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segunda-feira, 5 de março de 2018

Uma incursão pelo passado de Lisboa

in, fac-simile da Revista "O Occidente" de 20 de Janeiro de 1905
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Nos meus tempos de pequeno estudante da então chamada "Instrução Primária" no decorrer das folgas propiciadas pelas férias intercalares do ano escolar, era meu costume lúdico passar parte desses tempos no sítio lisboeta de Alcântara, levado para ali por dois familiares meus que ali superintendiam nas obras da construção da cobertura da "Ribeira de Alcântara" na parte final do caneiro com o mesmo nome e outras, bem perto da "Gare Marítima", pelo que nessa liberdade que jamais esquecerei "perdia-me" pelas imediações, vendo e admirando locais bem diversos do da minha morada, então, em Marvila.

Não raro - e por mais de uma vez - rumava até, ao local do então chamado "Mercado de Alcântara", bem perto da linha férrea de Alcântara-Terra, em local onde hoje passa a Avenida de Ceuta, e onde existiu em tempos a "Ponte de Alcântara" local onde no século XVI, D. António Prior do Crato, já aclamado rei de Portugal em Santarém, travou uma batalha de que saiu vencido pelas tropas do duque de Alba. 

Aquela construção metálica com os seus imponentes quatro torreões - um em cada canto - dos seus, sei-o hoje, 900 metros quadrados - enchia o meu olhar que desde bem cedo se habituou por uma tendência que não sei explicar a admirar as obras dos homens que constituíam ante a minha pequenez física e intelectual, maravilhas do engenho humano.

Eis, porque, há dias, ao deparar com a velha revista "O Occidente" dei com a foto que publico  - e do seu texto coevo - e desde logo todos os meus velhos tempos da pré-adolescência se ergueram lá do fundo da minha memória para se tornarem presentes na minha velhice com toda a sua carga de lembranças saudosas de um tempo de grande felicidade pessoal, um motivo que me fez voar àquele passado longínquo e à lembrança muito amiga daqueles meus dois familiares - então solteiros - e que acarinhavam em mim a imagem dos filhos que viriam a ter mais tarde.

Sei que este mercado foi demolido em 1955 tendo como causa próxima a futura construção dos acessos à "Ponte Salazar",um nome atirado para o caixote do lixo aquando da Revolução de 25 de Abril de 1974, sem que o novo regime tivesse feito algo para merecer o nome que lhe deram, "Ponte 25 de Abril".

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