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domingo, 17 de novembro de 2013

O mesmo fado... ao fim de 142 anos!



 
 
"As Farpas" foram publicações críticas de periodicidade mensal, tendo surgido em 1871 a cargo de dois ilustres homens de Letras: Ramalho Ortigão - a ramalhal figura - e Eça de Queirós, que mantiveram esta parceria literária até 1872.
Sendo cônsul de Portugal em Paris, no ano de 1890 Eça de Queirós publicou o livro: Uma Campanha Alegre, recuando vinte anos para falar do tempo das "Farpas" - que foi uma campanha alegre no tempo que durou - e, solenemente, declarar na "Advertência" que faz aos leitores:
 
(...) hoje releio essas paginas amarelecidas das FARPAS. Que encontro nelas? Um riso tumultuoso, lançado estridentemente através de uma sociedade como seu comentário único e crítica suprema. Encontro um riso desabalado – mas escassamente uma verdade adquirida, uma conclusão de experiência e de saber, algum resultado visível dessa inspiração de Minerva que eu supunha combatendo por trás de mim, invisível e armada de ouro, como nos campos de Plateia.(...)
Aí vão pois as minhas FARPAS, a que eu dou agora o nome único que as define e as páginas deste livro são aquelas com que outrora concorri para as FARPAS, quando Ramalho Ortigão e eu, convencidos, como o Poeta, que a «tolice tem cabeça de touro», decidimos farpear até à morte a alimária pesada e temerosa. (...)

 
Passaram 142 anos e espanta, vista no tempo actual a justeza das palavras destes dois ilustres homens de letras que se fizeram críticos cáusticos da sociedade do seu tempo, eivada dos vícios que estranhamente nos legaram, como se tudo houvesse parado e os homens ao longo das gerações não se tivessem reformado, mentalmente, mas tão só, na forma exterior do viver aperaltado.
Vejamos.
Em Junho de 1871, um pedaço de uma "farpa" diz assim:

O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida (...)  A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
 
E mais não digo, mas fico a pensar como é isto possível...
 

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