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terça-feira, 22 de julho de 2014

"A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue"



Gravura do Jornal "O Xuão" de 2 de Fevereiro de 1909



Em 1909, data desta gravura, as ideias republicanas fervilhavam, inundando os espíritos que se haviam revoltado contra a Monarquia. 
É daí que nasceu esta homenagem simbolizada num vulto feminino - A República - empunhando uma bandeira que sendo, na altura indistinta na representação pictórica da ideia que acalentava os revolucionários, nas faixas vermelhas da coroa de louros que é depositada no fuste onde se lê "A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue" lá está bem patente o testemunho da homenagem "Da Liberdade aos Seus Defensores" que já dormiam a "Paz dos Justos".

Esta gravura, belíssima, quanto à forma e ao conteúdo que se lê ou se pressente, traduz - ontem como acontecerá sempre - a verdade fundada no conceito que diz, que nada e ninguém é capaz de aprisionar a ideia, porque ela há-de ser sempre a liberdade maior do homem - o Ser - a que, um dia, Antero de Quental, num arroubo poético dos muitos que lhe encheram a vida, entendeu, que o seu passar diante da Vida era um espectáculo divino, porque, dono das suas ideias, por si mesmas elas eram chamas, assemelhando-se a vivos sóis.


N'um céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino.

Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...

A ideia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!

Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis!

Antero de Quental, in "Sonetos"


Eis, porque, a gravura que anteviu a implantação da República, sentimo-la inteiramente representada no último terceto que Antero de Quental, que assemelhando-se a um profeta, nos legou como fanal as ideias chamadas a implantar na Vida e em cada um dos seus momentos a luta que é preciso travar "Té que a fecunde o sangue dos heróis" , na certeza que estes são, todos os que no repouso da paz dos justos deixaram sementes, porquanto toda a ideia que traz consigo um "fogo que nunca se extingue" é, de tal modo profícua que as sementes que ela deixou serão sempre para os que ficaram feixes de luz!

Concluindo, diremos, como são infinitos os caminhos filosóficos que expressam a "ideia", mas para a entender não podemos omitir o filósofo que foi Antero de Quental ao chamar-nos espectáculo divino.
Na realidade, cada um de nós o é.

Assim, que todas as nossas ideias sejam postas na construção das coisas e da nossa própria construção humana, pondo em cada intenção o divino que trazemos colado à nossa natureza perecível.
Que o epitáfio da gravura "A Ideia é Fogo que Nunca se Extingue" erga em nós o fogo das "Paixões ardentes como vivos sóis", na certeza que tal como o Sol que nunca se extingue, a nossa ideia é assim, pela simples razão que ela é um espectáculo divino que passa...



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