ÀS TRINDADES
Tocou o sino às Trindades
E eu ouvi a voz do sino,
Sentindo em mim as saudades
Dos meus tempos de menino.
Era nessa branda hora
De penumbras, ao sol-posto,
Que eu via Nossa Senhora
Mostrar-me o céu no seu rosto.
Subiam fumos além.
Era então que eu repetia,
Mãos nas mãos de minha mãe,
Três vezes: - Avé Maria!
in, Novos Cantares de Santa Maria
Lê-se esta poesia de Mons. Francisco Moreira das Neves e ficamos com a certeza do grande poeta mariano que ele foi, o que levou João Bigotte Chorão no Prefácio do Livro "Novos Cantares de Santa Maria" a escrever: Poeta mariano toda a vida, eis que, quando a tarde já vinha descendo sobre ele como outrora sobre os discípulos de Emaús, Moreira das Neves ergue de novo a sua prece e o seu cântico Àquela que é de todas as mulheres a mais digna de louvor.
Há nas três quadras um sabor à sua meninice em terras de Gandra - onde nasceu - e a cena que ele canta após o toque do sino às Trindades do entardecer, é toda ela uma recordação saudosa, não apenas das suas mãos enclavinhadas nas mãos de sua mãe, como nos deixa a recordação de um hábito, em grande parte perdido, quando, ao fim do dia, ao ouvir o sino, os aldeãos de todas as idades rezavam a Maria.
Mons. Moreira das Neves "pinta" na última das quadras uma tela de maravilha: Subiam fumos além - como era o fim do dia, das chaminés dos casais saía em rolos o fumo que assinalava a preparação da ceia - e, era, então, que ele, acompanhava com as suas mãos pequeninas, repetindo, como era hábito por três vezes a oração da Avé-Maria, tendo presas nas suas as mãos firmes de sua mãe.
A singeleza do quadro está retratado é pena, que esta poesia da cena expressa em versos, tenha perdido cantores.
Ainda me recordo deste hábito em terras da Beira Baixa, quando das minhas visitas à aldeia, onde tive a graça de ter nascido - e, como Moreira das Neves deixa transparecer no seu poema, era um menino - mas sem entender, verdadeiramente, o motivo porque via as pessoas exaltarem numa breve oração a sua fé, naqueles momentos bem definidos na roda do dia.
Um dia, minha mãe, explicou-me e ensinou-me a "Oração das Trindades" que hoje, infelizmente, esqueci por entre o bulício da cidade, onde aquele sinal cristão desapareceu.
Recordo isto com uma grande saudade, porque na ingenuidade da oração das Trindades o que havia de mais sublime era o respeito das pessoas, descobrindo-se e parando, se caminhavam, entregando-se a um profundo silêncio meditativo, onde entrava a oração pequenina que se rezava acompanhando o suave toque do sino.
Tive o prazer de conhecer este insigne Sacerdote-Poeta.
Num certo dia em que se preparava para ser vivido em Fátima um "Encontro de Beirões" e os trabalhos logísticos e eclesiais se preparavam no Mosteiro de São Vivente de Fora, em Lisboa, transportei-o à extinta "União Gráfica" onde tinha o seu gabinete, onde fez questão de me levar.
Foi o princípio de uma boa amizade que a sua morte em 1992 truncou, sem no entanto a apagar da minha lembrança.
Profundo cantor da Mãe de Jesus, de que "Os Novos Cantares de Santa Maria" são um testemunho, ele mesmo escreveu o epitáfio que repousa, com ele, na sepultura de Gandra, lembrando o "Poeta da Eucaristia" que ele foi.
Aqui jaz quem nunca foi
Milionário nem herói,
Mas quis ser em alegria
Apenas, em dor e amor,
Cantor de Nosso Senhor,
Poeta da Eucaristia!
Honra dos homens e glória a Deus pelo "Poeta da Eucaristia"!
Mons. Moreira das Neves "pinta" na última das quadras uma tela de maravilha: Subiam fumos além - como era o fim do dia, das chaminés dos casais saía em rolos o fumo que assinalava a preparação da ceia - e, era, então, que ele, acompanhava com as suas mãos pequeninas, repetindo, como era hábito por três vezes a oração da Avé-Maria, tendo presas nas suas as mãos firmes de sua mãe.
A singeleza do quadro está retratado é pena, que esta poesia da cena expressa em versos, tenha perdido cantores.
Ainda me recordo deste hábito em terras da Beira Baixa, quando das minhas visitas à aldeia, onde tive a graça de ter nascido - e, como Moreira das Neves deixa transparecer no seu poema, era um menino - mas sem entender, verdadeiramente, o motivo porque via as pessoas exaltarem numa breve oração a sua fé, naqueles momentos bem definidos na roda do dia.
Um dia, minha mãe, explicou-me e ensinou-me a "Oração das Trindades" que hoje, infelizmente, esqueci por entre o bulício da cidade, onde aquele sinal cristão desapareceu.
Recordo isto com uma grande saudade, porque na ingenuidade da oração das Trindades o que havia de mais sublime era o respeito das pessoas, descobrindo-se e parando, se caminhavam, entregando-se a um profundo silêncio meditativo, onde entrava a oração pequenina que se rezava acompanhando o suave toque do sino.
Tive o prazer de conhecer este insigne Sacerdote-Poeta.
Num certo dia em que se preparava para ser vivido em Fátima um "Encontro de Beirões" e os trabalhos logísticos e eclesiais se preparavam no Mosteiro de São Vivente de Fora, em Lisboa, transportei-o à extinta "União Gráfica" onde tinha o seu gabinete, onde fez questão de me levar.
Foi o princípio de uma boa amizade que a sua morte em 1992 truncou, sem no entanto a apagar da minha lembrança.
Profundo cantor da Mãe de Jesus, de que "Os Novos Cantares de Santa Maria" são um testemunho, ele mesmo escreveu o epitáfio que repousa, com ele, na sepultura de Gandra, lembrando o "Poeta da Eucaristia" que ele foi.
Aqui jaz quem nunca foi
Milionário nem herói,
Mas quis ser em alegria
Apenas, em dor e amor,
Cantor de Nosso Senhor,
Poeta da Eucaristia!
Honra dos homens e glória a Deus pelo "Poeta da Eucaristia"!
Fiquei muito sensibilizado com a leitura do poema do Monsehor Moreira das Neves - tenho ainda dois livros que me ofreceu, sendo um da biografia do Cardeal Cerjeira - Deu-me o prazer de me receber em sua casa e de o entrevistar, cujos registos sonoros ainda guardo
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