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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Camilo Pessanha (1867-1926)

  
 
in, Wikipédia
  
O Poeta nasceu em Coimbra em 1867 e faleceu em Macau em 1926. É contemporâneo na Universidade daquela Cidade onde se formou em Direito, de Eugénio de Castro, António Nobre e Alberto Osório de Castro.
Assistiu à nascença do simbolismo, um movimento literário surgido em França por volta de 1885 na procura através do valor musical e simbólico das palavras, das mudanças mais subtis das impressões e dos estados de alma.
Não se tendo deixado absorver pelas polémicas doutrinárias que aquela corrente literária substanciou, ficou aquém de todos os bulícios e estribando-se em profunda reserva interior, tornou-se algo abúlico e criador de extremismos ao ponto de não gostar de publicar as suas poesias, que não deixou, no entanto, de as impregnar de um profundo simbolismo.
Na procura da distância e de evitar o ruído, tornou-se indiferente à publicidade, reservando com minúcia a escolha dos seus amigos íntimos, como os primos, Ana de Castro Osório e Alberto Osório de Castro, tendo cabido a este a publicação em 1889 no Jornal "O Novo Tempo" que se editava em Mangualde, do célebre poema "Estátua", que se crê inspirado pelo amor de Camilo Pessanha pela jovem Ana de Castro Osório, representando a frieza recebida por algumas mulheres por quem o seu coração bateu.
O Poeta viveu em Macau a parte final da sua vida, tendo ali exercido funções judiciais. O contacto estreito com a cultura chinesa originou que tenha escrito vários estudos e feito traduções de poetas oriundos da China.
Com pundonor, Pessanha cultivou um perfil algo estranho, onde a sua barba negra impunha um toque oriental, saindo-lhes das órbitas dois olhos ardentes e interrogadores do mundo, que antes de se fecharem ainda assistiram ao legado dos objectos de arte chinesa que possuía ao Museu de Machado de Castro, em Coimbra. (1)
Segundo os estudiosos os seus poemas simbolistas tiveram preponderância espiritual em Poetas como Sá-Carneiro e Fernando Pessoa, a quem se ficou devendo, em primeiro lugar, a iniciativa da publicação das suas poesias.
É deste modo que em 1920 sai para o público o seu livro "Clépsidra", fazendo lembrar pelo nome os relógios de água do antigo Egipto, como se o Poeta quisesse marcar o tempo através da água profunda que corre dos seus sonetos, arte de que foi um exímio burilador.
Essa arte maior herdou-a ele, na esteira de grandes vultos, como: Camões, Bocage e Antero de Quental.
O soneto "Estátua" é, efectivamente, um retrato do seu perfil poético:
 
Cansei-me de tentar o teu segredo;
No teu olhar sem cor, frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
 
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
 
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado.
 
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
 
Nesta composição, o Poeta pareceu querer personificar as pessoas com as quais teve, ao lingo da vida, dificuldades de comunicação ou de quem não recebeu aquilo que o seu sentimento pedia, fosse um gesto de amizade ou de amor.
O soneto, propositadamente designado "Estátua", esconde, assim, uma intuição humana onde está vivo o drama do homem cujo interior magnânimo nem sempre conseguiu encontrar o reconhecimento de quem o estimasse.
Daí, o seu refúgio em si mesmo, sem a correspondência humana que ansiou e desejou, donde podemos aquilatar o sentido doloroso do primeiro verso: Cansei-me de tentar o teu segredo, revelando -se aqui, o gosto de descobrir - seja-se poeta ou não - aquilo que vive escondido, às vezes, no simples olhar, que Pessanha afirma ser o da pessoa que lhe inspirou o soneto e que ele apelidou de frio escalpelo, onde o seu próprio olhar se quebrou.
O Poeta surge neste poema como em muitos que compõem o livro "Clépsidra" com uma ânsia de perfeição, na busca de encontrar palavras exactas que melhor pudessem transmitir o seu sentimento, como se em cada uma das palavras beijasse quem lhe fugia.
Camilo Pessanha merece ser lido, meditado e sentido, como homem e poeta de grande estilo literário.


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