Vasco da Gama na dobragem do Cabo
é surpreendido pelo gigante Adamastor
Ilustração de Fragonard para "Os Lusíadas"- edição do Morgado de Mateus, Paris, 1817
in, "Textos da Língua Portuguesa" - Vol. II - Didáctica Editora
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Vasco da Gama não havia terminado de falar, no momento em
que, ante a tormenta do mar tenebrosos, se dirigia a Deus – “Ò Potestade” como ele lhe
chamou - quando surgiu uma figura enorme, de rosto fechado, de olhos encovados,
de postura má, de cabelos crespos e cheios de terra, de boca negra e de dentes
amarelos. Esta passagem é meramente descritiva.
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e
válida,
De disforme e grandíssima
estatura;
O rosto carregado, a barba
esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e
pálida;
Cheios de terra e crespos os
cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
(estrofe 39 de Os Lusíadas - Canto V)
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Do primeiro Adamastor a ser vencido
resultou
a Fundação do Reino de Portugal.
Em 1093 por doação de Afonso VI, rei de Leão e Castela o conde D. Henrique recebeu hereditariamente por
auxílios prestados nas conquistas territoriais, um Condado na região
de Portucale, na foz do Douro, a que sem tardança – rebelando-se – desejou tornar-se independente, empresa que em 1144, após o
seu falecimento, transmitiu a sua esposa D. Teresa, filha bastarda do
rei de Leão e Castela que travada de amores pelo fidalgo galego Fernão Peres,
conde de Trava, deixou esmorecer, sem cuidar dos cuidados que tal facto estava a causar no filho, Afonso Henriques.
Esta, temendo o
casamento da mãe – e sentindo-se desapossado do Condado – pôs-se à frente dum
movimento revolucionário que após a batalha de S. Mamede em 1128, acabou por ter colocado o jovem Afonso, senhor do Governo, que de imediato expulsou a mãe para a Galiza, o seu amante galego e os
portugueses que os acompanharam naquela aventura.
Afonso Henriques continuou a saga
de seu pai, alargando o território e consolidando o Condado Portucalense e,
embora fosse vassalo do novo rei de Leão e Castela, Afonso VII nunca cumpriu tal obrigação, levando a que este pelo Tratado de Zamora de 1143 lhe concedesse definitivamente o
título de Rei de Portugal.
Este foi o primeiro Adamastor a ser vencido!
Depois, disso a História de Portugal está cheia - muito antes de cena descrita por Luís de Camões - de muitos Adamastores que foram vencidos e dos que se apresentaram depois, tantos e tantos que seria fastidioso enumerá-los neste pequeno "post", mas parecendo inevitável que se dê conta que, no momento, há um Adamastor a ser vencido e que aparece, num novo Cabo das Tormentas.
É, também, uma figura de disforme e grandíssima estatura, que sendo diversa da que nos descreve Camões, nos mete medo, sobretudo quando damos connosco a pensar nas gerações futuras.
Trata-se da enorme dívida pública que temos e ao certo, o povo que tem de a pagar, não sabe o seu montante e que por ser tão grande, nem o Governo que temos a quer revelar, como aconteceu a António Costa no último debate quinzenal na Assembleia da República meteu "a cabeça na areia", quando esta lhe foi perguntada.
Este é o último Adamastor que é preciso vencer!
Mas quando?
Portugal já venceu muitos Adamastores... mas este, parece que vive e amedronta mais que aquele que vencemos e nos levou até à India.
Mas... onde estão os novos "Vascos da Gama"?
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