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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sabedoria do Mundo - Ser Eu!




                           EU QUERIA SER...

  • VIDA, para fazer renascer os que estão morrendo...
  • SOL, para fazer brilhar os que não possuem a Lua...
  • LUZ, para iluminar os que vivem na escuridão...
  • CHUVA, para correr toda a terra e molhar os campos secos e devastados...
  • LÁGRIMA, para fazer chorar os corações insensíveis...
  • VOZ, para fazer falar os que sempre se ocultaram...
  • CANTO, para alegrar os que vivem na tristeza...
  • LUAR, para brilhar na noite dos amores incompreendidos...
  • FLOR, para enfeitar os jardins no outono...
  • SILÊNCIO,para fazer calar as vozes que atordoam o coração do homem. ..
  • SINOS, para repicar nos Natais dos que possuem recordação amarga...
  • GRITO, para gritar a dor dos que sofrem no silêncio...
  • OLHOS, para fazer enxergar os cegos de Verdade...
  • FORÇA, para fugir dos que a utilizam para o mal...
  • SORRISO, para encantar os lábios dos amargurados...
  • SONHO, para colorir o sono dos realistas petrificados...
  • VEÍCULO, para trazer de volta os que partiram deixando saudades...
  • AMANHECER, para fazer um dia a mais de felicidade sobre a Terra...
  • NOITE, para acalentar os que lutam durante o dia...
  • AMOR, para unir as pessoas.
Autor Desconhecido


Eu queria ser tudo isto de que fala o "autor desconhecido", que são, apenas, metas para alcançar ser "Eu" - a meta maior que todos devemos desejar: ou seja, que o "eu" resulte, como acontece no cadinho do fundidor em que a uma imagem final é o resultado da ligação de vários componentes materiais e que na lógica das atitudes humanas se traduz naquilo que nos é dito pelo "autor desconhecido" e, também, por este texto de Fernando Pessoa que nos deixou, determinado - depois de ter apagado o último rasto de influência dos outros - esta prosa para ler e reler.

Hoje Tomei a Decisão de Ser Eu

Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser.
 Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
 Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste.
 O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
 Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.
                                                                                        in, 'Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação'


Fernando Pessoa não nos diz algo sobre se, nas viagens que fez de impressões pelos outros se fez arauto do Eu Queria Ser - ou se admitiu proceder com coisas semelhantes - das que fala o "autor desconhecido", mas conclui, determinadamente: Nasci.

E este "nascimento" parece culminar do facto dantes ter dito - reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros - que nos conduz num exercício analítico e lógico, a pensar nas teses do Eu Queria Ser do "autor desconhecido"  e tê-las como luzes que todos - quando reentramos em nós depois das viagens de aprendizagem da vida que temos de fazer pelos outros - concluirmos que o "Eu" individualista e "sui generis", para o ser, verdadeiramente, tem de penetrar nos recônditos da vida por onde passam os "outros".

Tenho para mim que Fernando Pessoa, embora tendo apagado as influências dos outros no seu carácter, percorreu este caminho e como os grandes homens do pensamento antes de tomarem o "Eu" como uma conquista pessoal se enriqueceram nas ajudas humanas que todos somos obrigados a dar uns aos outros.

Finalizando, dir-se-á que o "Eu queria ser" do "autor desconhecido" é um texto repleto de sentido humano, a começar por querer ser VIDA, não para o "Eu" que ele é - como todos somos - mas para fazer renascer os que estão morrendo, na certeza que é servindo os outros naquilo que desejamos ser, que enchemos de vida humana o nosso "Eu" que só o é, em pleno, quando ele tiver resultado de tudo o que acontece à nossa volta.

O importante a reter é que, verdadeiramente, o "Eu" só existe quando se percorre o caminho do "Eu Queria Ser"!


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