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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Uma lembrança antiga

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA ROCHA
DE CARNAXIDE

in, Revista " O Occidente" de 1 de Junho de 1893
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Recordo-me bem.
Aconteceu este facto num dia de Domingo, em 25 de Maio de 1947. 
Era adolescente e naquele dia realizava-se a Festa de Nossa Senhora da Rocha, em Carnaxide.
Com meus pais embarquei em Algés na camioneta que fazia a ligação com aquela localidade juntamente com outros festeiros que ali iam - como nós - festejar uma Imagem de Nossa Senhora que aparecera numa das margens do rio Jamor, sem que tardasse a ser causa de uma romaria que foi famosa, e ainda o era nos meus tempos verdes.
Coisas que ficam para sempre...



Acontecera aquele aparecimento de Nossa Senhora na manhã do dia 28 de Maio de 1822, quando uns rapazes do povoado que por ali andavam entregues às suas brincadeiras a correr atrás de um melro que os espicaçava voando de pedra em pedra até desaparecer, dando o seu lugar a um coelho bravo que ao sentir-se perseguido se meteu pela fenda de uma rocha, desaparecendo também.

Os rapazes não podendo entrar pela fenda foram buscar ferramentas e alargaram-na na esperança de caçar o coelho e qual não foi o espanto ao darem  com uma grande lapa de forma oval com 28 palmos de comprimento e 24 de largura, tendo encontrado restos de ossadas humanas.

Aquela descoberta fez afluir à gruta alguns populares encabeçados por Manuel Plácido a quem coube a descoberta de uma Imagem de barro de Nossa Senhora, um facto que a partir daquele momento passou a levar àquele local gente de Lisboa e arredores, transformando-o num arraial onde iam todas as classes - nobreza, clero e povo - que não tardaram a dar esmolas no sentido de se erguer uma memória em honra daquela Imagem, o que levou o rei D. João VI por portaria de 27 de Julho de 1822 a ordenar  que a Imagem fosse transportada para a Sé de Lisboa, o que veio a acontecer em 5 de Agosto imediato, contra o desgosto das gentes de Carnaxide que com as esmolas recebidas não desistiu de erguer um templo condigno, até que em 1882, sendo ministro do Reino o conselheiro Tomaz Ribeiro, o governo acedeu, estando concluída a obra, que a Imagem de Nossa Senhora da Rocha voltasse para Carnaxide.

A Festa da inauguração ocorreu no dia 28 de Maio de 1893 coma presença da Rainha D. Amélia, a quem, no final da cerimónia foi oferecida uma pasta emoldurada coma Flor de Liz e de Cristo, obra de Rafael Bordallo Pinheiro, com os seguintes versos:

Senhora, já tendes visto
Como fica a flor de Liz.
Bela entre as Cruzes de Cristo
De S. Tiago  e de Aviz.

Na pasta, para além assinaturas dos mesários assinaram a Senhora D. Joana Hintze RIbeiro e marido, conselheiro, Hintze Ribeiro.

Fonte: Revista "O Occidente" de 1 de Junho de 1893

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