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sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Américo Durão (1894-1969)



Foto retocada a partir do exemplar 
inserto na "Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira"


De seu nome completo, Américo de Oliveira Durão nasceu na vila do Couço, concelho de Coruche, em 26 de Outubro de 1894 e faleceu em Lisboa, no dia 7 de Março de 1969.
Frequentou a Escola Primária na sua terra natal, mas pelo facto dos seus avós maternos residirem em Leiria foi naquela cidade onde fez a frequência do Liceu, transitando, depois, para Lisboa para ingressar na Faculdade de Direito, no ano de 1917, no mesmo ano em que a poetisa Florbela Espanca passou a frequentar aquela Faculdade.

Este facto ocasional proporcionou entre os dois um relacionamento de índole literária, num tempo em que Américo Durão, era já um poeta de reconhecidos méritos no seio académico.
Publica os seus primeiros trabalhos na página literária de "O Século" em 1919, num tempo em que os jornais de grande expansão, ou não, dedicavam à cultura algum espaço.
Ainda estudante publica o livro "Tântalo" e vê o seu nome consagrado como um promissor sonetista de grande mérito, tendo nessa mesma época - ainda a frequentar a Faculdade de Direito - o prazer de ver representar no Teatro Nacional  D. Maria II, as suas peças, "Perdoar" ; "Maria Isabel" e "Ave de Rapina".

Concluídos os estudos o Poeta torna-se Professor a que se segue a sua carreira de Diplomata, exercendo o consulado em Bilbau e Trieste, a que se seguiu, a sua admissão na Câmara Municipal de Guimarães como Chefe de Secretaria e, por fim, a sua transferência para a Câmara Municipal de Lisboa, como coordenador do Sector de Publicidade e Turismo no ano de 1943.

Foi colaborador de revistas, como  "A Águia": "Contemporânea" e "Seara Nova", nas quais se revelou como um dos mais brilhantes literatos do seu tempo, havendo os que sustentam que a sua veia poética foi beber às escolas humanistas e saudosistas e no entender de Cabral do Nascimento (in, Líricas Portuguesas) a poesia de Américo Durão dirige-se à alma e ao mesmo tempo nos afaga os ouvidos, pela harmonia do verso.

Da sua obra ressaltam os seguintes livros: "Penumbras" (1914); "Vitral da Minha Dor" (1917); "Poema de Humildade" (1917); "Tântalo" (1921); "Lâmpada de Argila" (1930) e "Tômbola" (1942).

Eis alguns dos seus poemas.


A ÁGUA

Eu fui a sombra a converter-se em luz,
E fui a névoa a transformar-se em cor,
E fui o pranto a consagrar a dor,
Quando brilhei nos olhos de Jesus.

E fui a nuvem a buscar a altura,
E recebi do Sol a cor da chama.
Caí na terra e converti-me em lama
Para a tornar melhor e menos dura!

Fui pranto de perdão e de humildade...
E foi nuns olhos cheios de saudade
Que mais linda me fiz e desejei!...

E fui rio... e fui mar... e onda... e espuma...
E, em sonho de Poetas, fui à bruma...
O vago... o indeciso... o que não sei....

in, Penumbras


DIFERENTE

Buscando o vão Ideal que me seduz,
Sem que o atinja me disperso e gasto,
E ansiosamente aos braços duma cruz
Ergo o perfil de iluminado e casto.

Já tristemente desdenhoso afasto
O manto de burel dos ombros nus;
E a noite pisa a forma do meu rasto,
Se deixo atrás de mim passos de luz.

Na minha tez suave e nazarena,
Transparecem vislumbres dessa pena
Que Deus pelos estranhos hà sentido...

E frio e calmo, a divergir da Raça,
Mal poiso os lábios no cristal da taça
Por onde as outras almas têm bebido!

in, Vitral da Minha Dor


EX - LIBRIS

Tomei as cinco chagas para emblema:
Pois trago no meu peito as cinco chagas!
E molho a ponta fina das adagas
No meu sangue, ao escrever este poema!

Vida, passa por mim! Jamais apagas
A minha voz olímpica e suprema:
A Dor não se amordaça, nem se alhema,
Quer cante em verso, ou se revolte em pragas!

Numa tarde em Judeia os fariseus,
A um doce Rabi, filho de Deus,
Pregaram numa cruz por ser o Eleito.

Então, cerrou-se a noite na montanha.
E as cinco chagas dessa tarde estranha
Abrem hoje vermelhas no meu peito!

in, Tântalo

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