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domingo, 19 de julho de 2015

Agradecer à Natureza pela "casa comum"!


«Crescei, multiplicai--vos, enchei e submetei a terra.
Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais 
que se movem na terra.» (Gn 1,28)




Agradecer à Natureza pela "casa comum"!
É o que esta bela foto sugere.

A sua força, de certo modo, faz que a nossa mente quando interpreta o Princípio dos Tempos se volte para aquele desiderato de Deus relatado no Livro de Génesis acima referido e no gesto humano - olhando os braços abertos da personagem - atentemos que estes nos dão a noção de sermos no tempo presente, reflexos do que aconteceu na Origem, tendo  por direito próprio o poder do domínio sobre a Natureza.

No entanto, é conveniente entender que este domínio não é o de posse absoluta de um bem que é de todos, mas da posse que nos cabe, individualmente, sobre uma pequena migalha do Universo que deve ser preservada, e como tal, cumpre agradecer a Deus o facto de no-la ter concedido.

A gravura diz-nos algo sobre isto mesmo.

De braços abertos o que se lê no humano do gesto é que, aquela personagem agradece a Deus pela Natureza que tem em frente, como se esta fosse um livro aberto, sabendo que uma das páginas por lhe pertencer, é nela que tem de deixar a sua acção para bem da Ecologia sobre o cuidado da "casa comum", de que o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis é o maior exemplo que temos desde o ano 1224, data em que se crê ter surgido este cântico de louvor à Natureza - com Deus na Origem - tendo o mesmo sido escrito e cantado pelo celebrado frade católico.

in, Jornal "Acção Missionária" de Julho 2015


CÂNTICO DAS CRIATURAS

Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor
Teus são o Louvor, a Glória, a Honra e toda a Bênção.

Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol,
que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina.
Ele é belo  e radiante, com grande esplendor;
de Ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas,
que no céu formaste, claras,  preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor.
pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno e por todo o tempo
em que dás sustento às Tuas criaturas.

Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde, preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo, com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre, vigoroso e forte.

Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa,
produz frutos diversos, flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor,
pelos que perdoam pelo Teu amor
e suportam as enfermidades e  tribulações.

Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a morte corporal,
da qual homem algum pode  escapar.

Louvai todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!


Este cuidado da "casa comum" que se pressente em cada verso inspirou a segunda Epístola do Papa Francisco - Laudato Si - Louvado sejas, meu Senhor - que, ao longo dos seus 246 artigos o que se pretende é chamar a nossa atenção pelos maus tratos que damos à mãe terra, exemplarmente exaltada por S, Francisco de Assis, pelo que o gesto de braços abertos da foto é uma prefiguração do que é cantado no Cântico das Criaturas, como se naquele gesto se abjurasse o pérfido conceito de nos julgarmos proprietários da mãe terra e seus dominadores, indo ao ponto de nos sentirmos autorizados - pela nossa própria e malévola autoridade - a saqueá-la, permitindo-nos possuir só para nós um bem que é de todos.

O Mandato do Domínio no versículo do Génesis acima referido no rodapé da foto, embora nos autorize a deitar mão de três Mandamentos, 
  • Crescei e multiplicai-vos,
  • Enchei e submetei a Terra,
  • Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre os animais que se movem,
Em nenhum deles se infere a posse dos bens só para si, ao belo prazer de cada criatura, mas usufruindo cada uma da parte que lhe cabe, pelo que, convém referir que todos aqueles que se focam, sobretudo, nos dois últimos Mandamentos o que fazem perante os seus iguais é apresentar uma face mutilada do Mandato do Domínio, quando este, o que pretende é que cada homem ao apresentar os braços abertos para a Natureza que é de todos - a "casa comum" de que nos fala o Papa Francisco - saiba que no agradecimento que lhe é devido, vai inteiro o sentido, de nos sabermos irmãos de:
  • Todas as criaturas,
  • Do Sol, 
  • Das estrelas.
  • Do vento,
  • Do ar e das nuvens,
  • Da água,
  • Do fogo,
  • Da nossa irmã terra,
E, assim, o que temos de reter é que cada coisa criada se irmana connosco e, portanto, cada uma delas deve merecer não a posse avara do nosso domínio sobre ela, mas sim, a posse racional de um bem que sendo parte comum da casa de todos, faz que todos sejamos arrendatários e não senhorios dos bens que a Natureza colocou ao nosso dispor.

Voltando ao braços abertos da foto o que aquela imagem sugere, não é só um agradecimento a Deus Criador, mas é, no nosso mundo hedonista um sinal profundo por ter sido assim que Jesus expirou na Cruz, deixando implícito no gesto, o amor que sentia por todos os homens, que, ou se voltam para todos e para Mãe Natureza onde Deus habita ou este Mundo cansado da destruição que está a causar à "casa comum", há-de ver - mas tarde - que a sua falta de amor pelos irmãos seus semelhantes e pelos outros irmãos expressos no Cântico das Criaturas, se há-de deixar vencer pelo excesso de posse, quando aquilo que havia de estar presente era o equilíbrio que é devido à sua justa repartição.

Que os nossos braços, vezes demais em baixo para poderem abraçar melhor as coisas da Terra, se ergam - como os da bela foto - e agradeçam os momentos que nos são dados viver, tendo a noção que é largo o horizonte, mas nosso, apenas é, o solo que pisamos como arrendatários e não donos da "casa comum".

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