«Crescei, multiplicai--vos, enchei e submetei a terra.
Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e
sobre todos os animais
que se movem na terra.» (Gn 1,28)
Agradecer à Natureza pela "casa comum"!
É o que esta bela foto sugere.
A sua força, de certo modo, faz que a nossa mente quando
interpreta o Princípio dos Tempos se volte para aquele desiderato de Deus
relatado no Livro de Génesis acima referido e no gesto humano - olhando os
braços abertos da personagem - atentemos que estes nos dão a noção de sermos no
tempo presente, reflexos do que aconteceu na Origem, tendo por direito próprio o poder do
domínio sobre a Natureza.
No entanto, é conveniente entender que este domínio não é o
de posse absoluta de um bem que é de todos, mas da posse que nos cabe,
individualmente, sobre uma pequena migalha do Universo que deve ser preservada,
e como tal, cumpre agradecer a Deus o facto de no-la ter concedido.
A gravura diz-nos algo sobre isto mesmo.
De braços abertos o que se lê no humano do gesto é que,
aquela personagem agradece a Deus pela Natureza que tem em frente, como se esta
fosse um livro aberto, sabendo que uma das páginas por lhe pertencer, é nela
que tem de deixar a sua acção para bem da Ecologia sobre o cuidado da "casa
comum", de que o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis é o maior
exemplo que temos desde o ano 1224, data em que se crê ter surgido este
cântico de louvor à Natureza - com Deus na Origem - tendo o mesmo sido escrito
e cantado pelo celebrado frade católico.
Altíssimo,
Omnipotente, Bom Senhor
Teus
são o Louvor, a Glória, a Honra e toda a Bênção.
Louvado
sejas, meu Senhor,
com
todas as Tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol,
que
clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina.
Ele é
belo e radiante, com grande esplendor;
de
Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pela
irmã Lua e pelas estrelas,
que
no céu formaste, claras, preciosas e
belas.
Louvado
sejas, meu Senhor.
pelo
irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo
sereno e por todo o tempo
em
que dás sustento às Tuas criaturas.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pela
irmã água, útil e humilde, preciosa e casta.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pelo
irmão fogo, com o qual iluminas a noite.
Ele é
belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pela
nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa,
produz
frutos diversos, flores e ervas.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pelos
que perdoam pelo Teu amor
e
suportam as enfermidades e tribulações.
Louvado
sejas, meu Senhor,
pela
nossa irmã, a morte corporal,
da
qual homem algum pode escapar.
Louvai
todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe
graças e servi-O com grande humildade!
Este cuidado da "casa comum" que se
pressente em cada verso inspirou a segunda Epístola do Papa Francisco - Laudato
Si - Louvado sejas, meu Senhor - que, ao longo dos seus 246 artigos o que se pretende é chamar a nossa atenção pelos maus tratos que damos à mãe terra,
exemplarmente exaltada por S, Francisco de Assis, pelo que o gesto de braços abertos da foto é uma prefiguração do que é cantado no
Cântico das Criaturas, como se naquele gesto se abjurasse o pérfido conceito de nos julgarmos proprietários da mãe terra e seus dominadores, indo ao ponto de nos sentirmos autorizados - pela nossa própria e malévola autoridade - a saqueá-la, permitindo-nos possuir só para nós um bem que é de todos.
O Mandato do Domínio no versículo do Génesis acima referido no rodapé da foto, embora nos autorize a deitar mão de três Mandamentos,
- Crescei e multiplicai-vos,
- Enchei e submetei a Terra,
- Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre os animais que se movem,
Em nenhum deles se infere a posse dos bens só para si, ao belo
prazer de cada criatura, mas usufruindo cada uma da parte que lhe cabe, pelo que, convém referir que todos aqueles que se focam, sobretudo, nos dois últimos Mandamentos o que fazem perante os seus iguais é apresentar uma face mutilada do Mandato do Domínio, quando este, o que pretende é que cada homem ao apresentar os braços abertos para a Natureza que é de todos - a "casa comum" de que nos fala o Papa Francisco - saiba que no agradecimento que lhe é devido, vai inteiro o sentido, de nos sabermos irmãos de:
- Todas as criaturas,
- Do Sol,
- Das estrelas.
- Do vento,
- Do ar e das nuvens,
- Da água,
- Do fogo,
- Da nossa irmã terra,
E, assim, o que temos de reter é que cada coisa criada se irmana connosco e, portanto, cada uma delas deve merecer não a posse avara do nosso domínio sobre ela, mas sim, a posse racional de um bem que sendo parte comum da casa de todos, faz que todos sejamos arrendatários e não senhorios dos bens que a Natureza colocou ao nosso dispor.
Voltando ao braços abertos da foto o que aquela imagem sugere, não é só um agradecimento a Deus Criador, mas é, no nosso mundo hedonista um sinal profundo por ter sido assim que Jesus expirou na Cruz, deixando implícito no gesto, o amor que sentia por todos os homens, que, ou se voltam para todos e para Mãe Natureza onde Deus habita ou este Mundo cansado da destruição que está a causar à "casa comum", há-de ver - mas tarde - que a sua falta de amor pelos irmãos seus semelhantes e pelos outros irmãos expressos no Cântico das Criaturas, se há-de deixar vencer pelo excesso de posse, quando aquilo que havia de estar presente era o equilíbrio que é devido à sua justa repartição.
Que os nossos braços, vezes demais em baixo para poderem abraçar melhor as coisas da Terra, se ergam - como os da bela foto - e agradeçam os momentos que nos são dados viver, tendo a noção que é largo o horizonte, mas nosso, apenas é, o solo que pisamos como arrendatários e não donos da "casa comum".
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