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domingo, 25 de novembro de 2018

As lendas das Senhora do Cabo



AS LENDAS NA ORIGEM DO CÍRIO E DAS FESTIVIDADES POPULARES


As lendas da Senhora do Cabo na sua formulação ingénua, mas crente, têm por base as Escrituras da Bíblia Sagrada, pese embora o facto de serem narrativas de origem popular criadas e transmitidas oralmente, como um produto nascido da imaginação colectiva de um grupo de pessoas ou de um povo, que ali, na penedia agreste do Cabo Espichel, olhando o fervilhar das águas oceânicas sentiram no desconhecido que então se vivia a força sobrenatural de Deus cujo alto Espírito vogava sobre as águas do grande Mar.

A veneração a Nossa Senhora do Cabo nasceu, efectivamente, de acontecimentos extraordinários acontecidos na Serra da Arrábida que deram origem às respectivas lendas que se foram enraizando na alma popular, “como coisas que devem ser lidas”,  como as que se fundam  nos acontecimentos ocorridos no Cabo Espichel, e que ao terem sido apropriadas pela comunidade local e pela sua força se tornaram credíveis pela comparação entre o teor das suas narrações e os factos ocorridos e commumente aceites pela sociedade.

 Temos, assim, que as lendas da Senhora do Cab são uma explicação plausível e aceitável para algo que ali aconteceu que sem ter uma explicação científica comprovada, a sobrenaturalidade se encarregou de combinar o facto histórico da existência da Virgem Maria, Mãe de Jesus Cristo, com o Mistério do aparecimento de uma sua Imagem naquele local com o fim de transmitir através da força da fé um incentivo de ordem real a um povo, que naquele preciso momento estava, com a Reconquista Cristã, a concluir em  território nacional ( o que viria a acontecer em  1249) a expulsão muçulmana de uma crença contrária aos ideais que haviam estado na origem da Pátria Portuguesa.

A primeira lenda diz que “a venerável imagem de Nossa Senhora apareceu cerca de 1215. Pertencia a um frade eremita de S. Agostinho, Hildebrando, que viajava numa embarcação mercante inglesa, que, quando se dirigia a Lisboa, foi apanhada, já noite cerrada, por tão violento temporal que nem o leme manobrava. Nesta aflitiva situação, quando todos se viam já ameaçados de se afundarem ou de se despedaçarem contra os rochedos, o frade pretendeu ir buscar a santa imagem para que, em conjunto, implorassem a divina protecção — surpresa, tinha desaparecido, com as alterosas ondas que invadiam a embarcação. Mas a sua fé naquela representação de Nossa Senhora era tão grande que, mesmo assim, incitou a que todos a evocassem de joelhos e se lhe recomendassem. Eis então que, de repente, forte luz rompeu o denso negrume da noite, como um sol, e amainaram os ventos e sossegaram as ondas. Com bonança, navegaram em direcção à luz e deitaram ferro junto à costa. Ao amanhecer, desembarcaram, curiosos de se inteirarem da origem da estranha e milagrosa claridade, e, subindo a escarpa, lá se lhes deparou, maravilhados, a precisa imagem de Nossa Senhora que havia desaparecido na véspera — fonte do luzeiro e da acção apaziguadora da intempérie. Em sinal de reconhecimento e de admiração, por entenderem que a Senhora tinha eleito aquele local, não a quiseram retirar e, nesse exacto lugar, construíram-lhe uma ermida, que Frei Hildebrando e o seu companheiro de viagem, Bartolomeu, fidalgo e também inglês, conservaram com reverente zelo”.
in, http://www.lendarium.org/narrative/n-sa-do-cabo

A segunda lenda remonta ao ano de 1410, quando um habitante de Alcabideche, desde a Serra de Sintra viu uma luz intensa como uma estrela no cimo do Cabo Espichel, tendo sido avisado em sonho por Nossa Senhora que naquele local ela havia de encontra uma sua Imagem que havia séculos ali estava a pedir que os devotos lhe prestassem culto.
De imediato pôs-se a caminho, mas tendo anoitecido por altura da Caparica, pediu pousada a uma mulher daquela local a quem referiu o sonho que tivera. Aconteceu que ao acordar não viu a sua hospedeira e pôs-se a caminho do Cabo, onde a veio a encontrar em oração à qual se juntou, tendo na frente dos olhos a Imagem que vira no seu sonho e de que resultou que os povos de Alcabideche e da Caparica, em grande número passaram a peregrinar até à àquele local.

A terceira lenda conta que um grupo de vários homens do sitio de Caparica, que iam á serra cortar lenha, foram os que tiveram a ventura de primeiro ver a Senhora, divergindo neste ponto das lendas anteriores, mas convergindo no essencial: no aparecimento da Imagem da Virgem Nossa Senhora.

Paralelamente a estas tradições existe ainda outra – a que chamaremos a quarta lenda - que nos dá conta do milagroso aparecimento da Senhora da Pedra de Mua.

Frei Agostinho de Santa Maria (17, Tomo II, p. 474) narra-a com pormenores: «(…) afirmam que a Senhora aparecera na praia que lhe fica em baixo da mesma penha, onde se edificou a Ermidinha, e que aparecera sobre sua jumentinha, e que esta subira pela rocha acima, e que ao subir ia firmando as mãos, e os pés na mesma rocha, deixando impressos nela os vestígios das mãos, e pés (…)». Sublinhando que «de ser isto assim o afirmava a tradição dos que viram estes mesmos sinais, que hoje já tem gastado, e consumido o tempo», acrescenta que a Ermida «se fundou no lugar aonde a Senhora parou, naquela liteirinha vivente que a levava» e que a capela «desfez muitas vezes o tempo; mas a devoção dos que a servem, a reformou outras tantas vezes, apesar dos seus rigores.»
Saliente-se ser frei Agostinho de Stª Maria o único autor antigo a mencionar esta tradição. Todavia, a lenda surge-nos igualmente contada - com alterações - nos azulejos historiados da Ermida da Memória: aí se lê, em autêntica banda desenhada setecentista, que foram os dois velhos de Alcabideche e da Caparica quem presenciou o milagre da subida de Nossa Senhora pela arriba, montada na sua mula e transportando o menino ao colo. Estes azulejos relatam, assim, uma versão composta das duas tradições: a da subida da Virgem e das pegadas da mula, narrada por Agostinho de Stª Maria, e a dos dois anciãos que descobriram a imagem, narrada por Cláudio da Conceição.
in, Wikipedia


Painel de azulejos referente a esta lenda

Temos uma quinta lenda que não se fundando como as antecedentes em casos extraordinários que ganharam raízes pela transmissão oral dos acontecimentos inexplicáveis à razão mais secularizada, assenta historicamente num facto histórico ocorrido na Península Ibérica como era conhecido o território ocidental invadido pelo general berbere Tarik e 711, num tempo em que conforme afirma João Ameal no 1º volume do seu livro “Fátima, Altar do Mundo”  quando diz:  É no século VII que a história encontra na Península a primeira festa em honra da Virgem  Santíssima. Dela nos deixaram  precioso testemunho os padres do 10º Concílio de Toledo (1º de Dezembro de 656).

Vencidos os visigodos na batalha de Guadalete, Tarik iniciou o domínio muçulmano que se eio a estender por vários séculos até ao final da Reconquista Cristã da Península, o que deu origem a que o povo cristão aconselhado e orientado  pelo presbiterado tenha escondido ou enterrado as Imagens da Virgem em sítios ermos ou  inóspitos com o fim das mesmas não serem  descobertas e profanadas. Há quem sustente que a Imagem da Senhora do Cabo teria sido uma dessas e o achado interpretado como um sinal divino. derivando daí o culto secular que ea veio a merecer ao povo cristão.

Esta lenda se não tem o cunho transcedental das anteriores, tendo por base uma realidade histórica que os acontecimentos bélicos originaram, não deixa de ter a sua base no achamento da Imagem, como se a intuição humana tivesse sido conduzida pelo sobrenatural àquele lugar no cimo da escarpa do Cabo Espichel.

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