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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Caminhemos... sempre!




Ali

Ali sofreste. Ali amaste.
Ali é a pedra do teu lar.
Ali é o teu bem, teu lugar.
Ali a praça onde jogaste
o que o destino te quis dar.

Ali ficou tua pegada
impressa, firme, sobre o chão.
Ninguém a vê sob o montão
de cinza fria e poeirada?
Distingue-a, sim, teu coração.

Podem talvez o vento, a neve,
roubar a flor que tu criaste?
Ali sofreste. Ali amaste.
Ali sentiste a vida breve.
Ali sorriste. Ali choraste.

Saúl Dias, in "Sangue"


Neste Ano Novo que hoje começa, o pensamento que vai em epígrafe - segundo a nossa opinião - leva implícita uma norma de vida a seguir, porquanto, nenhum passado de qualquer homem pode ter sido tão inúitil que não tenha algo de bom para o ajudar a situar em cima do tempo novo que a ditadura implacável do calendário impõe.
É aí que se situa o trampolim de que nos fala o antigo Primeiro-Ministro de Reino Unido, Harold MacMillan e que nos deve servir - não para cairmos, sonolentos, em cima do sofá, mas acordados para uma nova caminhada.

Atente-se, depois, na segunda estrofe do poema de Saúl Dias e, logo, no primeiro verso: Ali ficou a tua pegada, enquanto imagem feliz do salto que é preciso dar no intuito de, em consequência do caminho que se deve percorrer, fazer o mesmo e com a mesma firmeza, porque, de acordo com aquilo que ele diz cada passada do homem consciente do seu destino tem de ficar impressa, firme, sobre o chão,servir de um trampolim activo para colocar, decididamente, cada homem no cumprimento do seu dever em cima deste Ano Novo.

Jamais, portanto, fazer do trampolim do passado um meio de nos sentarmos comodamente no Ano Novo, refastelados num sofá aveludado, deixando o tempo correr.
Caminhemos... sempre!´

Podem talvez o vento, a neve,
roubar a flor que tu criaste?

Podem, se nos esquecermos que é do trampolim do passado onde sofremos, mas onde amamos, que é preciso continuar a caminhar, mesmo sofrendo... mas sem nunca nos esquecermos de amar todos os homens e mulheres que tantas vezes nos aliviaram na vida breve os sofrimentos longos.
Caminhemos... sempre!


Um bom Ano Novo para todos os homens e mulheres de Portugal, independentemente de credos políticos, de paixões clubistas, de raças ou regionalismos, porque, é em cima das maiores diferenças que urge construir a unidade.


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