NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL
UMA TRADIÇÃO POPULAR QUE MERECEU A HONRA
DO ALTAR-MOR DO SANTUÁRIO QUE LHE FOI DEDICADO EM 1707
O culto a Nossa Senhora do Cabo
Espichel tem a sua origem mais antiga no ano de 1215 se atendermos à primeira
das lendas que lhe deu origem, e na qual ela nos diz que uma Luz vinda do Céu iluminou o espigão do Cabo Espichel, numa noite de vendaval.
“A venerável imagem de Nossa Senhora apareceu cerca de 1215. Pertencia a um frade eremita de S. Agostinho, Hildebrando, que viajava numa embarcação mercante inglesa, que, quando se dirigia a Lisboa, foi apanhada, já noite cerrada, por tão violento temporal que nem o leme manobrava. Nesta aflitiva situação, quando todos se viam já ameaçados de se afundarem ou de se despedaçarem contra os rochedos, o frade pretendeu ir buscar a santa imagem para que, em conjunto, implorassem a divina protecção — surpresa, tinha desaparecido, com as alterosas ondas que invadiam a embarcação. Mas a sua fé naquela representação de Nossa Senhora era tão grande que, mesmo assim, incitou a que todos a evocassem de joelhos e se lhe recomendassem. Eis então que, de repente, forte luz rompeu o denso negrume da noite, como um sol, e amainaram os ventos e sossegaram as ondas. Com bonança, navegaram em direcção à luz e deitaram ferro junto à costa. Ao amanhecer, desembarcaram, curiosos de se inteirarem da origem da estranha e milagrosa claridade, e, subindo a escarpa, lá se lhes deparou, maravilhados, a precisa imagem de Nossa Senhora que havia desaparecido na véspera — fonte do luzeiro e da acção apaziguadora da intempérie. Em sinal de reconhecimento e de admiração, por entenderem que a Senhora tinha eleito aquele local, não a quiseram retirar e, nesse exacto lugar, construíram-lhe uma ermida, que Frei Hildebrando e o seu companheiro de viagem, Bartolomeu, fidalgo e também inglês, conservaram com reverente zelo”.
Aconteceu isto num tempo em que a Humanidade vivia a Baixa Idade Média ou 2º período, que abarcou os séculos XI ao XV, dirigindo a cristandade o Papa Inocêncio III (1198-1216) e assistindo-se em Portugal à expulsão do poderio muçulmano que desde o ano 711 ocupou as intenções do povo fiel à Mãe de Deus na Reconquista cristã do território, onde o culto a Nossa Senhora por nunca se ter extinguido, desde o século X, conforme assinala João Ameal no primeiro volume do seu Livro: Fátima Altar do Mundo, o nosso território da beira-mar, entre o Douro e o Vouga, aparece com a designação especial de “Terra de Santa Maria”, que depois se ampliou a toda a terra portuguesa, porque na verdade, a Virgem dominou desde as margens do Minho aos confins do Algarve, de onde, efectivamente o poder muçulmano foi expulso no ano de 1249.
“A venerável imagem de Nossa Senhora apareceu cerca de 1215. Pertencia a um frade eremita de S. Agostinho, Hildebrando, que viajava numa embarcação mercante inglesa, que, quando se dirigia a Lisboa, foi apanhada, já noite cerrada, por tão violento temporal que nem o leme manobrava. Nesta aflitiva situação, quando todos se viam já ameaçados de se afundarem ou de se despedaçarem contra os rochedos, o frade pretendeu ir buscar a santa imagem para que, em conjunto, implorassem a divina protecção — surpresa, tinha desaparecido, com as alterosas ondas que invadiam a embarcação. Mas a sua fé naquela representação de Nossa Senhora era tão grande que, mesmo assim, incitou a que todos a evocassem de joelhos e se lhe recomendassem. Eis então que, de repente, forte luz rompeu o denso negrume da noite, como um sol, e amainaram os ventos e sossegaram as ondas. Com bonança, navegaram em direcção à luz e deitaram ferro junto à costa. Ao amanhecer, desembarcaram, curiosos de se inteirarem da origem da estranha e milagrosa claridade, e, subindo a escarpa, lá se lhes deparou, maravilhados, a precisa imagem de Nossa Senhora que havia desaparecido na véspera — fonte do luzeiro e da acção apaziguadora da intempérie. Em sinal de reconhecimento e de admiração, por entenderem que a Senhora tinha eleito aquele local, não a quiseram retirar e, nesse exacto lugar, construíram-lhe uma ermida, que Frei Hildebrando e o seu companheiro de viagem, Bartolomeu, fidalgo e também inglês, conservaram com reverente zelo”.
in, http://www.lendarium.org/narrative/n-sa-do-cabo
Aconteceu isto num tempo em que a Humanidade vivia a Baixa Idade Média ou 2º período, que abarcou os séculos XI ao XV, dirigindo a cristandade o Papa Inocêncio III (1198-1216) e assistindo-se em Portugal à expulsão do poderio muçulmano que desde o ano 711 ocupou as intenções do povo fiel à Mãe de Deus na Reconquista cristã do território, onde o culto a Nossa Senhora por nunca se ter extinguido, desde o século X, conforme assinala João Ameal no primeiro volume do seu Livro: Fátima Altar do Mundo, o nosso território da beira-mar, entre o Douro e o Vouga, aparece com a designação especial de “Terra de Santa Maria”, que depois se ampliou a toda a terra portuguesa, porque na verdade, a Virgem dominou desde as margens do Minho aos confins do Algarve, de onde, efectivamente o poder muçulmano foi expulso no ano de 1249.
Aquela Luz vinda do Céu e que veio
a dar na terra portuguesa a invocação de Senhora
do Cabo à Mãe de Jesus foi um prémio com que a Virgem quis saudar a terra
portuguesa, que mesmo durante o domínio a que esteve sujeita, nunca deixou de a glorificar, como aconteceu com a invocação no século XI de Santa Maria do Ocidente, em Faro, cuja cidade, consta-se, teria
sido fundada na época visigótica e que, a ter em conta o relato de João Ameal, um cruzado que passou pelo Algarve, no
século XII diz textualmente: Santa Maria de Faron.
Todo este fervor mariano se ficou a
dever ao nosso primeiro rei, Afonso Henriques, que na tomada de Santarém aos mouros, citando, ainda, João Ameal nos deixa o seguinte
documento firmado por ele mesmo: Desejando
agora ter também por advogada junto de Deus a Bem-Aventurada Virgem, coloco-me a mim, ao meu reino, ao meu povo e aos meus
sucessores sob o amparo e protecção de Santa Maria de Claraval, como é
sabido, uma invocação que ia em direcção a S. Bernardo de Claraval (1090-1153) monge
da Ordem de Cister e fundador da Casa “Clairvaux” – Claraval - e que viria a ser
a figura mais marcante da Ordem de Cister para quem aquele rei mandou construir em 1152 o Mosteiro de Alcobaça dedicado a Santa Maria.
Podendo afirmar-se que a
Reconquista cristã no território português foi obra da religião e patriotismo,
não tardou o trabalho da reorganização eclesiástica sob a autoridade moral e
religiosa da Santa Sé em obediência ao magistério espiritual do Papa e se antes
da fundação da monarquia portuguesa – conforme relata o P. Miguel de Oliveira
na sua “História da Igreja” – já tinham sido definitivamente restauradas as
dioceses de Braga (1070), Coimbra (1080) e Porto (1114), seguindo a leitura do historiador cristão. no reinado de D, Afonso Henriques,
restauram-se as de Lamego (1147?). Viseu (1147?), Lisboa (1147) e Évora (1166);
no de D. Sancho I, a egitaniense, na Guarda (1203?) e a ossonobense em Silves
(1189), tendo esta sido confirmada em 1253 depois da conquista definitiva do Algarve.
Por tudo quanto se expende somos
levados a concluir que a lenda que nos fala o aparecimento
milagroso da Imagem da Virgem no Cabo Espichel foi um testemunho com que a Santa
Imaculada quis distinguir as Terras de
santa Maria e que a Luz vinda do Céu
que o frade Hildebrando e toda a marinhagem da nau que se dirigia para Lisboa e
se viu acossada pelo tremendo temporal pela altura do Cabo Espichel naquela
noite tormentosa, foi a mesma que viu no ano de 1410 aquele habitante de
Alcabideche que “desde a serra de Sintra
viu um a luz intensa como uma estrela no cimo do Cabo Espichel”, como o assevera um relato deste evento secular.
Ou seja, e em conclusão, a Virgem
esperou pacientemente, enquanto ia amparando no seu regaço de Mãe que o povo
português lhe desse naquele Promontório desabrido uma morada condigna, o que só
veio a acontecer com o início da sua construção em 1701 e foi concluída e sagrada no ano de 1707 pela Casa do Infantado
criada em 1654 pelo rei D. João IV, dando-se, então, a trasladação da Imagem da Senhora da
Ermida da Memória para a sua nova Casa.
A actual Ermida da Memória,
elemento arquitectónico inserido no perímetro do Santuário situa-se no topo da
escarpa sul da Baía dos Lagosteiros, no Cabo Espichel.
Segundo uma carta régia de 14 de
Abril de 1366, de D. Pedro I, este local onde existiu a primitiva ermida de
Santa Maria da Pedra Mua construida neste mesmo ano, era já um local de grande
romaria popular.
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