A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português
(…) de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do
povo português.
in, Preâmbulo da Constituição da República Portuguesa
É assim que está escrito.
Um punhado de homens tomou sobre si a incumbência de pensar
por todos os portugueses em Abril de 1974, como se, cada um, de per si se
assumisse com acéfalo.
E o povo aceitou. Na euforia que se viveu nem deu por isso;
só que agora quando se fala em rever este ponto da Constituição, cai o Carmo e
a Trindade...
Apesar de tudo, povo, meu querido povo - pese embora a hora
que passa em que pela terceira vez desde a libertação os “libertadores” levaram
o País à falência - não chores, canta.
Apela para as derradeiras forças da tua moral e não deixes
morrer a chama da Esperança!
Mas não creias nestes “libertadores”
Faz-te guardião de ti mesmo e continua a batalhar por uma
liberdade que, realmente, não te deram. Continua, pois, a pedir a liberdade
total e inalienável que pede igual retribuição de deveres e responsabilidades.
Tu sabes - e só tu é que o sabes - que ser livre, é de igual
modo ser-se adulto e consciente pelos actos praticados, mesmo os mais
insignificantes e nunca se é livre se o sentido da responsabilidade encobre
negócios escuros ou serve para pôr na arena política o jogo do compadrio,
porque se faz um jogo de compra e venda - no pior sentido - e não o jogo da
verdadeira partilha humana onde a compra e a venda respeitam os princípios da
genuína liberdade da pessoa, pelo uso que deve ser feito desse nobre atributo
que torna qualquer homem um ser em primeiro lugar responsável para consigo
mesmo, seguindo-se o pensamento de Claude Avelin.
Por isso, meu querido povo, assume para ti esta verdade:
ainda não és livre, porque os que dizem que te libertaram não souberam
conduzir-te para a nobre soberania democrática dos valores humanos, que começam
pelo respeito que cada um deve a si mesmo, seja nas palavras ou nos actos que
não podem fugir às palavras que os sustentam.
Eis, porque, é um engano que recebes dos que continuam a
fazer-te acreditar em sistemas, cujas teorias - até podem ser virtuosas - mas
não tiveram e não têm tido servidores,
como tu merecias.
Por isso não és livre, porque as escolhas que tens feito são
um arremedo de liberdade - não por culpa tua - mas porque te
"obrigam" a votar naqueles que te impõem e não naqueles que tu
conheces de perto, no teu Concelho, na tua Freguesia ou no teu Bairro.
E, por isso, não és livre, verdadeiramente, porque continuas
a pagar com o suor do teu rosto o salários dos que não conheces
- mas confirmas com o teu voto - e, até, daqueles que por caminhos que
nem sonhas, pouco ou nada produzem.
A tua liberdade é, pois, uma mentira.
É um canto de sereia que um dia te cantaram numa madrugada
de Abril, em que, não tardou que
escrevessem - sem te pedir licença - que tu, no colectivo que és, tinhas
um destino traçado: um caminho para uma sociedade socialista, e sem
qualquer pudor, porque se julgaram donos
da tua vontade, acrescentaram logo a seguir: no respeito da vontade do povo
português, sem que tivesses sido ouvido porque caminho querias seguir, ou
doutro modo: a um Portugal corporativo impuseram para Portugal uma sociedade
socialista, com o mesmo à vontade que outros usaram falando em nome do povo
Fizeram de ti - antes e depois - um pau mandado.
E assim continua, hoje, este pedaço de prosa iníqua naquela
Lei Fundamental- que neste ponto, como noutros - é uma bíblia que não pode ser
mudada, porque para uns tantos iluminados, aquele livro escrito de cabeça
quente - e até se compreende, se pensarmos no momento que se viveu - vale o mesmo que a Bíblia Sagrada para o
catolicismo centrado na Igreja de Roma.
Mas, peço-te, faz das fraquezas força. Não chores, canta.
Canta a “Grândola Vila Morena” mas a autêntica ou, outra,
mas que tenha o mesmo sentido.
Não aquele que os nóveis “grandoleiros” passaram a entoar ao
confundir um grito de liberdade - que o foi na voz genuína de Zeca Afonso -
numa histeria sem nexo que até perde o sentido, porque uma canção de liberdade
, como aquela foi, nunca se pode deturpar com os gritos e asneiras dos que
pedem liberdade para fazerem, apenas, o que querem.
Canta, sim, querido povo uma nova canção
Faz-te guardião de ti mesmo e canta assim aos quatro ventos!
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