"Quanto mais uma alma se desapega de si mesma pela resistência às
suas paixões, mais ela se une a Deus; e, por um feliz retorno, mais o bom Deus
se une a ela; Ele a olha, Ele a considera como sua esposa, como sua bem-amada;
faz dela o objecto de suas mais caras complacências, e fixa nela sua morada
para sempre." (São João Maria Vianney)
João Maria Baptista Vianney,
que se tornou conhecido por Santo Cura d’Ars (1), desde cedo desejou ser
sacerdote, num tempo sacudido pela Revolução Francesa, e num local - a sua
cidade natal de Dardilly - onde se vivia um paganismo centrado na negligência e
abandono da prática religiosa. Este homem invulgar depois de ter sofrido em 1791, a brutalidade da
imposição da “Constituição Civil do Clero” que coagiu os sacerdotes a um juramento
cismático - corte com o Papa e obediência àquele documento, sob pena de
prisão ou morte - com a família, tinha
ele 5 anos, deixou de assistir às celebrações dos padres “juramentados” e passou
a ouvir as clandestinas, celebradas em granjas e celeiros por padres “refractários”
- os que recusaram o juramento cismático - recebeu de um deles a primeira comunhão,
apenas aos 13 anos, naquele clima de perseguição e terror que o marcou para
toda a vida, desde logo na sua longa caminhada para o sacerdócio iniciada em
1803 e culminada em 1815 depois de muitas hesitações - não dele - mas da
hierarquia, como é conhecido. Tinha, então, 29 anos e não tardou a ser
designado para a cidadezinha de Ars, onde chegou em 1818 e haveria de a tornar
universalmente famosa.
Encontrou em Ars, um vilarejo
rural afastado de toda a espiritualidade cristã, na peugada do que havia
acontecido, anos atrás, em Dardilly e que tanto havia incomodado a sua piedade
nos alvores da sua mocidade.
Como havia o Cura de Ars (cura
era o nome que designava, na época, um padre de aldeia) a chamar, de novo, as
pessoas ao desafio do catolicismo?
Valeu-se da oração que centrava
todos os dias na sua profunda espiritualidade, desapegando-se de si mesmo e,
logo, como consequência, cada dia mais ligado ao pequeno mundo onde a Igreja o
colocara, tendo a certeza que ao viver assim, a sua alma se unia a Deus, que
num feliz retorno - como disse - mais o
bom Deus - havia de a recompensar pela dádiva que fazia em prol das ovelhas
tresmalhadas que havia na seu rebanho de Pastor, para quem pedia a conversão,
ajoelhado durante horas defronte do Santíssimo Sacramento, santificando-se para
poder santificar os que bem conhecia pelo nomes e não conhecia pela frequência
dos Sacramentos.
A Igreja de Ars pelo abandono a
que fora votada não atraía o exercício da espiritualidade dos seus naturais, algo que ele, ao reformá-la, como fez, embora
apontado em Lyon, pelos lojistas sacros onde ia fazer as compras - como o padre
magro e o mais mal arranjado - de pouco se importava com os dichotes, desde que
levasse com ele algo que não só lhe permitia embelezar a Casa de Deus, como
permitia que ela fosse acolhedora para os seus humildes camponeses.
Dizia fervorosamente que, muitas
vezes basta a vista de uma imagem para nos comover e converter. Não raro as
imagens nos abalam tão fortemente como as próprias coisas que representam, acompanhando isto, que não era pouco, com a
solicitude para com a juventude, que durante os terríveis anos da Revolução
crescera ignorando as mais comezinhas práticas de piedade e os rudimentos da
fé, atraindo-os para a prática do Catecismo, que não tardariam a ser conhecidos
nas redondezas como os mais bem instruído da região.
Nas suas pregações, em geral, os
deveres de cada um para consigo, para com o próximo e para com Deus, eram a
tónica.
Conta-se que ficou famosa uma
resposta dada a um paroquiano mais distante da espiritualidade que ele
empregava nos seus sermões, onde daquele corpo franzino a sua voz saia em tom
alto:
- Por que é que o Sr, Padre fala tão alto e quando reza fala tão baixo?
Ao que ele respondeu:
- É que quando prego, falo a surdos, e quando rezo falo a Deus, que o não
é.
Este homem que em vida foi um
santo mendigo por amor dos seus paroquianos e da Paróquia que serviu, foi
tornado venerável em 30 de Outubro de 1872; beatificado em 8 de Janeiro de 1905
pelo Papa Pio X ficou «patrono de todos os sacerdotes» e no primeiro dia de
Novembro de 1924 foi canonizado pelo Papa Pio XI, na Praça de S. Pedro, tem
como MO o dia 4 de Agosto, para que a sua vida exemplar fundada numa rara espiritualidade
ajude todas as almas a caminhar para Deus.
............................................................................
(1) - Ars-sur-Formans é uma comuna francesa na região administrativa de Ródano-Alpes, no departamento de Ain, situada ao norte de Lyon.
............................................................................
(1) - Ars-sur-Formans é uma comuna francesa na região administrativa de Ródano-Alpes, no departamento de Ain, situada ao norte de Lyon.
Sem comentários:
Enviar um comentário