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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Uma célebre frase de Jesus!


«Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.»

Quando Cristo deu aos fariseus a célebre resposta, tinha diante dos olhos a Moeda e o Homem. A moeda, com a imagem de César. O Homem, com a imagem de Deus. A moeda, sinal e força da Economia, símbolo de toda a ordem material em que César domina. Cunhada por César, a moeda é de César. Baseada na moeda, a Economia subordina-se à Política. À esfera política, em que César campeia, foi entregue por Cristo a esfera económica, a que a imagem de César preside. O mundo das coisas materiais, que dão de comer aos homens, é um mundo de coisas sem espírito, em que nenhum César vive. A esse mundo, cujo valor reside no que significa dos homens, e cuja máxima grandeza lhe é dada pela imagem de César, tem de estar sobranceiro o mundo dos homens reais, em que a vida circula e cresce, e em que a imagem de César se retira diante do César pessoal.
A máxima evangélica, profunda como um abismo, entrega a Economia à guarda e tutela da Política. E entrega a Política a Deus.
Henrique Barrilaro Ruas - (1921-2003) - in, A Moeda, o Homem e Deus)



Nunca será demais lembrar o pensamento cristalino deste brilhante professor universitário, ensaísta de grande fulgor, historiador e político, co-fundador do Partido Popular Monárquico, tendo-se em conta que ele foi um preclaro pensador que baseou muito do seu saber na cultura religiosa do Cristianismo, de que é exemplo o excerto que fazemos de um afamado texto que escreveu, tendo por base a célebre resposta que Jesus disse aos fariseus, quando estes falsários o quiseram encurralar, como Rubens os retrata no seu belo quadro que acima se reproduz.

Vale a pena ler e meditar no texto de Barrilaro Ruas e sentir como o nosso Mundo anda ao avesso do que Jesus - que não esteve no Mundo para ser político - queria que viesse a acontecer nele  a sua tese espiritual, atendendo à prontidão da resposta, na prossecução da atitude que o Pai lhe cometera e pela qual viveu e morreu.
Não podemos admitir que Cristo se enganou, porque todas as Palavras que disse têm o cunho da Verdade que, ou seguimos - e somos úteis - ou não seguimos - e somos inúteis - porque esquecemos o essencial: a felicidade de todos os homens, algo que é a sua essência doutrinal.

Para tanto, basta que vejamos o que está a acontecer desde que a Economia se pôs a conduzir a política, quando devia ser ao contrário: com esta entregue à guarda da política - como assevera o pensador católico a partir do ensinamento de Cristo  - e a política a Deus, tal como ele declara sem rodeios, por ter como suporte o mesmo ensinamento divino.

Efectivamente, tudo está do avesso, porque os homens do Poder passaram a exercê-lo sujeitando-o à Economia e, desse modo, a prática que levam a cabo em vez de se sujeitar à espiritualidade subordinada a Deus, subordina-se à sede do mando terreno, por sua vez, sujeitado a uma Economia sem rosto.

E foi assim, que ao termo-nos esquecido do recado de Jesus, nós viramos o Mundo ao avesso!

Ser sincero nem sempre é...


Pela Fé e pelo Império?

D. João II
Gravura publicada pela Revista "O Occidente" nº 273 - de 21 de Julho de 1886


Pela Fé e pelo Império

Esta foi a divisa que "menino e moço" aprendi e acarinhei até ao tempo da razão adulta, quando me foi dado ver mais longe quanto ao motivo que nos levou à gesta das Descobertas - feito notável do Portugal marinheiro de que muito nos orgulhamos e fez de nós uma Pátria respeitada no concerto internacional do tempo exacto em que tal facto aconteceu e, ainda hoje, é motivo de orgulho nacional - devendo, no entanto, termos presente que não fomos até aos confins do Mundo, apenas para dilatar a "Fé e o Império", porquanto, nos moveram actos de riqueza que pudesse enriquecer um Portugal pobre e sem recursos materiais.

Ainda hoje somos assim.

A velha gravura do rei D. João II, é um retrato fiel da nossa asserção ao mostrar o monarca à frente de um mapa onde se mostram caravelas - onde se lê: ÁFRICA - e que já haviam chegado sob as ordens do Infante D. Henrique até às montanhas da Serra Leoa, mas que morto este em 1460 havia deixado toda a costa abaixo por desbravar, pelo que, o autor da gravura mostra D. João II, tendo nas costas uma arca de tesouro colocado em repouso - figurando as conquistas do Henrique, o Navegador - mas tendo debaixo do braço uma nova arca onde ele queria guardar o que faltava descobrir, acima de tudo para enriquecer Portugal em detrimento da dilatação da Fé e do Império.

Entronizado em 1482, desde logo iniciou a exploração da costa da Mina, onde instalou uma feitoria com a construção do Castelo de S. Jorge da Mina e Golfo da Guiné, continuando a saga do seu tio-avô D. Henrique, começando por "adjudicar" sob uma tença anual feita ao Reino a continuação da empresa a um certo Fernão Gomes - senhor da Guiné - que veio a explorar parte da costa até à Costa do Ouro, a partir do qual, a seu mando, começou a empreender a busca do caminho para a Índia e assim, em 1484 Diogo Cão descobre a foz do Congo e explora a costa da Namíbia, em 1488 Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança, tendo colocado Álvaro de Caminha a colonizar as ilhas de S. Tomé e Príncipe, enquanto por terra Pêro da Covilhã a Afonso de Paiva se intrometem até à Abissínia, em busca do lendário Preste João para fornecerem ao rei a possibilidade de se chegar à India por mar, empresa que tomou a peito a partir de 1495



Manda a verdade histórica dizer que as naus das Descobertas enfunavam a velas mostrando "aos mares nunca navegados" a Cruz de Cristo, mas manda a verdade, aquela que sinto, que a causa principal de tantos marinheiros terem morrido nas longas e inóspitas viagens, foi a conquista das riquezas que se adivinhavam naquelas paragens, onde a Fé, que ficou - e isto também é verdade - foi uma consequência em vez de ter sido uma causa primeira.

Costuma dizer o povo: "O seu a seu dono", ou seja, a verdade a quem pertence, seja ela individual ou colectiva, o que neste caso, verdadeiramente, me leva a pensar que fomos "além do Bojador" porque para lá haviam riquezas que importava trazer para Lisboa, como aconteceu com o ouro do Brasil.

domingo, 12 de junho de 2016

D. Helder da Câmara

in, "Cavaleiro da Imaculada"nº 987 de Junho 2016
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Se há homens que merecem o respeito universal dos outros homens e mulheres, este Bispo brasileiro é um deles, pela sua postura humana - que lhe mereceu fortes críticas dos meios intelectuais do seu tempo - e eclesial, que fizeram dele um exemplo de amor para com o seu semelhante, pelo que o Processo  para a sua beatificação e canonização, agora aprovado deve merecer o aplauso geral desta figura, que um dia subirá o degrau que o vai colocar na galeria dos Santos aonde só costumam chegar os homens bons, aqueles a que o povo, muitas vezes em vida já classifica de santos.

Isto faz-nos pensar num certo passo dos Actos dos Apóstolos quando nos fala de S. Pedro - que foi um andarilho em nome do apostolado - e que, num certo dia dia foi Lida, uma cidade da planície de Sarom, perto de Jerusalém, onde se crê que terá nascido S. Jorge, o Santo padroeiro de Inglaterra.
O que foi Pedro fazer a Lida?

Diz a Bíbliz (Act 9, 32) o seguinte:  Viajando por toda parte, Pedro foi visitar os santos que viviam em Lida, o que pode pressupor, aos mais desatentos que ele ia à procura de Santos canonizados, o que não é verdade, pois naquele tempo tal facto não existia.
Pedro foi até ali - visitar os santos - os homens bons que havia naquela localidade, muitos deles, certamente, bens capazes de terem subido aos altares físicos para veneração dos fiéis, quando, afinal, alguns deles já viviam no Grande Altar de Deus.

D. Helder da Câmara é, por agora, um destes.

Mas, porque a sua figura de homem bom, merece o título de Santo, não tardará a ser entronizado, para que ao ser colocada a sua Imagem à vista dos fiéis estes se possam lembrar do homem controverso, onde alguns viram tendências comunistas, mas no qual a pobreza dos homens e as suas implicações sociais lhe fizeram ver o sentido mais humano da vida: o da sua defesa contra o poder instaurado que os esquecia, pelo que, a noticia da "Congregação para a Causa dos Santos" ao tê-lo admitido, vai, por certo, encontrar resistências de meios poderosos que se lhe opuseram e contra os quais lutou e sofreu. 

Mas Deus sabe porque fez aprovar a sua candidatura à glória dos que merecem ficar como suas testemunhas...

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Saudades...



Saudade

No chão floriu uma rosa
Com sede de Primaveras…
E tu, saudade teimosa,
Sedenta e caprichosa
Porque ficas, porque esperas?

Porque teimas em deixar
O teu gelo no meu peito,
Se o sonho do meu olhar
É pássaro que quer voar
E sente o caminho estreito?

Vai depressa! – Vai agora…
Que ao longe na imensidão
Ficou inscrita a hora
Em que t’irias embora
P’ra longe do meu coração!

Mas a hora foi vencida
E tu, saudade, ficaste!
Oh! – Companheira da vida:
Fica. – Eu quero dormida
À sombra da tua haste!

1983
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O poema é antigo. Fui dar com ele no meu álbum de saudades... para, depois, ficar a pensar que neste mundo, certamente, não há ninguém que não sinta saudade de algo que tenha ficado para trás, na curva de um qualquer caminho.

E se este pensamento é gerador desse sentimento a que não se deve dar guarida demasiada, porque diz o povo na sua imensa sabedoria que, - águas passadas não movem moinhos - por outro lado devemos agradecer a Deus o facto de sentirmos saudade, porque como diz, também, o povo - recordar é viver - e é neste dualismo algo estranho que é feita a peregrinação do homem sobre a face da Terra, pelo que, valha-nos a poesia como um meio eficaz para clarear situações, seja para relembrar ou abafar momentos, porque com saudades se vive e com saudades se morre!

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Filha da mesma raiz!


Era meio-dia de um dia de sol quando passei por aquele jardim da cidade, descuidado no meu passo algo quebrado pelos anos que vão passando... mas, atento - algo que sempre fiz à paisagem por onde passo - seja a da montanha, ou no caso, à citadina que naquele recanto da cidade cedeu ao urbanismo do cimento para dar lugar a um recinto verde variegado - como costuma acontecer com aquela cor vegetal abudante na Natureza -  e por onde afloram, aqui e ali, momentos muito belos que são motivo para a nossa interrogação.

Aconteceu isso comigo ao olhar o tronco encopado, filho da mesma raiz elevado muito acima da mesma natureza vegetal que faz a delimitação em sebe do caminho pedonal, motivo suficiente para me tolher o passo, para descanso físico e dos olhos que ficaram presos na imagem que acima se reproduz e que achei muito bela e introspectiva. a ponto de a captar na objectiva que levava comigo: o meu telemóvel.

- Porque fiz isto?
- Simplesmente, porque eu tinha defronte dos olhos uma lição de vida, porquanto, se transportarmos aquele exemplo do tronco que o jardineiro - vá-se lá saber porquê - deixou engrossar e subir acima dos "seus irmãos" e ao fazer que a sua copa verde dê sombra aos que ficaram em baixo - também por obra do mesmo jardineiro - a lição que fica é que este facto acontece na vida real por onde passam os homens.


- Quantos de nós somos testemunhas que neste ou naquele lar onde nasceram muitos irmãos, um deles, pelo seu arreganho social e humano subiu mais alto que os outros... , quantas vezes tem acontecido ser esse membro da família a "sombra benfazeja" que ajuda os que não puderam subir tão alto?


Esta foi a lição daquele meio-dia... e foi de tal modo que se entranhou dentro de mim que não me largou todo o dia, até este momento em que por meia dúzia de palavras - de que a foto diz mais que todas elas - deixei aqui, plasmada esta meditação, na certeza que tenho que o jardineiro que trata aquele jardim não foi sem motivo que deixou crescer aquele troco acima dos outros, porque muitas vezes, estes homens, cuja Academia foi a Vida, concebem lições de grande humanismo nas imagens que criam.

Vi-me embora a agradecer a cultura humana daquele homem, simples, naturalmente, mas sábio e a agradecer a Deus aquele momento singular em que para descansar os passos, naquele descanso físico e na imaterialidade do descanso do olhar, fiz que a minha alma também descansasse do desconcerto do Mundo.

terça-feira, 7 de junho de 2016

"Olho por olho, dente por dente"...


Caminhada (possível) do povo hebreu a caminho da "Terra Prometida"


Quando o Livro do Êxodo se debruça sobre o "Código da Aliança", Moisés,  no capítulo 21, lembra a "lei de Talião" existente noutros povos antes do de Israel, devendo a sua origem ao conhecido "Código de Hamurabi".

Diz assim o versículo 24 do referido capítulo a favor do desforço que era preciso ter contra o seu adversário: "Olho por olho, dente por dente"... e, por muito violenta que era no seu tempo, esta lei, dizem os exegetas ser um progresso na altura do Êxodo, pois ela obrigava que a culpa fosse sofrida pelo individualmente, pelo prevaricador e não como acontecia em tempos antigos em que ela era aplicada como castigo sobre a família e, até, em casos extremos sobre todo o clã.

Aqui há dias dei com os meus olhos sobre um pensamento extraordinário desse homem extraordinário que foi Gandhi (Mohandas Karamchand) expresso deste modo:

A velha lei "olho por olho" se posta em prática, faria deste planeta um mundo de cegos!

E veio-me à lembrança o que acima fica expresso, tal como se encontra no Livro do Êxodo, o que prova que a vinda de Jesus, sem abrogar a lei antiga, a humanizou ao fazer do AMOR o mandamento maior, algo que ainda não cumprimos na plenitude que Ele quis, porque nos temos perdido pelas vielas dos desencontros, quando devia ser na Igreja apostólica que Ele fundou que os homens deviam encontrar a razão de ser do seus caminhos menos cruzados e mais convergentes, como Gandhi expressa no seu celebrado pensamento, provando daquele modo que é na lei do AMOR universal pregada por Jesus no Novo Testamento que, de uma vez por todas se deve por termo à "lei de Talião" que ainda existia nos tempos de Moisés.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

"Eu estou à tua porta e bato"...

Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.
 Ap. 3, 20 

A historia é muito conhecida.
Tem a ver com uma porta que bem podia ser igual a uma outra qualquer... mas não é.
É uma porta especial.
Como não possuo a história de molde a poder fazer dela copy paste vou escrevê-la com palavras minhas sem se lhe tirar o sentido apostólico.
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Conta-se que numa exposição de pintura, apareceu um quadro no qual o pintor retratara a figura de Jesus Cristo em trajes de peregrino a bater a uma porta, até que um dos visitantes mais atentos viu naquela porta um defeito e disse em voz alta:
- Que pena... um quadro tão lindo ter um defeito destes.
O autor do quadro ouviu o reparo e delicadamente dirigiu-se ao visitante:
- Eu sou o autor. Penso que não tem qualquer defeito... mas agradeço que me diga onde é que ele existe...
Resposta pronta do visitante:
- É que, em qualquer porta a fechadura vê.se pelo lado de fora, para que se possa meter a chave no local exacto para a abrir...
Responde o pintor:
- Repare em quem bate à porta. É Jesus Cristo,  mas como Ele não gosta de forçar a entrada, só o faz se do lado de dentro estiver alguém disposto a abri-la, convidando-o a entrar e, até, a sentar-se à mesa com ele.


Alga e ómega - primeiras letras do alfabeto grego - significam, ao falar de Jesus Cristo, o que está no começo - tendo em conta que Ele encarna Deus -  e no fim de tudo, segundo o Apóstolo S. João, no primeiro capítulo do seu Evangelho e no Livro do Apocalipse, também a abrir (1,8), não força a entrada no coração de ninguém na ampla liberdade que a igreja por Ele fundada concede a todos os homens, mas isso não obsta que Ele bata à porta de cada um de nós e de cujo afecto nos quer dar conta.

É por isso que na exposição de pintura a porta daquele pintor não tinha qualquer defeito, contra o reparo do visitante.
A fechadura estava por dentro por ser por dentro de nós - da porta que somos - que a podemos ou não abrir... mas tendo presente que Jesus passa sempre e é Ele mesmo, cheio de vontade de entrar em "nossa casa" nos recomenda:

Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo.

O que se passar, depois, já não pertence ao foro da jurisprudência de Jesus Cristo, mas  à que, em cada pessoa o seu coração lhe ditar.
Somos donos da nossa liberdade, razão fundamental que leva o crente a aderir ou não às pancadas que num dia qualquer possa ouvir à sua porta.

domingo, 5 de junho de 2016

A saudade em dois textos de Mons. Moreira das Neves

Saudade 
Quadro de Almeida Júnior (1899) - in, Wikipedia
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Saudade.

Palavra bem portuguesa que segundo os estudiosos vai buscar a sua raiz aos Cancioneiros da Vaticana  e da Ajuda, e mais perto, ao "Leal Conselheiro" do Rei D. Duarte e a Azurara, na "Crónica da Guiné", tem como mais comummente é acreditado a sua génese na época dos Descobrimentos Portugueses ao ter-se em conta a solidão dos que ficavam e daqueles que partiam, meses a fio, longe dos entes queridos.

No livro "Variações sobre a Saudade", do insigne Poeta Mons. Moreira das Neves, numa edição invulgar que apresenta todos os textos escritos pela mão do autor, nas dobras da capa da frente e da posterior, o texto que ali encontramos da autoria de Manuel Ferreira da Silva, abre com este pensamento de Miguel de Unamuno: "Se alguém merece ainda ser lembrado,é porque não morreu inteiramente." o que quer dizer que a definição da saudade encontrou neste célebre homem de letras, um modo de falar dela com toda a carga emotiva que a palavra contém.

Do Livro escolhemos dois textos compostos, cada um deles por três quadras e por eles podemos ver quanto a palavra - Saudade - fez vibrar o seu autor.


Extinta a última brasa,
Tudo morreu? Ninguém cria.
A saudade em nossa casa
Faz as vezes da candeia.

Se alguém pergunta por onde
Anda alguém a quem quer bem,
A saudade é quem responde
Primeiro do que ninguém.

A saudade, abrindo a mão,
Se trigo de ouro semeia,
O trigo nasce do chão,
Mesmo em desertos de areia.

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Ninguém diga que a saudade
Abandona os infelizes.
Ele nunca deixa a herdade
Em que afundou as raízes.

A saudade traz imersos
Os olhos na eterna Luz.
Assim a viu nos seus versos
Frei Agostinho da Cruz.

Quem busque terra estrangeira
Pode sem medo contar:
- Fica a saudade à lareira
Sentada no seu lugar.


 in, "Variações Sobre a Saudade"


Bem podia ir por aí além a falar sobre a palavra saudade.

Penso, porém, que depois de ler estes dois textos, tudo o que viesse depois iria tirar-lhes o sabor da autenticidade de cada palavra que Mons. Moreira das Neves alinhou para nos falar do seu sentir sobre esta palavra de sabor tão português.

sábado, 4 de junho de 2016

"Mês dos Santos" em Lisboa

Leitão de Barros (in, Wikipedia)

As marchas populares, sucedâneas dos primitivos ranchos e das "marchas ao filambó" com a adaptação em Portugal das "marches au flambeaux" de origem francesa, devem a sua iniciativa a Leitão de Barros, mercê do prestígio de que gozava na cidade de Lisboa, onde foi professor, cineasta, jornalista, dramaturgo e cujo sentido estético que lhe deu a pintura a que e dedicou e a Escola de Belas Artes onde concluiu o cursos de arquitectura, o havia de conduzir à arte cinematográfica e, a partir de 1934 à realização das primeiras marchas populares integradas nas Festa da Cidade.

Esta lembrança do homem a que de deve, que ainda hoje, "o mês dos Santos Populares" seja lembrado e acarinhado em Lisboa pelos seus bairros, levou-me à consulta de uma velha "Revista Municipal" de 1943 e que eu saiba, pela primeira vez, mercê de um poesia de Silva Bastos são posta em relevo as Festas da Cidade de Lisboa.

in, (captado com a devida vénia) da Revista Municipal 
(da cidade de Lisboa) nº 15 - 1º trimestre de 1943
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Por este tempo e por todos os bairros da Cidade vai um afã que ocupa os dias e as noites dos responsáveis, cenógrafos e marchantes para que na noite aprazada do desfile garboso Av. da Liberdade abaixo, à compita, todos - possivelmente, sem se lembrarem de Leitão de Barros - hão-de encher de música, canto e danças toda a emblemática avenida de Lisboa.

Fica, aqui, modestamente, uma lembrança do homem que sonhou o momento que todos os anos se renova, o que prova que em cada homem - se ele quiser - há um momento a cumprir que pode deixar dele, para os vindouros, uma memória que é dever honrar.

Há vidas que...


No nosso mundo...


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Do "Diário XIV" de Miguel Torga


Uma pequena leitura do Diário XIV de Miguel Torga:

Vila da Feira, 30 de Novembro de 1983 - Inauguração de um monumento a Fernando Pessoa. No fim da cerimónia, em que colaborei, ofereceram-me a bandeira nacional que o cobria. E vou guardá-la por duas razões. Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido emblematicamente a glória do poeta. Glória pura que, como poucas, merecia a graça desse póstumo calor materno. Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
in, Diário XIV

Há frases, que quando as lemos, ficam com o calor humano que têm e com a força, o sentido e tudo o que nelas tranluz de verdadeiro, ficam a martelar como sinos em toques de júbilo para acordar os nossos sentimentos.

Diz Miguel Torga ao falar de Fernando Pessoa: Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal de versos, e nesta frase, Torga chamou para seu sustento esse livro admirável de Pessoa: MENSAGEM que desde o primeiro poema - O dos Castelos - até ao último - Nevoeiro - nos dá uma unidade histórica, lógica e sequencial, apresentada numa estrutura tri-partida nos seus 44 poemas, começando por nos dar a esperança do "sonho português" até se afundar num Império agonizante em que o nevoeiro está presente.

NEVOEIRO

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer,

Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!


Se Portugal é colocado sob o manto do NEVOEIRO no último poema da MENSAGEM, quer dizer que Fernando Pessoa foi profético, porque Portugal até hoje, ainda não conseguiu sair dele, continuando à espera de um novo D. Sebastião que não vemos modos de aparecer no horizonte... porque o NEVOEIRO continua!

Naquele dia 30 de Novembro de 1983, Miguel Torga bem mereceu que lhe tivesse sido ofertada a bandeira de Portugal que emblematicamente havia coberto o busto de Fernando Pessoa, porque a ele pertenceu a súmula mais singular algum dia ouvida para homenagear o autor da MENSAGEM:

Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.

Não serei eu...

http://jornais.sapo.pt/(jornal "i" de 3 de Junho de 2016)
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Não serei eu a duvidar da sinceridade de Manuel Alegre quando disse o que acima se captou do Jornal "i", porque não tenho o direito de não crer no homem-Poeta que admiro pelos poemas que vai deixar como uma lembrança da sua acção literária a um Mundo, bem precisado de vozes que falem direito.

Mas isto não obsta um comentário: que Manuel Alegre venha a ser mal entendido, quando uma grande parte do povo - de que faço parte - sente que a solução natural de governo, não foi a encontrada, ainda por cima fora do tempo eleitoral, mas a ter de ser assim para Portugal ser governável, para essa parte do povo português a solução normal era um encontro com as fileiras do PSD, afinal, bem perto das do PS.

Mas... se se pensar que ele, é hoje, uma das poucas âncoras que resta - e desejo que assim seja por muitos anos - ao Partido Socialista que teve de se opor na Fonte Luminosa à deriva de uma nova Ditadura que o PCP quis impor a Portugal, esta lembrança - ao ver-se agora o que se vê - pode levar muitos dos meus concidadãos a pensar que Manuel Alegre não tem razão na afirmação que fez.

À boleia...

http://24.sapo.pt/(de 3 de Junho de 2016)
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Ontem o Presidente da República, durante a visita que fez à Base Aérea nº,1 da Força Aérea, em Sintra, disse, a propósito da revisão em baixa das previsões económicas, que se for preciso fazer ajustamentos ou um orçamento rectificativo para cumprir a redução do défice, isso não constitui nenhum drama.
Já aconteceu com governos anteriores. Se obriga a ajustamentos, se obriga a retificações, se obriga a orçamentos rectificativos, eles aparecem. Não são um drama, como eu já tive ocasião de dizer, são o fruto de uma lucidez.

Não esperou António Costa para se colocar à boleia do Presidente da República a ter em conta o que diz, hoje, a notícia: Neste momento não há razões para recear um orçamento rectificativo.

Claro que não... mas para quem dizia que tinha as contas certas não deixa de ser um enxovalho do ponto de vista da credibilidade política... mas, de tão  malbaratada como anda que mal faz... se todos sabemos que é costume, dizer-se o que não se sabe - e nem se sente - se para tanto for preciso "vender gato por lebre"?

- É a vida... não é?
- Pois é... mas devia haver mais respeito pelos cidadãos, que ainda continuam a acreditar na regeneração que tarda!

Saudades d'alguém ausente...



O Sol anda e desanda...



Se eu soubesse que voando...



Lava a camisa com jeito...



Trago os meus olhos ceguinhos...



Da minha casa p´ra tua...



Eu vesti-me e assei-me...



Meu amor se vires cair...



quinta-feira, 2 de junho de 2016

Os ourives da palavra - Winston Churchill


"Há um momento especial que acontece na vida de toda pessoa, o momento para o qual ela nasceu. Quando aproveitada, essa oportunidade extraordinária faz com que a pessoa cumpra sua missão - uma missão para a qual somente ela tem as qualificações necessárias. Nesse momento, a pessoa encontra a grandeza. Esse é seu mais maravilhoso instante."
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Os verdadeiros homens de Estado têm - se quiserem - nesta insigne personagem inglesa um exemplo que a todos devia interessar, pelo seu modo de vida de cidadão e de político a que aliou a sua faceta de pensador, tendo enriquecido a Humanidade neste campo onde se arquitectam todas as estratégias da vida pessoal ou comunitária.

Pensando nas "palavras de ouro" que ele plasmou e acima se reproduzem, elas merecem-me o seguinte comentário:

Quando celebramos o dia do nosso nascimento devíamos-nos lembrar que ele foi o marco maior que Deus plantou à beira do caminho que fomos convidados a percorrer, não só pelo acto de que resultou a apresentação concreta ao mundo da nossa vida visível, mas e com grande expressão pelo acto concepcional da nossa vida intra-uterina que permitiu pela gestação biológica mais uma vida que desde o início do cruzamento dos gâmetas masculino e feminino deram origem ao zigoto, a célula que formou o embrião e no qual - pela acção invisível de uma Natureza que só Deus comanda - a pessoa resulta com uma missão a cumprir e para a qual, como diz Churchill, somente ela tem as qualificações necessárias.

Quer isto dizer - tal como o sinto - que quando festejamos os nossos aniversários na garridice da festa devíamos ter presente não só o acto da vida de que ela resultou, mas sentindo-o acompanhado da missão que cada vida trouxe consigo, algo que nem sempre temos na devida conta quando se sabe, que a cada vida foi dada condições da mesma ser vivida dentro dos parâmetros traçados pela Natureza de Deus e, de entre, eles, como sejam, o Amor, a Santidade, a Justiça, a Benignidade, escolher pela Graça da Perfeição - que sendo todos atributos divinos - aqueles que actuem na nossa fragilidade humana com as condições que permitam corresponder às qualificações necessárias, com que Deus nos marcou a partir do acto da concepção, onde a vida começa, bem ao contrário do que pensam as mentalidades modernas.

Como eu bem entendo...

http://jornais.sapo.pt/ (Público) de 2 de Junho de 2016
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Como eu bem entendo e, certamente, muita gente, o que o PS pretende, a coberto de uma "nova união nacional", é levar "às cordas" o PSD e o CDS, para mostrar a Bruxelas que em Portugal que António Costa desuniu politicamente, afinal há união contra a Europa, que não tem culpa nenhuma dos nossos desgovernos... e que a haver sanções, uma das causas é o "arranjinho" do governo que António Costa conseguiu.

Mas há uma ilação a tirar:
Não podemos dizer que António Costa não é esperto... só que usa uma esperteza manhosa, cheia de truques, que penso, a conseguir os votos do PSD e CDS, das duas, uma:
- Ou o Portugal político endoideceu.
- Ou a esperteza de António Costa "levou a água ao moinho"... o que já não me custa a crer depois de ter visto Passos Coelho a votar a favor das "barrigas de aluguer".

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Os ourives das palavras - Aristóteles


"Nós somos o que fazemos repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um acto, mas um hábito."
Aristóteles
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A fama dos grandes homens de que a História nos dá conta, se começou por ser uma consequência directa daquilo que fizeram de palpável e ficou a falar por eles depois do seu desaparecimento físico, tal facto é o resultado daquilo que pensaram no silêncio das suas mentalidades por terem sido a base da imaterialidade que sustentou as obras materiais que nos deixaram.
Quer isto dizer que a obra física que ficou para ser admirada teve um nascimento espiritual, algo inacessível às mãos porque vive por dentro, num lugar escondido onde estas não chegam.

Aristóteles no pensamento que acima transcrevemos diz algo que pode ter duas leituras: a de fazer, repetindo acções fazedoras de coisas materiais até sermos excelentes em tudo quanto fazemos, fazendo delas um hábito, ou por outro lado, repetindo acções contidas numa linha de espiritualidade humana que nos tornam criaturas a ter em conta na sociedade onde vivemos, fazendo que a nossa excelência possa ser cotada como um hábito natural e, portanto, digno de nota.

É muito conhecido este pensamento do velho filósofo grego - uma das grandes figuras da Humanidade -  e só por isso devia merecer, quer uma, quer a outra leitura que ele sugere, pelo que este "ourives da palavra" bem merecia continuar a ser atendido por aquilo que fez e por aquilo que disse.

Chamam-se "Lágrimas de Cristo"


Todos os anos, por este tempo, no velho jardim abrem-se ao sol umas flores que são um misto de branco e roxo exposto em cada uma das pétalas, de mistura com o verde escuro e robusto da caule coberto de uma folhagem larga e denticulada que cobre em derredor todo o terreno.

Ontem, ante o espectáculo daquela natureza e por desconhecer de todo o nome daquela bela planta, abordei o jardineiro - um homem já entrado nos anos - fazendo-lhe a pergunta que há muito tempo desejava fazer.

- Chamam-se "Lágrimas de Cristo" - respondeu-me solícito e como se não me bastasse o nome - acrescentou: Chamam-se assim, porque, o branco fala-nos da pureza de Jesus Cristo e o roxo, da sua Paixão, porque, Jesus que era puro, chorou...
- Muito obrigado - respondi... ao mesmo tempo que aquele simpático cuidador do jardim, pedindo desculpa, sem ter de o fazer a quem - naquele caso - lhe devia tudo, terminou assim o agradável diálogo daquela manhã de Primavera:
- Fique sabendo, que quando vir um homem chorar está na presença de um ser sensível que se assemelha à pureza de Jesus Cristo!

Despedi-me e fui pelo caminho a pensar em todas as suas palavras...

Jesus que era puro, chorou - havia acabado de ouvir - e veio-me à mente aquela passagem do Evangelho de S. Lucas (19, 41-44), no momento da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, dando-nos conta do seu lamento, quando depois da subida - que pela graça de Deus eu próprio já fiz - se avista em todo o esplendor a Cidade Santa.


Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada.»

Jesus - o Puro - chorou ao ver aquela cidade ingrata que não havia tido entendimento para ouvir a Mensagem que havia trazido para ela  - e para todas as cidades do mundo - e este pensamento centrado nas Palavras da Escritura, fez vibrar em mim todas as palavras que me dissera o velho jardineiro, com as últimas delas a martelar com doces pancadas de amor humano, o meu sentimento fraterno por aquele homem de aspecto humilde que tanto me ensinou naquela manhã:

Fique sabendo, que quando vir um homem chorar está na presença de um ser sensível que se assemelha à pureza de Jesus Cristo!

E eu fiquei a saber que não é feio um homem chorar, na certeza que choram todos aqueles que são sensíveis e se querem aproximar da pureza do Homem-Deus que ao caminhar para a Cruz que se avizinhava - e não havendo notícia que tenha chorado em todo o sacrifício a que foi exposto no Calvàrio  - chorou a o ver a cidade de Jerusalém, que como Ele predisse viria a ser derrubada, tendo isto acontecido no ano 70 pelas tropas romanas de Tito, sem ter ficado pedra sobre pedra das muralhas e do Templo e em 135, destruída pelas forças imperiais de Adriano que mandou arrasar a cidade.