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quinta-feira, 25 de abril de 2013

CADA UM VÊ À SUA MANEIRA

Gravura publicada no jornal "O António Maria" de 7 de Setembro de 1882
Não há volta a dar.
Cada um vê à sua maneira, mas custa ver os que - por entre as suas toleimas - podiam disfarçar  a "cegueira" usando os binóculos - como mostra a gravura  na posição para que foram criados -  mas ostensivamente alguns colocam-nos ao contrário e por mais que se lhe digam as coisas que estão à vista de todos, afirmam pouco ou nada ver, porque vendo mal, obstinadamente dizem  ver pouco ou, radicalmente, afirmam nada ver.
Ao ouvir, hoje, o discurso do Sr. Presidente da República na comemoração do 25 de Abril e depois de ter ouvido alguns responsáveis políticos conotados com a  esquerda ficou patente e às escâncaras do mundo o célebre pensamento de Rochefoucauld: Raramente conhecemos alguém de bom senso, além daqueles que concordam connosco, porquanto, as palavras ditas não foram gratas àquele pequeno universo de homens, incluindo alguns da esquerda parlamentar - que deviam, efectivamente representar o povo nominalmente e, na realidade, representam, apenas, os partidos que os elegeram - pela simples razão da gratidão que se julga merecer, o que se esconde, muitas vezes, é um desejo de, pelo discurso ou pela acção se poder ascender a um favorecimento que não aconteceu.
Mas só vê  assim quem usa os binóculos ao contrário, quando os devia usar com as lentes viradas para o mundo, não sendo possível por esse motivo, ouvir aquele que tem o dever de aconselhar, porque sem ver - leia-se ouvir - se começa  por fazer letra morta das advertências que são apresentadas por quem, institucionalmente, tem  o dever de as fazer, num tempo em que se foram os dias da euforia revolucionária e os que temos, hoje, são dias de alguma perplexidade de não termos sabido alcançar o que esteve à nossa mão.
Temos assim que no dia em que Portugal festejou a Revolução do  25 de Abril, assiste a Victor Hugo toda a razão por ter dito este pensamento luminoso: As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça.
Assim aconteceu connosco.
Tivemos dias de chamas e, hoje, o que temos é fumaça dos dias cinzentos que urge pintar com as cores das chamas que se foram embora, mas só se perderão para sempre se uma parte do todo que somos continuar a usar os binóculos ao contrário, vendo pouco ou nada vendo da realidade que passa e, assim, cada um ver à sua maneira, abjurando os discordantes, mas sem cuidar, que há momentos na vida das Pátrias em que, os que só vêem para trás - opondo-se a tudo - como os que só vêem em frente - vendo tudo bem - têm de remedir as distâncias e focar melhor os modos de ver.
Portugal está primeiro, alguém o disse, mas não pode ser uma tarja para ilustrar um comício, mas um valor a respeitar!


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