O NOVO BOI ÁPIS
Gravura publicada no Jornal "O António Maria" de 6 de Janeiro de 1881
Merece a pena recordar aos mais distraídos a história resumida do boi Ápis.
Situemo-nos em Mênfis, no antigo Egipto. Numa vereda erguiam-se as ruinas de um templo onde se encontrava embalsamado o boi Ápis, que passava por ser um animal merecedor da maior reverência, por ser o símbolo da força e virilidade, dividindo uma estranha parentela com o poderoso faraó, ostentando uma parte animal e outra de deus, tendo merecido o culto do povo devido ao seu invulgar conjunto de sinais, que em vida lhe mereceram ostentar-se num santuário, espalhando a crença que a sua essência divina era transferida para outro boi, quando morria.
A gravura que reproduzimos deve-se à pena genial de Rafael Bordalo Pinheiro, a quem prestamos o dever de o honrar com carinho e admiração, pedindo licença à sua memória ilustre para o transportar para este pequeno apontamento, ilustrando, porventura com pouca arte o que ele caricaturou.
Não podemos, porém, deixar sem uma crítica que julgamos construtiva, a denúncia do que se passa com a actual Constituição que vai regendo o nosso povo e que, à semelhança do boi Ápis, alguns julgam que, - pesem embora os ajustes que tem tido - não se pode tocar, embalsamando-a, como aconteceu com o velho animal de Mênfis e sendo-lhe, por isso, merecidas todas as honras, como se ela fosse objecto merecedor de um santuário quando se impõe revê-la mais uma vez.
É quase um culto, o que acontece por parte de uns bem pensantes, segundo o seu ângulo de visão dos acontecimentos - que não é o meu - mas que, parece, não deram pela passagem do tempo, com a agravante dela ser lida, julgada e seguida por homens que não podem fazer outra coisa senão a de seguir a lei dos parlamentares, mas com o defeito, em nosso entender, de serem escolhidos pelos mesmos que a criaram num tempo bem diferente, chamando por nomes feios aqueles que dizem que ela deve ser revista na hora que passa.
Não podemos, porém, deixar sem uma crítica que julgamos construtiva, a denúncia do que se passa com a actual Constituição que vai regendo o nosso povo e que, à semelhança do boi Ápis, alguns julgam que, - pesem embora os ajustes que tem tido - não se pode tocar, embalsamando-a, como aconteceu com o velho animal de Mênfis e sendo-lhe, por isso, merecidas todas as honras, como se ela fosse objecto merecedor de um santuário quando se impõe revê-la mais uma vez.
É quase um culto, o que acontece por parte de uns bem pensantes, segundo o seu ângulo de visão dos acontecimentos - que não é o meu - mas que, parece, não deram pela passagem do tempo, com a agravante dela ser lida, julgada e seguida por homens que não podem fazer outra coisa senão a de seguir a lei dos parlamentares, mas com o defeito, em nosso entender, de serem escolhidos pelos mesmos que a criaram num tempo bem diferente, chamando por nomes feios aqueles que dizem que ela deve ser revista na hora que passa.
Mas... não senhor.
Ela é um novo boi Ápis, num tempo em que os deuses morreram e o Deus Eterno que devia agir em todas as consciências não merece uns momentos de pausa de alguns no agnosticismo que os conduz, ainda que a sua teimosia os leve a não ver no dia claro a noite em que Portugal se afunda.
Não esqueçamos, porém, olhando a gravura do mestre Bordalo Pinheiro que o Zé Povinho está de joelhos implorando a revisão que tarda aos que conduzem num andor o boi Ápis que foi criado em S. Bento e só lá é que tem de ser revisto à luz de um tempo novo, pois é nele que mora a esperança do Zé Povinho deixar a sua incómoda posição de joelhos em cima do chão duro da vida.
Ela é um novo boi Ápis, num tempo em que os deuses morreram e o Deus Eterno que devia agir em todas as consciências não merece uns momentos de pausa de alguns no agnosticismo que os conduz, ainda que a sua teimosia os leve a não ver no dia claro a noite em que Portugal se afunda.
Não esqueçamos, porém, olhando a gravura do mestre Bordalo Pinheiro que o Zé Povinho está de joelhos implorando a revisão que tarda aos que conduzem num andor o boi Ápis que foi criado em S. Bento e só lá é que tem de ser revisto à luz de um tempo novo, pois é nele que mora a esperança do Zé Povinho deixar a sua incómoda posição de joelhos em cima do chão duro da vida.
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