Foto de autor não identificado, in, Ruas de Lisboa com Alguma História
Placa evocativa descerrada no dia 22 de Janeiro de 2000
pela CML, no nº 108 da Praça D. Predo IV (Rossio)
Alfredo Guisado nasceu em 1891 em Lisboa, na antiga freguesia de Santa Justa, no nº 108 da Praça D. Pedro IV, no 4º andar deste prédio, onde se pode ler uma placa evocativa e faleceu na mesma cidade, freguesia de S. Domingos de Benfica, em 1975.
Filho de pais galegos, formou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa.
Foi militante do Partido Republicano Português e exerceu vários cargos políticos: deputado, Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e Governador Civil, em substituição do detentor do cargo.
Desde muito cedo se interessou pelo municipalismo e pelo jornalismo, tendo colaborado com assiduidade na "Répública" de que foi Sub-Diector no tempo em que este conceituado jornal - hoje, infelizmente desaparecido pela maldade dos homens - foi o único órgão da imprensa que se opunha ao ideário do Estado Novo.
Como literato a sua actividade fez-se sentir na sua aderência ao movimento modernista encabeçado pela Revista Trimestral de Literatura "Orpheu" - nos únicos dois números publicados referentes aos dois primeiros trimestres de 1915 - não tendo continuado a partir de Julho, pelo encerramento da Revista devido a dificuldades económicas.
Publicou obras, como:
"Rimas da
Noite e da Tristeza (1913)", "As Treze Baladas das mãos Frias
(1916)", "Mais alto (1917)", "Ânfora (1918)", "A
Lenda do Rei Boneco (1920)", "As cinco Chagas de Cristo (1927)",
sendo algumas obras de Poesia escrita com o pseudónimo de «PEDRO MENEZES». O
seu último trabalho " A Pastora e o Lobo", editado em 1974, um ano
antes da sua morte.
Este livro antologia o melhor da poesia de Alfredo Guisado,
cidadão exemplar e poeta de mérito que, em vida, nunca se preocupou com a
publicação da sua obra poética. Tempo de Orpheu (1915-1918), inclui sonetos
como “Cair da Tarde” que são, na opinião de Urbano Tavares Rodrigues: “...
autênticas obras-primas, dentro da. corrente simbolista e da sua estética.”.
Xente d’Aldea, escrito na língua materna de Guisado, o Galego, e publicado pela
primeira vez em 1921, é um livro no qual, segundo Eloísa Alvarez, “... o poeta
responde ao apelo de umas raízes que aninhava na alma, [...] um livro que é uma
confissão de amor à terra, à cultura, à sentida voz do povo galego.” (in, contra-capa deste Livro)
BALADA DAS HORA VELHAS
Olho. Passa na alameda
Tua Alma de mãos erguidas
De tarde a rezar por mim.
E entre camélias vencidas
Tuas rezas são de seda,
Teus pedidos de marfim.
E no teu passar acordam
Os lírios estremunhados
P'ra beijar os dedos teus...
E ao ver os lírios, recordam
Rolhas de frascos cansados
De guardar perfume-Deus.
Deus te abençoe nos lírios
E te conduza entre círios
Ao jardim do meu Sonhar.
Que os lírios num gesto exangue
Sei que são gotas de sangue
Que perdeu Jesus-Luar.
E eu sinto que rezam cor
Os lábios da minha Dor...
Cor, religião dos olhos.
Desmaia a tarde, envelhece.
É quando a cor endoidece
E quer fugir p'ra os teus olhos.
É quando sonho de ver-te.
E quando meu coração
Te lembra a forma morena
Dum boneco que em pequena
Deixaste cair no chão
E se quebrou de perder-te.
É quando os montes são quietos,
Quando não há quem se afoite
Com medo de encontrar Deus.
É quando os lábios são pretos,
Deus só se sente na Noite
E é Noite só para Deus.
in, "As Treze Baladas das Mãos Frias"
O BALOIÇO
Na minha quinta, em pequeno,
Tive um inquieto baloiço
Que ainda o vejo sereno
E nele os meus gritos oiço.
Longas horas baloiçava
Meu frágil corpo menino.
E ora subia ou baixava
Num constante desatino.
Neste baloiço, à distância,
Chama por mim minha infância
E eu chamo p'lo que passou.
E sem haver quem me oiça
O baloiço me baloiça
Entre o que fui e o que sou.
in, "A Lenda do Rei Boneco"
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