Desde que, por não te ver,
Vejo em tudo noite escura
Resta-me só a ventura
De duvidar em dizer:
- Qual mais custa: se a tristeza
Dum adeus amargurado
Se a dura e firme certeza
De estar penando ateu lado.
in, Canções do Mondego
Nascido num lar em que a Academia tinha a honra que era devida ao saber, Manuel da Silva Gaio formou-se em Direito na Universidade de Coimbra - sua terra natal - enveredando, profissionalmente, pelo funcionalismo público em Lisboa e, mais tarde, na cidade que lhe serviu de berço, ocupando o cargo de Secretário da Universidade.
Do pai, António da Silva Gaio, o autor consagrado do romance histórico "Mário", herdou o Poeta o gosto pelas letras, a que dedicou a sua vasta e pujante veia artística.
No ano seguinte à publicação do seu primeiro livro: "Primeiras Rimas", em 1887, dedicou-se ao jornalismo, havendo-o exercido entre 1888 a 1891, no jornal "Novidades" de que era, então, Director Emídio Navarro, como ele, homem de Direito, político e brilhante jornalista.
Foi nessa época que conheceu Eça de Queirós, Director da "Revista de Portugal" que então se publicava, convidando-o para a secretariar, um facto que muito terá contribuído, pelo envolvimento no meio, para ter fundado em 1894 a Revista "Arte" de parceria com Eugénio de Castro.
Manuel da Silva Gaio foi um paladino acérrimo do "Integralismo Lusitano" - também conhecido por "Nacionalismo Integral" - um movimento político que se opôs ao anticlericalismo da 1ª República, tendo como matriz o municipalismo e a inspiração católica como fio condutor do sindicalismo que advogavam, com a defesa dos valores nacionais tendentes à harmonia e união social através da cooperação das diversas classes.
Esta tendência política onde não faltava ao Poeta o seu empenho de ordem intelectual, fê-lo abjurar a Monarquia Constitucional (1820-1834), mas também, a corrente favorável que levou à instauração da República.
Advogava, por isso, uma "monarquia orgânica e nacionalista", fundada num certo tradicionalismo que tendia a reatar o fio das instituições medievais adaptadas aos condicionalismos sociais da época que constituíam já na sociedade portuguesa um movimento que teria de ser atendido.
Bateu-se por essa razão contra uma aspiração fusionista (1) que vinda de Espanha encontrava em Portugal alguns aderentes, o que o fez apadrinhar movimentos conferencistas de esclarecimento das massas populares ao inculcar-lhes o fervor nacionalista.
A sua obra ressentiu-se da sua intromissão pública neste campo.
Aqui e ali está marcada pelo reavivamento de formas quinhentistas pelo renovar das lendas, costumes e sentimentos populares através de evocações de personagens e factos históricos relevantes.
Segundo os seus biógrafos reside aqui a parte menos valiosa da sua vida literária, pelo maneirismo que ele lhe imprimiu, podendo por isso dizer-se que Manuel da Siva Gaio foi um vagabundo espiritual: não acertou com o estilo literário próprio ou inserido em qualquer corrente do seu tempo.
Deixou, no entanto, de pé a causa que ele sempre defendeu ao arvorar-se num nacionalista convicto, mas sem ter entendido os ventos que começavam a soprar e iriam desembocar no parlamentarismo, o local exacto para a grande discussão das ideias.
A sua obra é vasta em prosa e verso.
Publicou: "Primeiras Rimas" (1887); "Canções do Mondego" (1891); "Pecado Antigo" (1893); "Um Ano de Crónica" (1899): "O Mundo Vive de Ilusão" (1896); "As Três Ironias" (1897); "Na Volta da India" (1898), "Mondego" (1900); "Encruzilhadas" (1903); "A Dama de Ribadalva" (1903); "Últimos Centes" (1904); "Novos Poemas" (1906); "Torturados" (1911); "Clave Dourada" (1916); "Da Poesia na Educação dos Gregos" (1917); "Eça de Queirós" (1919); "Dom João" (1925); "O Santo" (1927); "Sulamite" (1928); "Eugénio de Castro" (1928); "Pela Ribeira do Mondego" (1929); "João de Deus" (1930); "Os Vencidos da Vida" (1931); "Bucolismo" (1933).
Campos de Figueiredo publicou em 1934 um estudo sobre os quase meio século de produção literária de Sila Gaio.
Não é fácil falar em breves palavras deste vulto das letras pátrias, mas o que fica dá dele indicações e proporcionar - é isso que se pretende - uma lembrança do literato a que alguns assacam a génese do "neolusitanisnmo", que advogava a feitura de uma poesia nacionalista, hoje, tão necessária pelo desmembramento intelectual que vivemos, entregues à proliferação de ideais globalizadas, sem alma e sem carácter regional.
Na sua fase lírica que ele expressa nas "Canções do Mondego" publicou o Poema "VINTE ANOS", onde diz assim:
Perguntavas-me de antes: que alegria
Ou íntima ventura
- Desde que, ao longe, apenas vinha o dia
Até ser noite escura -
Me fazia cantar a toda a hora
E me doirava a vida?
E perguntava-te eu: "Ó minha aurora,
Ó rola estremecida,
O que te faz também andar cantando
E rindo a cada instante,
Como se a vida fôra um sonho brando
Duma embriaguez constante?"
....................................................................
Negrejava a batina que vestia
Meu peito juvenil,
Como uma nuvem trágica e sombria
Toldando um céu de Abril.
E o teu vestido pobre até lembrava
- Cobrindo esse tesouro -
O folhelho do milho que, na seara,
Veste as espigas de oiro.
Mas nenhum de nós dois, então, daria
Por um trono radiante,
Esse pequeno quarto de estudante,
Que o nosso amor enchia.
E a janela por onde o doce alvor
Do dia nos saudava
E num beijo de luz acariciava
O teu craveiro em flor.
Pode dizer pouco à geração actual o nome de Manuel da Silva Gaio, mas não pode perder o sentido - a menos que queiramos esquecer a Pátria - o soneto que ele dedicou "À GERAÇÃO NOVA" do seu tempo e que devia continuar a ser intemporal no que concerne ao amor nacionalista que devemos à terra que nos viu nascer:
Na sua fase lírica que ele expressa nas "Canções do Mondego" publicou o Poema "VINTE ANOS", onde diz assim:
Perguntavas-me de antes: que alegria
Ou íntima ventura
- Desde que, ao longe, apenas vinha o dia
Até ser noite escura -
Me fazia cantar a toda a hora
E me doirava a vida?
E perguntava-te eu: "Ó minha aurora,
Ó rola estremecida,
O que te faz também andar cantando
E rindo a cada instante,
Como se a vida fôra um sonho brando
Duma embriaguez constante?"
....................................................................
Negrejava a batina que vestia
Meu peito juvenil,
Como uma nuvem trágica e sombria
Toldando um céu de Abril.
E o teu vestido pobre até lembrava
- Cobrindo esse tesouro -
O folhelho do milho que, na seara,
Veste as espigas de oiro.
Mas nenhum de nós dois, então, daria
Por um trono radiante,
Esse pequeno quarto de estudante,
Que o nosso amor enchia.
E a janela por onde o doce alvor
Do dia nos saudava
E num beijo de luz acariciava
O teu craveiro em flor.
Pode dizer pouco à geração actual o nome de Manuel da Silva Gaio, mas não pode perder o sentido - a menos que queiramos esquecer a Pátria - o soneto que ele dedicou "À GERAÇÃO NOVA" do seu tempo e que devia continuar a ser intemporal no que concerne ao amor nacionalista que devemos à terra que nos viu nascer:
Pudera este meu livro, bons amigos
Alevantar-vos tanto o pensamento
Que à Pátria desseis braços e novo alento
Para afinal por termo a seus castigos.
Mas, se o cantar-vos eu feitos antigos
Não for mais do que vão cometimento
Se houverem de rendê-la, a trato lento
Duros golpes de feros inimigos,
Que - onde a mesquinha ergueu voz de grandeza
E os filhos já no exílio se dirão -
Ainda, por luso ser de natureza,
Ao lê-lo vós logreis ter a ilusão
De um punhado de terra portuguesa
E nele apertardes sempre a vossa mão!
in "Clave Dourada"
............................................................................
(1) - Ideia que assentava na fusão política
Sem comentários:
Enviar um comentário