A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que
nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte
da verdade e sob ângulos diversos.
Gandhi (Mohandas)
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Tela de Rubens demonstrativa da entrada acidentada em Paris de Henrique IV
Para ilustrar a tolerância temamos como exemplo o documento histórico do "Èdito de Nantes" de 1598 assinado pelo rei de França, Henrique IV que para subir ao trono se converteu ao catolicismo, tendo concedido aos protestantes calvinistas - huguenotes - a garantia de uma tolerância religiosa após a perseguição movida e o massacre de 1572.
Não foi pacífica a entrada de Henrique IV em Paris com realce para os católicos e que veio a culminar com o seu assassinato em plena rua por um monge agastado com o beneplácito real.
O problema da tolerância ao
pôr-se, assim em questões opinativas leva-nos a concluir que estas conduzem o
homem a ter sobre ele duas atitudes em confronto, uma de
respeito e amor pelo outro ainda que se tenha opinião contrária, e outra de
falsa concordância, onde o amor e o respeito cedem cobardemente os seus
atributo à falta de complacência.
Entende-se o antagonismo, a
partir do momento em que nos dispomos a
reflectir sobre o sentido da palavra – tolerância – pois, o que chega ao nosso
entendimento, não é apenas o seu significado académico: consentir, desculpar,
admitir, mas a par disto e como sentido plebeu, ela também é entendida
como uma fraqueza, um desleixo,
um deixa andar, um não ligar e, até, significando um desinteresse
onde falta todo e qualquer sentimento humano.
Tolerância é isto, no bom e mau
sentido, mas é algo mais.
Ultrapassa estas duas concepções
contrárias, assumindo-se como uma virtude serena do homem calmo, cheio por
dentro de uma grande paz interior que advém do equilíbrio que permite estar
atento a tudo quanto se passa ao seu redor, donde lhe é facultada a serenidade
quanto tem de agir e tirar conclusões justas em questões onde o julgamento
humano - falho como é – tem de ter o
melhor dos desempenhos para não ferir a sensibilidade do outro.
Aqui a tolerância está carregada
de amor humano ou de simples amizade.
A prudência não pode, por este
motivo, de estar presente na virtude de julgar, reflectindo e interiorizando
cada acontecimento, sendo a cautela onde ela assenta a sua almofada, tendo-se
como certo que todo aquele que age à revelia destes princípios corre o risco de
ser um falso tolerante, admitindo o deixa andar ou o não ligar e
outros modos, agindo-se por comodismo, fazendo-se da tolerância um engano sobre
si mesmo e sobre o outro, e o que é muito grave, fazendo dela uma caricatura.
Tolerar, pressupõe, sobretudo,
respeito pelo outro, devendo ser sempre um acto reflexo da amizade ou do amor
que obriga aquele que usa de tolerância a raciocinar para compreender o outro
na procura de o ajudar. A tolerância é, deste modo, o primeiro dos caminhos
para o trazer o à observância do que é aceitável na discussão das ideias e,
até, do ponto de vista espiritual, um modo o de fazer vir ao encontro do que é
normal na vivência adulta entre pessoas, mas tendo sempre presente que as
verdades humanas são sempre relativas, sendo apenas imutáveis os princípios da
esfera divina.
É, neste ponto que cabe ao homem
tolerante ser alguém de coração aberto.
Alguém, que normalmente esconde
uma alma acolhedora, que não repele, mas acarinha, virtudes que estando acima
do julgamento sumário – tantas vezes usado -
faz dele um elo humano de tal modo forte que ao aceitar as ideias do outro,
embora diferentes das suas, ao agir assim, o faz, por sentir brilhar nele luzes de sinceridade.
Tolerância é compreender que o
outro que caminha ao nosso lado é “ele” com todos os seus defeitos e virtudes,
e não um outro“eu”, querendo por força que ele comungue das minhas ideias, mas,
ao invés, respeitando as suas diferenças e aceitando-as, fazendo um esforço
diário para compreender o porquê das suas opiniões contrárias.
Apesar disto, as expressões “
isso não é comigo” ou “não posso endireitar o mundo” não podem fazer carreira
entre os homens, porque uma e outra são sinais evidentes da demissão a que hoje
assistimos, tolerando-se de um
modo que é falso - e que mais não é
- que o resultado de pactos de
desinteresse e de cobardia e, sobretudo,
de falta de respeito pelo outro, ao saber-se que um mundo melhor só pode ser
construído pela tolerância sadia que ao aceitar as ideias do outro, não deixa,
com sentido construtivo, de lhe fazer sentir a opinião diversa, para que do
confronto das duas, possam, eventualmente, nascer os consensos necessários à
concertação das coisas.
Mas tolerar pela demissão, nunca
o façamos, porque é sempre uma fuga que não pode ser consentida ao homem
verdadeiramente tolerante, pois é do esforço por compreender e aceitar o outro
que crescem as amizades fortes e se enriquece o mundo a começar pela acção
isolada de cada um que cumpre no grande palco da vida a sua missão interventiva
na sociedade, tarefa de que ninguém está excluído.
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