Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho
que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. (Mt 7, 13)
Neste tempo secularizado
que sentido tem falar de Jesus?
Eis uma
pergunta de cunho radical que muitos colocam à fé de quem acredita no
Homem-Deus e aos quais é preciso dar uma resposta consequente.
Dir-se-á, que
ganha hoje todo o empenho – como nunca aconteceu - falar de Jesus, neste
momento inquietante que a Humanidade vive, apostada como está numa
licenciosidade sem freio que está minando os alicerces espirituais onde se
fundam os melhores princípios básicos da moral social.
Servimo-nos de
um texto de S. Lucas ( 13, 22-30) que nos apresenta Jesus num dado tempo e lugar, num momento em
que Ele percorria cidades e aldeias a caminho de Jerusalém e ao ser interpelado
por um ouvinte, respondeu a uma pergunta sobre a salvação, tendo no acto
proferido as seguintes palavras: Porfiai
por entrar pela porta estreita; (…).
O que é isto
da porta estreita?
Radica-se esta
imagem num facto incontroverso.
A Mensagem de
Jesus destina-se aos homens de todos os tempos, sendo desde o princípio
portadora de um anúncio de salvação, embora, como hoje acontece se defronte com
a provocação de uma sociedade massificada, opulenta e instalada, que vê nesta
porta estreita um entrave aos seus prazeres imediatos.
A cidade
secular não entende isto, porque ébria que está de um mundo devasso, entende
que tem todo o direito de procurar por todos os meios a porta larga, por onde
possam entrar sem peias todos os
desvarios mais torpes e atentatórios da dignidade humana.
Eis porque faz
todo o sentido falar de Jesus.
E citá-lo
naquilo que é o fundamento da sua apresentação aos homens: levá-los a discernir
de uma vida sem freio, onde se perdem as melhores virtudes e daquela que lhe
pode dar meios de salvação, entendendo-se por isto, que se trata de os salvar
dos atoleiros em que um mundo pouco escrupuloso os podem conduzir.
É preciso,
pois – é até, urgente – chamar ao nosso mundo o Homem de Nazaré, morto pelos
homens das portas largas a quem Ele propunha uma vida de portas estreitas e que
eles recusaram a todo o custo, como hoje acontece, entre nós, a ponto de poder
dizer que uma parte da nossa sociedade, dita erudita e letrada, não hesitaria
em O crucificar de novo para poder continuar com a devassidão das suas vidas.
Chamemos o
homem secularizado do nosso tempo à razão.
É preciso
encontrar equilíbrios e estes vão beber por inteiro no discurso cristão, onde
mora o sentido do amor verdadeiro do homem pelo homem e, onde, o discurso da
porta estreita é, apenas, mas fundamentalmente, uma chamada às profundezas do
homem que é bom por natureza e deve ser chamado, se perdeu o sentido, a
empreender o retorno a uma caminhada mais condizente com o seu estatuto moral.
Jesus não
abdica do sentido que nos deixou.
E a porta
estreita, afinal, pode ser – se o homem quiser – a grande porta de entrada numa
Humanidade diferente, mais respeitadora do homem de si para si mesmo e deste
para todos.
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