Há uma inteligência
tão superior que, comparados com ela, todo o pensamento e todas as acções
humanas não são mais do que um reflexo insignificante.
Einstein
No tempo
actual, muito cheio, ainda, das teorias iluministas surgidas no século XVII
através de racionalistas da estirpe
de René Descartes e Baruch Spinoza e
políticos, como Thomas Hobbes e John
Locke, é marcante em muitos dos campos
da ciência, a fé virada ostensivamente contra o
poder da razão.
No dia 14 de
Setembro de 1998, o falecido Papa João Paulo II publicou a Encíclica: “A fé e a Razão” (fides et ratio) e cujo
título introdutório, é: “Conhece-te a ti mesmo” Quem sou eu? Donde venho e para
onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida? Estas
perguntas encontram-se nos escritos sagrados de Israel, mas aparecem também nos
Vedas e no Avestá. São questões que têm a sua fonte comum naquela exigência de
sentido que, desde sempre, urge no coração do homem: da resposta a tais
perguntas depende efectivamente a orientação que se imprime à existência.
Postos perante
esta clarividência que desde sempre animou a existência do homem o “atrever-se
a conhecer” proposto por Kant no século XVIII, integra-se na fonte comum
naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem, mas
que necessita de uma resposta não só baseada no racionalismo, mas no
conhecimento da Verdade sobre o seu destino e esse conhecimento ou se adquire
com alguma dose de humildade – do tipo da que nos deu em 1934 o grande cientista
Einstein e acima transcrita – ou, se não for assim, o homem há-de passar a sua
vida preso a um positivismo racional, mas cujas saídas são incompletas e
imperfeitas, pela simples razão que todo o conhecimento tem de se basear no
equilíbrio que existe entre a fé e a razão.
Diz, João
Paulo II que, que a verdade alcançada pela via da reflexão filosófica e a
verdade da Revelação não se confundem, nem uma torna a outra supérflua: Existem duas ordens de conhecimento,
diversas não apenas pelo seu princípio, mas também pelo objecto. Pelo seu
princípio, porque, se num conhecemos pela razão natural, no outro fazemo-lo por
meio da fé divina; pelo objecto, porque, além das verdades que a razão natural
pode compreender, é-nos proposto ver os mistérios escondidos em Deus (...).
Que mistérios
são estes?
São os que a
razão não alcança, por muito lógico que seja o raciocínio, porque o homem é em
si mesmo um mistério que se entronca na sobrenaturalidade da condição humana
que o faz pertença de uma ordem de conhecimento diversa da do seu conhecimento
filosófico, devendo por isso, sem ter a sensação de se apoucar, reconhecer que
a razão filosófica que o faz entender os fenómenos, fica subjugada às causas
que os originam.
Que causas são
estas?
São as que
estão na origem da fé enquanto motor de coerência que acerta os movimentos com
o poder da razão, porque a fé não se encontra de costas voltadas para ela, bem pelo contrário, precisa de tal modo do
raciocínio que não o pode dispensar para esclarecer o entendimento das coisas
de um mundo complexo, que alguns querem tão matematicamente certo que o relógio
humano pode viver toda uma vida sem jamais acertar as horas com o relógio do
sobrenatural que o cerca, quer ele queira ou não.
Crer para
entender, este é o lema que o homem deve colocar a si mesmo, partindo do
princípio que a fé não é uma abstracção do espírito, mas antes, um acto
consciente da inteligência que leva muitos homens a recusá-la – não a usando
para aceitar o incognoscível, mas usando-a para não se comprometerem com aquilo
a que ela obriga, não pensando que ao pôr recusas ao acto de acreditar em Deus,
tornam-se livres para o mundo que os rodeia, mas deixam-se aprisionar a eles
mesmos, porque bem no íntimo de cada homem a fé é algo que vive sempre, agrilhoada ou não.
É falso, por
isso, a incompatibilidade entre a razão e a fé, porque se a existência da razão
é uma actividade consciente do homem, a fé, enquanto - convicção de factos que
se não vêem - como disse S. Paulo (cf Hb
11,1) é, também, um compromisso consciente e que ao comprometer a razão lhe dá
sentido. É, por isso, que se na filosofia a razão objectiva que é racional em
si mesma, aceita que o objecto do conhecimento deva ser racional, a razão
subjectiva, advoga que o sujeito do conhecimento ou da acção deva ter fundamentos
de tal modo racionais - como se
depreende do facto de haver factos que
se não vêem - e que do encontro das duas razões surja. por fim, a harmonia entre estas duas racionalidades.
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