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domingo, 25 de agosto de 2013

Queiroz Ribeiro (1860-1928)


À multidão que segue, deixo exposto
Como um cartaz à fúria das nortadas
Este colar de pedras lapidadas
Pelas Mãos da Ternura  e do Desgosto.

(in, Pedras Falsas)


Gaspar de Queiroz Ribeiro nasceu na Guarda, a velha cidade que segundo um rifão popular é denominada fria, farta e forte.
Teve larga interferência na vida política do seu tempo, havendo publicado em 1908 os seus discursos como imagem da sua vida parlamentar, que são uma nota da sua profunda vida interior e espelho das suas ideias, pelas quais se viu obrigado a exilar-se em Espanha, vítima do Movimento Monárquico do Norte.
Na Pátria de Cervantes viveu, por este motivo vários anos da sua exiatência, sofrendo as dores da ausência da Guarda, onde então vivia Augusto Gil, o mimoso Poeta de o "Luar de Janeiro".
Queiroz Ribeiro foi um lírico de grande enternecimento e de tão  elevada inspiração que ela foi, já no declinar da vida a encetar estudos religiosos de que muito a sua poesia veio a lucrar.
Nessa fase singular deu-se ao trabalho de fazer uma adaptação da Bíblia, em verso, empresa que não chegou a concluir.
O seu primeiro livro foi publicado em 1889.
Chama-se "Tardes de Primavera" e teve na sua primeira edição uma carta-Prefácio de Guerra Junqueiro, seu grande admirador e amigo.
Seguiram-se "Cinzas" (1896); "Pedras Falsas" (1903); "Caminho do Céu" (poema- 1906); "Folhas Mortas" (1916), "Imitação de Cristo" (1925).
Morreu roído de saudades pela esposa amantíssima que ele evoca em "Cinzas", numa poesia amara e onde a sinceridade da sua dor se retrata com toda a fidelidade que a sua alma lhe deu.
Em o "SEGREDO" o belo poema das "Pedras Falsas" o Poeta divaga entre a liberdade do lirismo que fez baixar a lua do céu ao lago e aquilo que parece ser - e não é - uma confusão de sentimentos, porquanto, a procura na ânsia de felicidade e, ao mesmo tempo, o maldizer de a encontrar, são faces de uma mesma moeda a que ele chama "mistério" e tal modo interiorizado que e em existe em si e si ficou.
 
 
Descansa. Nem tu sabes, nem eu digo!
A lua, que baixou do céu ao lago
Não adivinha se a deixei... se a trago
Dentro da alma, como um sonho antigo.
 
O néctar que eu procuro e que maldigo,
O vinho, que abençoa a cada trago,
Este veneno com que me embriago
É mistério dum só: irá comigo!
 
Por que suplicas que me dê, que fale?
- Porque não sabes quanto a noite vale
E não calculas como é bom assim!
 
Bem sinto a dor que o teu olhar goteja.
Mas o Princípio por melhor que seja
É pai dum monstro que se chama Fim!
 

1 comentário:

  1. Não conhecia...foi mais uma feliz descoberta que me deste a conhecer...belíssimo poema que me envaidece de ser portuguesa. Língua subtil, rica...abençoada!

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