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terça-feira, 16 de abril de 2013


OS SEMPRE EM PÉ


Gravura de Rafael Bordalo Pinheiro in, Jornal António Maria de 12 de Junho de 1879

Foi sempre assim.
Em 1879 vivia-se uma Monarquia decadente, em que o Governo progressista de Anselmo José Braamcamp (1879-1881) era composto por ministros sem experiência política, assediado pelo grupo dos Regeneradores, tendo à cabeça Hintze Ribeiro a liderar uma oposição feroz a que se juntou em 1880 a contestação republicana.
O Jornal António Maria, surgido naquele ano, numa crítica mordaz, sintetiza a situação do reviralho em que o País vivia, dizendo que eles caem (o povo) mas nós continuamos sempre de pé.
Nada de novo, na época, disse o Jornal, que não fosse o trivial de um tempo em que o velho Portugal ia a pique a caminho do naufrágio económico que se consumaria anos depois, na bancarrota.
Nada de novo, acontece hoje.
A bancarrota espreita, mais uma vez. Os políticos, arribados na partidocracia do poder, de pouco se importam que mergulhemos no fundo, certos como estão que o povo cai de joelhos ou de borco, tal como ilustra a velha gravura de Bordalo Pinheiro, porque eles ficam sempre de pé.
É o destino que temos desde que esquecemos as lições altruístas dos nossos avoengos ilustres que nos legaram um País que não temos sabido honrar, sobretudo, agora, em que perdida a batalha da honra de sermos portugueses de lei, nos vendemos a uma Europa balofa e imoral, rendidos a um sonho de um federalismo que nunca acontecerá, pela mescla que somos de muitas Pátrias que há muito perderam - como nós - a independência moral dos costumes.
Foi uma tragédia em que, a pouco e pouco, foram deixados cair as Pátrias, como se não necessitassem de ser honradas nos princípios básicos onde se formam as consciências impolutas, sem as quais o que fica é um rol de povos desencontradas com os seus próprios ideais, onde a Idade Contemporânea que chamou para si os símbolos da Liberdade, Igualdade e Fraternidade - que tantas moléstias sociais aboliu - parecem esquecer aqueles nobres conceitos, rendidos como estamos à economia dos mercados que nos subjugam, deixando de pé, não os símbolos que aboliu o velho, imoral e injusto sistema feudal, mas aqueles que nascem como abortos dos homens que se vão equilibrando com artes e manhas, sem cuidar que estão a criar nos tempos modernos novos feudos onde impõem a lei do mais forte.
A lei deles. Os tais que ficam sempre em pé.

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