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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Breve dissertação sobre um pensamento de Tagore


Cada criança, ao nascer, traz-nos a mensagem de que Deus ainda não perdeu a esperança nos homens.
                                                                              (Tagore)
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Tagore, (Rabindranat) seguidor da cultura religiosa bengali do estado do Bengala Ocidental da Índia, foi um militante do panteísmo que não via Deus como autor da Criação do Universo e o princípio da existência humana provinda d'Ele, mas admitia que Ele em relação ao todo era a sua cabeça e existia em tudo e em todas as coisas.

Apesar destas diferenças culturais, Tagore é um dos autores mais lidos e respeitados pelos seguidores - leigos e não da Igreja romana -  que vê neste cidadão de Calcutá, a terra natal da hoje Santa Madre Teresa, um perfil de um humanismo que ultrapassa credos, línguas e Pátrias no verdadeiro sentido ecuménico que nos tempos actuais, com algumas dificuldades, vai tomando assento na consciência colectiva do ser humano.

Hoje, acidentalmente, o pensamento de Tagore que vai em epígrafe - um velho conhecido das minhas pesquisas literárias - veio ao de cima e impôs-se ante a minha admiração por tão grata figura a quem a Humanidade deve uma vasta, profunda e sábia obra literária que lhe valeu o Prémio Nobel em 1913, e que pelo seu conteúdo, humanismo, saber social e religioso, bem merece que sobre ela caia o nosso olhar e entendimento, porquanto, ela é um tesouro humano onde perpassa o sopro de Deus, aquele Ser que segundo a cultura bengali está em tudo e em todas as coisas.

Cada criança ao nascer, traz-nos a mensagem de que Deus ainda não perdeu a esperança nos homens.

É assim que se expressa Tagore, mas deixando nas palavras - ainda - a que se segue o complemento de Deus não ter perdido, de todo - a esperança nos homens - alguma interrogação humana sobre a paciência que Ele tem tido connosco desde o primeiro dia, como relata o "Génesis", o que nos leva a pensar sermos desmerecedores da honra que Ele nos deu, quanto disse que somos feitos "à sua imagem e semelhança".

Tagore tem toda a razão.

Na sua profunda e mística cultura bengali o seu pensamento voou sempre para muito longe, como aconteceu no seu poema nº 36 do seu livro Gitanjali:


Senhor, esta é a súplica que dirijo a ti: fere, fere pela raiz a avareza em meu coração.
Dá-me forças para suportar alegremente minhas alegrias e tristezas.
Dá-me forças para que meu amor frutifique em serviço.
Dá-me forças para que eu nunca despreze o pobre, nem dobre meus joelhos diante do poder insolente.
Dá-me forças para elevar minha mente muito acima da pequenez do dia-a-dia.
E dá-me forças, finalmente, para entregar com amor minha força à tua vontade.
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Lê-se a beleza destas palavras e o que fica por cima do que elas querem transmitir é a sua crença em Deus a quem, humílimo, pede forças para entregar com amor minha força à tua vontade,deixando nesta afirmação a certeza da sua condição temporal se submeter à vontade omnipotente de Deus, uma premissa que os homens do nosso tempo, algo descuidados, não seguem na plenitude que deviam.

Mas Deus, em cada criança que nasce, na sua infinita Misericórdia continua a ter esperança num novo renascimento dos homens.
É isso que lemos naquele belo pensamento do poeta Tagore.

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