Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ramalho Eanes: o homem de um só rosto!




O homem de um só rosto é todo aquele que projecta na vida a sua imagem, reflectindo-a inteira, sem distorções ou disfarces.
Ramalho Eanes é um desses homens.
Foi Presidente da República entre 1976 e 1986.
Foi o coordenador das operações militares de 25 de Novembro de 1975, que pôs fim à influência da extrema-esquerda que imperava em Portugal desde o 25 de Abril de 1974.
Na prática, pôs fim ao PREC (Processo Revolucionário em Curso).
Ao falar na cerimónia da homenagem que os seus amigos que lhe quiseram tributar no passado dia 25 de Novembro, disse: ser "indispensável", "imperativo" a fruição de um "norteamento ético" da sociedade portuguesa, sobretudo nos actuais "tempos angustiantes de crise de ruptura dramática, como são os que vivemos", esclarecendo que  "não há género nem propósito de qualquer acção política organizada a desenvolver quer no presente, quer no futuro e decorrente da homenagem hoje prestada".
Como ponto fulcral a homenagem teve como um dos motivos a apresentação do "Prémio Ramalho Eanes", destinado a galardoar - a partir de 2014 - bianualmente personalidades ou instituições na área dos valores da cidadania.
Nada mais certo.
Este homem de um só rosto bem merece, neste campo da honra e do dever em que só vingam os homens íntegros, fazendo da cidadania um campo onde a moral e a ética erguem a sua bandeira, em sua honra, que Portugal encontre - contra a corrente que deseja instalar-se - homens que se revejam na atitude de Ramalho Eanes que nunca deixou de ser alguém merecedor de se lhe tirar o chapéu por este motivo bem simples, mas que faz toda a diferença:
É que. olhando a "paisagem humana" os nossos olhos andam cansados de não ver os horizontes largos a que tinham direito - e lhe prometeram - razão que nos leva a ver neste homem a nesga profícua que alimenta o sonho do nosso olhar, em que, um dia - só não sabemos quando - há-de. por fim, romper o horizonte fechado do tempo azedo para a maioria e lauto e  feliz para uma pequena e escolhida parte, que montou tenda, tomando conta de um campo que devia pertencer a todos e, onde, Ramalho Eanes é a excepção que contraria a regra.

E vamos a um facto histórico que atesta a mais valia deste homem.

Corria o ano de 1984.
O Governo, então presidido pelo Dr. Mário Soares através de uma lei, que se o não foi, pareceu, “ad hominem”, impediu que o vencimento de um Presidente da República pudesse acumular “com  quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência que aufiram do Estado».
À época, o Sr. General Ramalho Eanes ocupava o Palácio de Belém e promulgou de imediato a lei que acabaria por vir a prejudicá-lo durante muitos anos.
Desse modo, quando deixou o Palácio de Belém, em 1986, optou pelos 80% do vencimento como PR, nunca tendo recebido a reforma de general de quatro estrelas, a que tinha direito.
O absurdo aconteceu.
Qualquer outro funcionário poderia somar reformas, menos aquele antigo e prestigiado militar a quem o Portugal democrático tanto deve.
Porque era tamanha a injustiça, em Junho de 2008 aquela lei foi rectificada, pelo actual executivo, devido a suposta insistência do Presidente da República Dr. Cavaco Silva nesta matéria e a um parecer do Sr. Provedor de Justiça, como se pode ler na edição do dia 13 de Setembro do semanário “Sol”.
Este facto originou que fossem disponibilizados para pagamento ao Sr. General Eanes retroactivos que somavam 1.300.000 (um milhão e trezentos mil euros!)
Uma pequena fortuna.
Recusou, de imediato, com presteza idêntica à que o levou a promulgar a lei que o atingia directamente.
A atitude, porém, não é nova.
A seguir ao 25 de Novembro de 1975, o General recusou receber o diferencial do vencimento do seu posto efectivo (tenente-coronel) para aquele em que foi graduado (general de 4 estrelas) para as funções de Chefe do Estado-Maior do Exército, doando o  diferencial, a instituições de solidariedade social, o que aconteceu até à eleição para Presidente da República, em Junho de 1976.
Mas voltando à notícia recente, num País, como o nosso, como diz Fernando Dacosta, dobrado à pedincha, ao suborno, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imege, nos imergem por todos os lados. (1)
É, efectivamente, neste País que perdeu o sentido da honra e o dever, onde certas reformas raiam o escândalo, onde os gestores de topos multiplicam por trinta o seu ordenado, relativamente aos seus empregados, onde o grau da afronta humana deixou de ter qualquer explicação moral e, onde, os súbitos enriquecimentos são a imagem da degradação social a que chegámos, nesta democracia doente que temos e onde naufragámos, a recusa do General Ramalho Eanes é uma claridade no meio de tantas sombras e, por si só, a sua atitude configura uma aragem fresca no campo da honra.
E neste campo não basta apregoá-la, é preciso tê-la e pô-la em prática.
Que grande é a sua lição!
O que faz confusão e nos deixa a pensar é o quase silêncio como os canais da TV e os jornais ditos de referência trataram este assunto, como se ele, pela sua nobreza, não merecesse honras de abertura e de aparecimento nas primeiras páginas, servindo de exemplo, que o foi, e como tal, merecedor de ser apregoado
É o estado a que chegámos!
Não se cultivam e assinalam, devidamente os actos nobres, porque estes não vendem, dando-se preferência a assuntos vulgares, de um dia a dia sensaborão e cinzento, onde não entra a cultura da elevação cultural, moral, ética, da honra e do dever do homem perante a vida, política ou não.
Depois, o que temos líquido, é um País adormecido pelos muitos futebóis e tele-novelas que o imergem como sedativos, que o não são, de todo.
Somos um País afogado, a caminhar para o fundo.
Razão, porque, não abundando notícias como esta no cenário da honra, é bom e salutar que os Portugueses conheçam o carácter íntegro deste  Homem, de quem, tendo servido a Pátria nos campos nobres do Serviço Militar e da política acidental,  é pelo seu exemplo, alguém merecedor de respeito e a quem devemos tirar o chapéu.


(1)  - in, “TempoLivre” nº 197 – Outubro de 2008

1 comentário: