamento do acordo entre democráticos, liberais e reconstituintes do Partido Republicano da Reconstituição Nacional, com Cunha Leal a apelar para "as forças vivas" de economia, seguindo-se-lhe um conflito com Gomes da Costa, a tentar usar o exército contra a Guarda Nacional Republicana e que o leva a decidir que as forças do exército cerquem Lisboa, transferindo o governo para Caxias, sem contudo nomear Gomes da Costa chefe das forças sitiantes de Lisboa e que o levou a declarar "os partidos hoje açambarcam a Nação e os próprios homens de valor que se encontram nos partidos não podem fazer a defesa da colectividade porque têm de obedecer a interesses partidários", uma opinião livre que lhe valeu a sua prisão.
Ainda, naquele mesmo mês surgiu em Lisboa um agrupamento de liberais, reconstituintes, socialistas reformistas, sidonistas e independentes com firme determinação de enfrentar os democráticos, que viriam a ser derrotados nas eleições do dia 29 de Janeiro e que nesse mesmo dia vivem a ameaça de um "lock-out" da Carris, sendo anda Presidente do Ministério Cunha Leal, que em resultado das eleições ganhas pelo Partido Democrático, no dia seguinte se demite.
E seguiu-se um ano vivido entre golpes, escaramuças, com o exército contra a GNR, com Afonso Costa, em Fevereiro a recusar-se formar governo por não estarem resolvidos problemas que tinha a ver com a ordem pública, de que resultou que a Polícia de Segurança do Estado se tenha passado a chamar Polícia de Defesa Social e com a formação do governo a 6 de Fevereiro presidido por António Maria da Silva, com as forças do exército, ainda, a cercar Lisboa, até que em Março a GNR é diminuída de efectivos em Lisboa e é dispersa pela Província.
O Estado, entretanto, com todas estas convulsões sociais, esquece a agricultura e Portugal começa a sofrer um acréscimo de preços dos bens mais necessários que atingem valores incomportáveis, a que se junta a desordem na marinha com Agatão Lança a denunciar na Câmara dos Deputados que dos anteriores Ministros daquele ramo das forças armadas, muitos não eram militares e tinham as suas clientelas que deviam ser atendidas, uma acha a mais para a fogueira em que ardia a República.
Salvou-se do atoleiro da vida nacional que então se vivia a partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral no dia 30 de Março na sua aventura aérea que os levou até ao Rio de Janeiro.
Mas a saga social continuou com o ministério da tutela a suspender as obras da construção dos chamados "bairros Sociais" e com a prisão em Abril de operários que tinham aderido a uma greve geral, a que se veio juntar a luta dos católicos contra os monárquicos, o que leva em Abril, Augusto de Castro, um afamado escritor a considerar numa carta enviada a João Chagas que fora o primeiro Presidente do Ministério no advento da República, dizendo que Portugal "precisava de ser governado".
O surgimento em 29 e 30 de Abril de 1922 do II Congresso do Centro Católico muito se ficou a dever ao desmando do governo, levando à aparição de António de Oliveira Salazar, admitindo que os católicos tomem parte na coisa pública, dando assim, um novo fôlego ao Centro Católico Português, (CCP).
Em contramão dos ideais do CCP, o governo autoriza no dia 1 de Maio (Dia do Trabalhador) um peditório a favor dos russos, numa afronta descarada e inútil, a que se segue, meritoriamente, o lançamento do primeiro plano rodoviário da República e o inquérito às aparições de Fátima de 1917 mandado fazer pelo Bispo de Leiria D José Alves Correia da Silva e, mais um a vez, em Julho um novo confronto com Gomes da Costa, até que surge um manifesto de Bernardino Machado intitulado "A Crise", eclosão de novas greves (Covilhã) e em Agosto uma agitação popular com a mobilização dos Sindicatos contra os "novos tipos de pão", com tumultos em Lisboa, Santarém, Coimbra e Porto de que resultaram alguns mortos, levando o governo a ceder, sem contudo evitar a deflagração de bombas na cidade do Porto no mês imediato, com mas greves na construção civil, na metarlurgia.
Como remate destas convulsões sociais é assassinado o líder da Confederação Patronal Portuguesa, Sérgio Joaquim Príncipe, apunhalado no dia 8 de Setembro na Rua de Santo António da Sé, por ter contribuído para o insucesso de várias greves e o ano viria a ter em Novembro mais tumultos em Lisboa com mortos e feridos, de nada tendo valido os esforços de remodelação governamental.
Foi de tudo isto que logo no início do ano de 1923 o aparecimento da gravura PÁTRIA LACRIMOSA" fez todo o sentido, porque os republicanos desde 1910 e as dezenas de governos que já se haviam formado, paulatinamente, foram cavando a ruína da I República, dando azo ao aparecimento da Ditadura Militar em 1926.
Vale a pena consultar a lista:
- Teófilo Braga (5 de outubro de 1910 a 3 de
setembro de 1911) – 333 dias
- João
Chagas (3 de setembro a 12 de novembro de 1911) – 70 dias
- Augusto de Vasconcelos (12 de novembro
de 1911 a 16 de junho de 1912) – 217 dias
- Duarte
Leite (16 de junho de 1912 a 9 de janeiro de 1913) – 207 dias[Nota
1]
- Augusto de Vasconcelos (interinamente
de 23 a 30 de setembro de 1913) – 7 dias
- Afonso
Costa (9 de janeiro de 1913 a 9 de fevereiro de 1914) – 1 ano e 31
dias
- Bernardino Machado (9 de fevereiro a 12 de
dezembro de 1914) – 306 dias
- Vítor Hugo de Azevedo Coutinho
(12 de dezembro de 1914 a 25 de janeiro de 1915) – 44 dias
- Joaquim Pimenta de Castro (25 de
janeiro a 14 de maio de 1915) – 109 dias
- Junta Constitucional (14 a 15 de
maio de 1915) – 1 dia
- José Norton de Matos
- António Maria da Silva
- José de Freitas Ribeiro
- Alfredo de Sá Cardoso
- Álvaro de Castro
- João
Chagas (15 a 29 de maio de 1915; não tomou posse) – 2 dias[Nota
2]
- José de Castro (interinamente de 17 a 29 de
maio de 1915) – 12 dias
- José de Castro (29 de maio a 29 de novembro de
1915) – 184 dias
- Afonso
Costa (29 de novembro de 1915 a 15 de março de 1916) – 107 dias
- António José de Almeida (16 de março
de 1916 a 25 de abril de 1917) – 1 ano e 39 dias[Nota
3] – "Ministério da União Sagrada"
- Afonso
Costa (interinamente de 4 a 5 de setembro de 1915) – 1 dia
- Afonso
Costa (25 de abril a 8 de dezembro de 1917) – 188 dias[Nota
4]
- José Norton de Matos (interinamente de 7
a 25 de outubro e de 18 de novembro a 8 de dezembro de 1917) – 37 dias
- Junta Revolucionária (8 a 11 de
dezembro de 1917) – 3 dias
- Sidónio
Pais (11 de dezembro de 1917 a 14 de dezembro de 1918) – 1 ano e 3
dias
- Governo (14 a 15 de
dezembro de 1918) – 1 dia
- António Bernardino
Ferreira
- Jorge Couceiro da Costa
- João Tamagnini Barbosa
- Álvaro César de
Mendonça
- João do Canto e Castro
- António Egas Moniz
- João Alberto
Azevedo Neves
- Alexandre Vasconcelos e Sá
- Alfredo Magalhães
- Henrique Forbes Bessa
- José João da Cruz
Azevedo
- Eduardo Fernandes de Oliveira
- João do Canto e Castro (interinamente
entre 15 e 23 de dezembro de 1918) – 8 dias
- João Tamagnini Barbosa (23 de dezembro
de 1918 a 27 de janeiro de 1919) – 35 dias
- José
Relvas (27 de janeiro a 30 de março de 1919) – 62 dias
- Domingos Pereira (30 de março a 29 de junho
de 1919) – 91 dias
- Alfredo de Sá Cardoso (29 de junho de
1919 a 15 de janeiro de 1920) – 200 dias
- Francisco Fernandes Costa (15 de
janeiro de 1920; não tomou posse) – menos de 1 dia
- Alfredo de Sá Cardoso (15 a 21 de
janeiro de 1920; reconduzido) – 5 dias
- Domingos Pereira (21 de janeiro a 8 de março
de 1920) – 47 dias
- António Maria Baptista (8 de março a 6
de junho de 1920) – 90 dias
- José Ramos Preto (6 a 26 de junho de 1920) –
20 dias
- António Maria da Silva (26 de junho a
19 de julho de 1920) – 23 dias
- António Granjo (19 de julho a 20 de novembro de
1920) – 124 dias
- Álvaro de Castro (20 a 30 de novembro de
1920) – 10 dias
- Liberato
Pinto (30 de novembro de 1920 a 2 de março de 1921) – 273 dias
- Bernardino Machado (2 de março a 23 de maio
de 1921) – 82 dias
- Tomé de Barros Queirós (23 de maio a 30
de agosto de 1921) – 99 dias
- António Granjo (30 de agosto a 19 de outubro de
1921) – 50 dias
- Manuel Maria Coelho (19 de outubro a 5 de
novembro de 1921) – 17 dias
- Carlos Maia Pinto (5 de novembro a 16 de
dezembro de 1921) – 41 dias
- Francisco Cunha Leal (16 de dezembro de
1921 a 6 de fevereiro de 1922) – 52 dias
in, Wikipedia
A "PÁTRIA LACRIMOSA", hoje, que se comemora o quadragésimo quarto ano da "Revolução de Abril", por mais que nos queiram dizer que ela já não tem esse nome - e valha a verdade não tem - apesar de tudo podia estar melhor, porque os homens que na altura devida tomaram conta do primeiro Governo Constitucional, em 23 de julho de 1976, têm vindo a perder a chama dos primeiros tempos e a Pátria - não o esqueçamos - já teve de pedir ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional (FMI) por 3 vezes, em 1977, com a inflacção a alcançar os 20%. e forte conflitualidade política. em 1983 num governo do chamado "bloco central" que tinha tudo para dar certo e não deu e, finalmente, em 2011 numa altura em que as finanças públicas estavam de novo à beira da rutura.
Eis. porque, a que acresce, a grande dívida pública - de que mal se fala - a "PÁRIA LACRIMOSA" - muito diferente da de 1922, apesar disso, ainda não encontrou a maneira de poder sorrir e ser a MÃE de todos.
Este é o meu lamento no dia 25 de Abril de 2018.
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