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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Fé e Razão


Há uma inteligência tão superior que, comparados com ela, todo o pensamento e todas as acções humanas não são mais do que um reflexo insignificante.
Einstein


No tempo actual, muito cheio, ainda, das teorias iluministas surgidas no século XVII através de  racionalistas da estirpe de  René Descartes e Baruch Spinoza e políticos, como  Thomas Hobbes e John Locke, é  marcante em muitos dos campos da ciência, a fé virada ostensivamente contra o  poder da razão.

No dia 14 de Setembro de 1998, o falecido Papa João Paulo II publicou a Encíclica:  “A fé e a Razão” (fides et ratio) e cujo título introdutório, é: “Conhece-te a ti mesmo” Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida? Estas perguntas encontram-se nos escritos sagrados de Israel, mas aparecem também nos Vedas e no Avestá. São questões que têm a sua fonte comum naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem: da resposta a tais perguntas depende efectivamente a orientação que se imprime à existência.

Postos perante esta clarividência que desde sempre animou a existência do homem o “atrever-se a conhecer” proposto por Kant no século XVIII, integra-se na fonte comum naquela exigência de sentido que, desde sempre, urge no coração do homem, mas que necessita de uma resposta não só baseada no racionalismo, mas no conhecimento da Verdade sobre o seu destino e esse conhecimento ou se adquire com alguma dose de humildade – do tipo da que nos deu em 1934 o grande cientista Einstein e acima transcrita – ou, se não for assim, o homem há-de passar a sua vida preso a um positivismo racional, mas cujas saídas são incompletas e imperfeitas, pela simples razão que todo o conhecimento tem de se basear no equilíbrio que existe entre a fé e a razão.

Diz, João Paulo II que, que a verdade alcançada pela via da reflexão filosófica e a verdade da Revelação não se confundem, nem uma torna a outra supérflua: Existem duas ordens de conhecimento, diversas não apenas pelo seu princípio, mas também pelo objecto. Pelo seu princípio, porque, se num conhecemos pela razão natural, no outro fazemo-lo por meio da fé divina; pelo objecto, porque, além das verdades que a razão natural pode compreender, é-nos proposto ver os mistérios escondidos em Deus (...).
Que mistérios são estes?
São os que a razão não alcança, por muito lógico que seja o raciocínio, porque o homem é em si mesmo um mistério que se entronca na sobrenaturalidade da condição humana que o faz pertença de uma ordem de conhecimento diversa da do seu conhecimento filosófico, devendo por isso, sem ter a sensação de se apoucar, reconhecer que a razão filosófica que o faz entender os fenómenos, fica subjugada às causas que os originam.
Que causas são estas?
São as que estão na origem da fé enquanto motor de coerência que acerta os movimentos com o poder da razão, porque a fé não se encontra de costas voltadas para ela,  bem pelo contrário, precisa de tal modo do raciocínio que não o pode dispensar para esclarecer o entendimento das coisas de um mundo complexo, que alguns querem tão matematicamente certo que o relógio humano pode viver toda uma vida sem jamais acertar as horas com o relógio do sobrenatural que o cerca, quer ele queira ou não.

Crer para entender, este é o lema que o homem deve colocar a si mesmo, partindo do princípio que a fé não é uma abstracção do espírito, mas antes, um acto consciente da inteligência que leva muitos homens a recusá-la – não a usando para aceitar o incognoscível, mas usando-a para não se comprometerem com aquilo a que ela obriga, não pensando que ao pôr recusas ao acto de acreditar em Deus, tornam-se livres para o mundo que os rodeia, mas deixam-se aprisionar a eles mesmos, porque bem no íntimo de cada homem a fé é algo que vive sempre,  agrilhoada ou não.

É falso, por isso, a incompatibilidade entre a razão e a fé, porque se a existência da razão é uma actividade consciente do homem, a fé, enquanto - convicção de factos que se não vêem  - como disse S. Paulo (cf Hb 11,1) é, também, um compromisso consciente e que ao comprometer a razão lhe dá sentido. É, por isso, que se na filosofia a razão objectiva que é racional em si mesma, aceita que o objecto do conhecimento deva ser racional, a razão subjectiva, advoga que o sujeito do conhecimento ou da acção deva ter fundamentos de tal modo racionais -  como se depreende do facto de haver  factos que se não vêem - e que do encontro das duas razões surja. por fim,  a harmonia entre estas duas racionalidades.

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