Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Que a nós mesmos não criemos penedos no caminho!




Atribue-se a Mark Twain a seguinte máxima:

- Estou velho e já passei por muitas dificuldades, mas a maioria delas nunca existiram.

Que nesta noite, quando o silêncio cair sobre as cidades e sobre os afãs de mais um dia que passou, este pensamento do escritor seja um motivo de interpelação para um certo modo de viver que nos leva - quantas vezes - a inventar penedos no caminho e, depois, sem termos as forças que julgávamos ter, passamos a tropeçar neles com o estrondo dos nossos próprios desencantos.

Que Deus que não nos dá problemas superiores às forças que temos (1) nos ajude a repor em ordem as causas que nos levam a viver sobre brasas, porque desse modo não apreciamos o calor da vida que  é uma carícia e nos anima em todos os casos, bicudos ou não, que sempre acontecem, como uma consequência feliz de estarmos vivos.
Que Ele nos dê a serenidade de amarmos a vida sem criarmos problemas fictícios, para que um dia não digamos como Mark Twain:

 - Estou velho e já passei por muitas dificuldades, mas a maioria delas nunca existiram.

Que no exame de consciência que certamente faremos no fim de mais este dia sejam aferidas todas as dificuldades reais que exigem o nosso empenho para que elas sejam superadas, cumprindo um dever que é pedido à nossa condição de criaturas superiores  e ponhamos de lado - como trastes velhos... que o são - todas aquelas imagens agigantadas pelos nossos olhos... onde deixamos perder o brilho de Deus, quando, afinal, é apenas Ele que tem força para suster o fraco (2) ajudando-o a vencer todas as dificuldades reais que sempre  acontecem.

Que Deus reponha um certo equilíbrio que às vezes nos falta...

Sobretudo, aquele, que nos faz inventar os penedos do caminho, na procura desenfreada de bens - que são, tantas vezes, os obstáculos que construímos - tentando viver a fingir de fortes, quando a verdadeira fortaleza é uma conquista por aquilo que sentimos no nosso coração, onde afinal, é que reside o dom que nos dá a sabedoria de viver e nos reequilibra sempre que surjam à nossa frente os tais penedos do caminho.

Deste modo que Deus nos ajude a tirar do caminho os obstáculos contra os quais esbarramos e nos ensine a ter a humildade de O aceitarmos na nossa vida, sendo pobres de espírito mas ricos de entendimento.
..........................................................................................
(1) - Cf. 1 Cor.10,13)
(2) - Rom. 14,4

Palavras lapidares



São lapidares estas palavras de Descartes:

Todo o método consiste na ordem e disposição daquilo para onde é necessário dirigir a agulha dos espírito.

No nosso tempo conturbado em que parece que a agulha do espírito anda por aí a girar um tanto entontecida na bússola de muitos homens, mesmo daqueles que são chamados  a dirigir por imperativos políticos as sociedades, e que não fazem do Espírito superior que a todos nos governa um modo de condução das suas próprias vidas, as palavras do velho filósofo não podem deixar de ser lembradas.

É, por isso, por vivermos sem o  método equilibrado do Espírito de Deus, que vivemos às apalpadelas, como se fôssemos cegos de olhos abertos.
Andamos todos a fingir de valentes...

A dizer aos quatro ventos que somos donos dos nossos destinos, sem cuidarmos de ver na bússola que somos a agulha do espírito a doer-se das muitas voltas que dá, à procura dos rumos certos mas  que apenas se encontram na rota de Deus.
Andamos à deriva.
Esquecidos do norte - porque nos tem faltado o método - as sociedades estão a tornar-se cataventos esquisitos, dirigidos teimosamente para a direcção errada da vida de onde sopram muitos dos ventos contrários que entontecem a nossa vida.

Atentemos nisto, porque se a vida é profundamente marcada pelos nossos movimentos físicos, não pode deixar - com pena desses movimentos não serem os mais indicados - de ser comandada pelo espírito de cada homem onde Deus é uma presença viva, porque Ele vive no pensamento de cada um de nós.
Agir ao contrário não vale...

É fazer-se o homem charlatão de si mesmo, ou seja, viver mentindo à sua própria dignidade.

Nunca desprezes os pequenos...




Há um pensamento profundo
do qual não é conhecido o autor
e que esconde sob um conceito filosófico
todo um programa de vida.

Daquela que deve ser vivida
para sermos mais puros nas relações humanas.

Diz, assim:

Nunca desprezes os pequenos,
quando estás a subir,
pois, poderás encontrá-los
quando estiveres a descer!

Que bela erudição anónima... e que é, no entanto
das mais puras e lineares da inteligência humana
posta por Deus, no mundo, para mostrar caminhos
aos homens importantes, que passam a subir,
sem darem conta dos pequenos, que às vezes,
até, atropelam na ânsia de chegar ao alto...
sem pensar que a roda da fortuna também desanda
e os pequenos que hoje desprezam
podem vir ser úteis se um dia se desce!

Que o Senhor Deus nos ajude a subir,
mas que seja sempre a nossa subida
um processo correcto do respeito pelos outros...
especialmente dos mais pequenos!


Uma lembrança de António Sardinha





Acontece, não raro, e todos -  de um modo geral, somos testemunhas desta anomalia patriótica – termos ouvido, aqui e ali, cantar loas ao que é estrangeiro, pondo-se em causa o que é nacional, sejam homens, objectos ou instituições, o que, convenhamos, é uma falta de respeito por Portugal, este belo País que herdamos dos nossos maiores, íntegro e carregado de valores ancestrais e que por causa do nosso gelo patriótico vamos enterrado um pouco por todo o lado na vala comum de um desamor secular que nos devia envergonhar.

É por isso, que temos o dever de falar dos  homens que ao longo de todos os tempos se tem rebelado contra este estado de coisas, como fez António Sardinha, um insigne filho do Alentejo.
Monárquico de pensamento e acção, veio a ser um dos fundadores do Integralismo Lusitano, movimento político que se opôs aos republicanos, em especial aos apaniguados da “Nova Renascença” que afirmavam  que a regeneração de Portugal só seria possível com a quebra dos laços com a Igreja Católica,  ao que ele contrapunha – na linha ideológica do seu companheiro Almeida Braga - que tal só seria possível com um retorno à integralidade do espírito católico que esteve na fundação da Pátria portuguesa.

Eram outros tempos. Corria o ano de 1913.

Homem injustamente esquecido, nestes tempos em que o pensamento das virtualidades da raça portuguesa não deixam continuamente de se esbater, indo-se muitas vezes ao ponto de dizermos mal de nós mesmos e erigindo os estranhos como escola de virtudes, a sua figura de intelectual e político deve ser lembrada, pesem, muito embora, os tempos e os distanciamentos políticos.

No ano de 1923, estando em Elvas, cidade onde viria a morrer em 1925, António Sardinha redigiu uma comovente homenagem a um amigo, Dr. Manuel Ferreira Deusdado, onde ao falar de si mesmo se declara filho dum século que envenenou a inteligência e perverteu a sensibilidade(...)  e, depois, de uma análise sobre a sua situação de soldado de contra-revolução religiosa e política que urgia fazer para um retorno aos seus ideais patrióticos,  declara sem rebuço, focando o Integralismo, que as suas campanhas nacionalistas desceram das Letras à Política - subiram da Acção à atmosfera Diáfana das Ideias. Tudo se obliterara entre nós  - desde o instinto das nossas raízes seculares até à posição que nos tocava, como raça e como Estado, no drama agudíssimo das nações contemporâneas. Como se o solo sagrado da terra dos Avós se tivesse transformado num tablado ignominioso de títeres de feira.

De seguida, chama para o seus escrito a pena desempoeirada do historiador Oliveira Martins, citando-o a partir da sua obra “História de Portugal” e transcrevendo dela o seguinte: "Daí vem o caso - escreve ele -  talvez único na Europa, de um povo que, não só desconhece o patriotismo, que não só ignora o sentimento espontâneo de respeito e amor pelas suas tradições, pelos seus homens superiores, que não só vive de copiar, literária e politicamente, a França, de um modo servil e indiscreto, que não só não possui uma alma social, mas se compraz em escarnecer de si próprio, com os nomes mais ridículos e o desdém mais burlesco. Quando uma nação se condena pela boca de seus próprios filhos, é difícil, sendo impossível, descortinar o futuro de quem perdeu por tal forma a consciência da dignidade colectiva".

António Sardinha sentiu na sua alma patriótica todas estas palavras do brilhante intelectual e bateu-se em defesa delas. Em vão, pois, não foi, como era natural, considerado pelos republicanos do seu tempo e foi de igual modo esquecido nos tempos subsequentes – até hoje -  mas ele foi um  patriota de sangue antigo que bem merecia ser mais respeitado, mesmo até, pela sua posição política contra-revolucionária dirigida a um sistema que para se impor matou o Rei e o Príncipe e não dava mostras de achar uma regra política consciente e consistente para Portugal, que no seu tempo se ia atolando nas cambalhotas quase diárias das quedas dos ministérios.

Ao chamar para defesa dos seus ideais a pena de Oliveira Martins, que no fim do século XIX, assistiu, atónito, à falta de patriotismo, à falta de respeito pelas tradições e pelos homens superiores, vivendo-se a fazer cópia de tudo o que vinha da França jacobina, onde faltava uma alma social, indo-se  ao ponto masoquista do povo  se comprazer em fazer escárnio de si mesmo, não tendo dos homens que dirigiam os negócios públicos uma imagem positiva.

Mas não se julgue que o pensamento de algum desconforto que passou a existir do alheamento  da alma nacional arcaica por parte de algumas camadas do povo português era uma toleima, quer de António Sardinha, quer do brilhante historiador.
No prefácio do livro “Portugal Terra de Mistérios” da autoria de Paulo Alexandre Loução, recentemente publicado, a escritora-filósofa Dalila Lello Pereira da Costa assume com frontalidade que a decadência espiritual terá começado no reinado de D. João III, afirmando que o Portugal mítico passa à clandestinidade e caminha à deriva ao longo dos últimos séculos(...)

 António Sardinha sentindo-se filho dum século que envenenou a inteligência e perverteu a sensibilidade, teve a coragem que falta a muitos dos nossos intelectuais contemporâneos, expondo claramente o seu pensamento em ordem perante a Nação decadente do espírito mítico que a enformou nos princípios da nacionalidade, ao afirmar que as suas campanhas nacionalistas desceram das Letras à Política - subiram da Acção à atmosfera Diáfana das Ideias.

É isto que nos falta para regenerar Portugal, mas infelizmente, não vemos nem homens nem associações políticas interessadas ou capazes de num esforço de retorno às raízes, erguerem a bandeira do nacionalismo mítico, assumindo como causa a defesa da atmosfera Diáfana das Ideias, sendo certo, que, ou passa por estado de alma um movimento restaurador de Portugal ou, veremos, a breve trecho o País mergulhado na insensibilidade das Pátrias que perderam o  sentido histórico da sua posição no mundo.

Só por isto merece a pena, lembrar, quase um século depois, o pensamento desse homem que fez do Integralismo um modo de amar Portugal, pela simples razão que no nosso tempo tão ensosso e tão cinzento, onde o patriotismo é uma aragem que passou em muitas almas, onde as poucas tradições que conseguiram sobreviver vão morrendo e onde não há respeito pelos homens grados, de que resulta a necessidade urgente em fazer de novo uma chamada a uma terceira regeneração de Portugal, que a não ser feita nos levará a todos a cair na embocadura de um desânimo colectivo, perdida a chama da Pátria, porque aos poucos – sem o sentirmos -  se vai perdendo a consciência da dignidade colectiva que fez de Portugal uma pequena, mas grande Nação.

É que, se atentarmos no tempo que nos é dado viver – ainda que a esperança seja a última coisa a morrer – o que vemos é, mais ou menos generalizado, um certo abatimento e desinteresse do povo pelas coisas do Estado, não vendo nos homens mais responsáveis referências de valor que possam fazer vir  acima um certo orgulho que havia em se ser português.
E não se julgue que isto é uma imagem de retórica.

É a verdade que se vê espelhada em muitas mentes, que sem culpa, deixaram de ter confiança em Portugal, neste País que um dia se fez ao mar das trevas para encontrar novos mundos e onde levou a sua cultura, que ainda hoje perdura como uma marca indelével que há-de ficar a marcar para sempre a gesta de homens oriundos de um povo prenhe de valores fundados num nacionalismo mítico – nunca é demais dizê-lo - e que foi morrendo aos poucos quando passou a olhar  a partir de Junot, a quem chamou servilmente el-rei Junot, bajulando sem vergonha o chefe invasor e passando sem qualquer disfarce e com maior ênfase a partir daí, a denegrir os valores intrínsecos da raça lusitana caldeada nos gelos agrestes dos montes da Estrela, onde viveu e lutou esse Viriato Trágico, cantando pelo insigne poeta de Avô.

É preciso voltar a regenerar Portugal. E depressa.

E isto tem de começar por cima, pelos homens que nos governam, obrigando-os a ter mais respeito pelo exemplo que dão das suas vidas, das suas atitudes e dos seus discursos, que é de tudo isto que parte muita da desesperança que o povo sente ao alhear-se da política e dos seus fautores, a quem cabe a grande responsabilidade de voltar a por Portugal na mó de cima, ou seja, na atmosfera Diáfana das Ideias,  mesmo com os actuais ventos de um mundo cada vez mais globalizado, onde a perda das fronteiras não pode nem deve matar os valores genuínos dos povos.

Ao lembrar hoje, António Sardinha e o pensamento do historiador que ele chama em defesa do seu amor à raça portuguesa o que se pretende é chamar a atenção para a necessidade de voltarmos a erguer em Portugal – já não com as ideias do Integralismo que estão ultrapassadas – mas com as ideias nobres da reintegração dos valores perdidos a favor de conceitos estranhos, dizendo mal dos nossos e erigindo o estrangeiro como escola, quando a nossa, que é velhinha e honrada não pode nem deve ser obliterada.

Às jovens gerações que nunca ouviram falar de António Sardinha que sobressaiu no primeiro quartel do século XX – até porque as Selectas escolares se esqueceram dele, como de tantos outros que não tiveram a dita de estar conectados com os regimes que se têm repartido no poder – faria bem a leitura dos seus textos e de igual modo os seus versos exemplares, como estes que iniciam a sua poesia “Letreiro”:

Tudo o que sou o sou por obra e graça
da comoção rural que está comigo.
Foi a virtude lírica da Raça
a herança que eu herdei do sangue antigo.


Descentralizar o Poder




Duas vezes nos comícios populares, muitas na imprensa tenho manifestado a minha íntima convicção de que nenhum círculo eleitoral deve escolher para seu representante indivíduo que lhe não pertença; que por larga experiência não tenha conhecido as suas necessidades e misérias, os seus recursos e esperanças; que não tenha com os que o elegeram comunidade de interesses, interesses que variam, que se modificam, e até se contradizem, de província para província, de distrito para distrito, e às vezes de concelho para concelho. Esta doutrina, posto que tenha vantagem no presente, reputo-a sobretudo importante pelo seu alcance, pelos seus resultados em relação ao futuro.(...)

Durante meses, no decurso de dois anos (...) Pude então observar amplamente quantas misérias, quanto abandono, quantos vexames pesam sobre os habitantes das províncias, principalmente dos distritos rurais, (...) que constituem a grande maioria do país.(...)
E isto que vi perspicuamente, apesar de uma observação transitória, vêem-no todos os dias, palpam-no, e, o que mais é, padecem-no centenares de homens honestos e inteligentes que vivem obscuramente por essas vilas e aldeias de Portugal. Como os seus vizinhos, eles são vítimas da nossa absurda organização; disso a que por antífrase chamamos administração e governo. É entre tais homens que os círculos deveriam escolher os seus representantes.(...)

Os partidos, sejam quais forem as suas opiniões ou os seus interesses, ganham sempre com a centralização. Se não lhes dá maior número de probabilidades de vencimento nas lutas do poder, concentra-as num ponto, simplifica-as, e, obtido o poder, a centralização é o grande meio de o conservarem.(...) (1)

Estas palavras são antigas. Reinava D. Pedro V.

Pertencem a um homem lúcido e inteligente, daqueles que não fizeram carreira política activa ao longo da vida, porque os profissionais da política do seu tempo sobrepuseram o interesse dos seus partidos à causa nacional por que ele se bateu com denodo, ao erguer afoitamente contra o conservadorismo reinante, a bandeira da descentralização que ainda hoje está por fazer e não se sabe quando se fará.

Estamos a falar de Alexandre Herculano.

Com a dissolução da Câmara dos Deputados em 26 de Março de 1858, tinham ocorrido as eleições de 2 de Maio, que já então  elegeram 162 deputados.
As palavras do grande homem das letras nacionais resumem maravilhosamente o seu apego ao municipalismo pelo qual se bateu em defesa do povo da avidez do poder centralizado. Esta defesa acérrima que levou ao longo da vida, fez que ele, de igual modo tenha condenado o materialismo do Setembrismo, de Passos Manuel (1836-1842) através de “A Voz do Profeta”, o Cabralismo ditatorial de Costa Cabral (1842-1846) que o fez retirar pela primeira vez da política activa entre os anos de 1841 e 1846 e a Regeneração, de Saldanha (1851-1865), embora reconhecesse que o Marechal era o político e militar português com mais carisma, tendo colaborado com ele naquele movimento político.

    Mas, mesmo assim, na peugada dos anteriores – que não eram estruturalmente Partidos políticos, mas antes, agremiações de interesses onde não havia ideologias consistentes – Herculano não deixou de meter os três no mesmo saco, pelo facto de todos eles representarem a negação dos princípios liberais, já que todos defendiam a ideia do centralismo contra a sua ideia da vida local ser, como devia, uma realidade com repercussão no governo e constituir no seu seio uma voz com a autoridade de quem sabia, melhor que ninguém, os problemas do País.

Arauto da defesa da gente simples contra o poder de qualquer tirania, Herculano, abjurava a tirania do rei em desfavor dos povo, bem como a da classe privilegiada contra a arraia miúda, da grande cidade contra o direito da província, de uma facção social – fosse qual fosse – contra o resto do País e, finalmente, não podia conceber que um oligarquia instalada no poder se impusesse à maioria, neste caso, ao povo humilde, trabalhador e sofredor.
Com os seus olhos de águia este homem lúcido, nascido numa família da pequena burguesia citadina que não teve meios de o mandar estudar em Coimbra, via mais longe, ao chamar a atenção para a necessidade imperiosa de se estender a vida política à vida das localidades, pois, segundo ele, era só desse modo, que o governo central poderia representar o pensamento do País, defendendo o que ele chamou a eleição de campanário, ou seja, aquela que escolhia o representante local no meio onde o mesmo vivia, pelo facto deles conhecerem os problemas do País real.

Esta sua visão da realidade do País já vinha de trás.

Em 1851, na Regeneração, quando Saldanha chamou para o governo Rodrigo da Fonseca Magalhães, de imediato, passa para a oposição, no pressuposto, que muito embora este vulto importante fosse um político de convicções – como veio a acontecer, não soube imprimir no Acto Adicional à Carta Constitucional, em 5 de Julho de 1852 - e nos cinco anos em que se demorou no governo, o cunho democrático como Herculano sonhava para bem do País e do povo.

O municipalismo por que pugnava e cujo desiderato político era o estabelecimento de uma classe média que se interpusesse entre os aristocratas e o povo e deste emanada, veio a falhar rotundamente, um facto que viria a tornar bem claro o seu pensamento em 1853, quando se rebelou contra Fontes Pereira de Melo e Rodrigo da Fonseca, nas páginas de “O Portuguez”, impondo a sua crença, que era um divisa de um profundo recorte social: que o País seja governado pelo País, desejando que a vida política fosse levada às mais recônditas parcelas da Nação.

Vem tudo isto a propósito para concluir que o País tem andado a perder tempo.

Começou, com este homem de eleição em 1851 e nas eleições de 2 de Maio de 1858, por perder, definitivamente  para a vida política – embora tenha sido eleito por Sintra – um homem da estirpe do grande escritor, que recusou trabalhar com políticas centralistas, levando-o no ano de 1867 a retirar-se para a sua quinta de Vale de Lobos, nas cercanias de Santarém, afastando-se de vez da cena política, tendo lavrado do seguinte modo a sua recusa em pertencer ao governo:

Fortes tendências para a eleição da localidade se manifestam já por muitas partes, e os governos e as parcialidades vêem-se constrangidos a transigir com esse instinto salvador. Se não me é lícito gloriar-me de ter contribuído para ele se desenvolver, ser-me-á lícito, ao menos, aplaudi-lo. É o primeiro passo no caminho do verdadeiro progresso social: cumpre não recuar.
Mas, pensando assim, como poderia eu, sem desmentir a minha consciência e as minhas palavras; sem trair a verdade, sem vos trair a vós próprios, aceitar em silêncio o vosso mandato? É honroso merecer a confiança dos nossos concidadãos, mas é mais honroso viver e morrer honrado.
Não haverá no meio de vós um proprietário, um lavrador, um advogado, um comerciante, qualquer indivíduo, que, ligado convosco por interesses e padecimentos comuns, tenha pensado na solução das questões sociais, administrativas e económicas que vos importam; um homem de cuja probidade e bom juízo o trato de muitos anos vos tenha certificado? Há, sem dúvida. Porque, pois, não haveis de escolhê-lo para vosso mandatário? (2)

Neste tempo, as palavras de Herculano deviam ser um sino a tocar a rebate nas consciência da Nação, porque ou entendemos de uma vez para sempre que esta só será realizável nos seus planos sociais e económicos, quando os homens do Parlamento - como aconteceu nas últimas eleições de 4 de Outubro de 2015, mais uma vez - não forem os homens de mão dos Partidos, mas os representantes do povo autêntico que mora nas lonjuras das grandes cidades e, muito dele, se esconde nas brenhas das serras do Portugal profundo, que aspira a mais justiça social.

Pensamos, que do mesmo modo – como a  Regeneração  perdeu Herculano, muito embora, e valha a verdade, foi com este movimento político que Portugal começou a entrar na modernidade, ao abandonar os Cabrais situados na ala direita do Liberalismo -  nos tempos mais recentes, Portugal  tem perdido, homens capazes que se têm recusado a pactuar com discussões estéreis centradas em Regionalismos, quando, afinal, Portugal no seu todo, é uma pequena Região, à escala mundial, e melhor seria levar por diante a ideia do municipalismo descentralizado do poder central, embora a ele sujeito por força constitucional.

Chamando ainda, Herculano, diremos como ele deixou dito:

Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade. (3)



(1) - Texto de A. Herculano, escrito na Ajuda e datado de 22 de Maio de 1858 e dirigido aos eleitores de Sintra, que o elegeram para o Parlamento no acto eleitoral de 2 de Maio do mesmo ano.
(2) - Idem, idem.
(3)  - Idem, idem


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Não nos envergonhemos do nosso nacionalismo!




Quando Junot invadiu Portugal, em Novembro de 1807, tendo-se já transferido a Corte e a Capital de Portugal para o Rio de Janeiro, aconteceu que o comandante das tropas invasoras era bajulado por muitos afrancesados.

O despudor e a falta de patriotismo chegou ao ponto de em Lisboa, o Juíz do Povo, o tanoeiro José Abreu de Campos, ter pedido a El-Rei Junot que intercedesse junto de Napoleão para que desse a Portugal uma Constituição e um Rei e que este fosse da família do todo-poderoso Imperador, frisando que o documento constitucional deveria ser semelhante ao que fora outorgado ao Grão-Ducado de Varsóvia.

Na História de Portugal este vergonhoso e humilhante pedido feito em 22 de Maio de 1808,  ficou conhecido como a súplica de uma Constituição.

O País fervia na nova era que o Liberalismo abriu, mercê da Revolução Francesa, não tendo faltado os que se posicionaram contra a honra da  Pátria, servindo servilmente o invasor e de que é um triste exemplo o Conde da Ega, Aires de Saldanha, marido de Juliana, filha da Marquesa de Alorna, que se tornou amante de Junot, com o beneplácito do consorte enganado.

Depois de José de Vasconcelos, nasceram abundantemente em 1808 muitos  desnacionalizados para quem o nacionalismo deixou de ser uma referência de amor  a Portugal.

De então para cá este facto acentuou-se, sobretudo, nestes tempos dos globalismos, não apenas económicos, como políticos e onde as Pátrias – por muito que nos pese - vão deixar de ter o elo forte dos nacionalismos sadios que era o cimento aglutinador dos seus povos.

Afinal, o burro sou eu!


Gravura do jornal "O Zé" de 10 de Janeiro de 1911


Esta gravura que faz parte do meu arquivo pessoal, resistiu durante os tempos que se seguiram às últimas eleições e ao que dela se seguiu no panorama político nacional para apelidar de "burro" uma determinada personagem.

Creio, hoje, que fiz bem - até porque tal acto me repugnava - e porque, afinal, o burro sou eu em ter perdido tanto do meu tempo a interessar-me pela "Res-pública", com gente que não tem dela o respeito que ela deve merecer.

Peço perdão a mim mesmo.

E assim, dentro do que deixei dito numa outra postagem deste "blog" publicada no dia 25 de Outubro, reafirmo que só em casos pontuais - como este de a mim mesmo me apelidar de burro - voltarei a interessar-me pela vida política, a menos que ela ganhe, um dia, a lucidez perdida, ou seja, quando tiver a certeza que os votos das urnas conotados com programas diferentes - e assim votados pelos eleitores - nunca mais, posteriormente, serão manipulados à revelia dos votantes e com esse malabarismo político obter-se um poder político falsamente conquistado.

Quando a partir de uma derrota eleitoral pode aparecer um Governo - feito de "arranjinhos" - transformando votos sufragados de três vias políticas como se de uma apenas se tratasse. é, contra esta vergonha que me revolto.
E se calo a minha escrita, nesse sentido, é simplesmente, para defesa mental de mim mesmo, chamando-me de burro por ter acreditado que tal hipótese era impensável.

Tenho imensa pena de Portugal!

Fé: O que é?


"Quem crê, diz Tomás de Aquino, crê, antes de tudo, na palavra de outrem. Por isso, em qualquer forma de crença, a pessoa em que se crê precede à palavra na qual se crê. A , portanto - antes mesmo de ser uma adesão a uma palavra - é um ato pessoal, no qual uma pessoa se fia na palavra de outra pessoa:

Ora, como o que crê adere à palavra de outro, considera-se como principal e fim, em qualquer espécie de crença, aquele em cuja palavra assentimos; e, como quase secundário, aquilo que admitimos por querermos assentir à palavra de outro.

Desta feita, no ato de fé, aderimos à palavra, não em virtude de termos atestado, demonstrativa e evidentemente a sua veracidade, senão porque, quem no-la diz, é digno de nosso assentimento:

Nesse género de fé, que, em oposição à anterior, poderemos chamar de autoridade, o motivo que determina o assentimento não é a evidência de que o testemunho é verdadeiro e de que aquele que o prestou, actualmente, no caso concreto, não faltou à verdade, mas a autoridade habitual da testemunha que, pela sua ciência e veracidade, tem direito a uma adesão dócil das nossas inteligências.

No caso da fé cristã, ocorre algo análogo

Com efeito, o crente cristão, não é senão aquele que adere, por um ato da vontade, a Cristo e, por isso mesmo, a doutrina de Cristo. Antes de aderir às palavras, o ato de fé implica, portanto, um assentimento à pessoa de Cristo. Em outras palavras, quem aderiu às palavras de Cristo é porque já assentiu, ipso facto, à pessoa de Cristo. Em uma palavra, em Cristo inseparáveis são a pessoa e a doutrina. Ele é, pois, o fundamento da nossa . O original latino, não deixa dúvida quanto a isso: “Sic igitur recte fidem Christianam habet sua voluntate assentitChristo in his quae vere ad eius doctrinam pertinent.” (“Assim, pois, aquele que possui a verdadeira fé cristã adere ao Cristo por sua vontade, naquilo que verdadeiramente pertence à doutrina de Cristo”)

Ora, a doutrina a testemunhar não é apenas teoria senão vida, e vida que consiste em aderir a outra vida: a vida pessoal de Cristo. A pessoa de Platão ou de Aristóteles, por exemplo, distingue-se de sua doutrina. Não assim Cristo: ‘Eu sou o caminho, a verdade, a vida’, diz ele (Jo 14, 6). Aderir à verdade cristã, é aderir à pessoa de Cristo, é viver de Cristo, ter em si o pensamento e o amor de Cristo. (...) Logo, testemunhar o cristianismo não pode reduzir-se a repetir fórmulas cristãs, nem mesmo a aceitar essas fórmulas. Testemunhar, é aceitar a pessoa mesma de Cristo, entregando-se a ele, observando o que ele prescreveu."

in, A teologia da Inquisição segundo Santo Tomás de Aquino - II
Por Sávio Laet de Barros Campos

Este pequeno excerto do estudo do Professor da Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil) tendo como fonte o pensamento preclaro de S. Tomás de Aquino dá-nos - na minha opinião - uma nova claridade sobre a fé que o homem adquire - ou não - na Pessoa de Jesus Cristo.

Logo, no começo, este ilustre académico, citando o pensamento de S. Tomás de Aquino,  começa por dizer: "Quem crê, diz Tomás, crê, antes de tudo, na palavra de outrem." e é por aqui que relativamente à aceitação da fé cristã, que tudo começa. 

Crer na palavra de outrem.

Crer, portanto, na Palavra de Jesus Cristo, não porque atestamos demonstrativa e evidentemente a sua veracidade, mas porque, quem  no-la diz, é digno de nosso assentimento e esse alguém, não se trata de uma só pessoa mas, no mínimo, de quatro: os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João.

E é nestas palavras de outrem que relatam os passos de Jesus e os seus ensinamentos a que o homem adere - ou não - por um acto de vontade e por assentimento à figura. de Jesus Cristo, observando o que Ele prescreveu.

Contam-se por muitos milhares de milhões de homens e mulheres que por crerem na palavra de outrem tem seguido ao longo dos tempos Jesus Cristo e n'Ele têm sabido encontrar o caminho da Fé, como acontece neste testemunho poético que é uma visão do homem sobre este atributo, que se é feito da imaterialidade que o forma esta tem o seu assento na humanidade de quem a viveu de perto e a sentiu actuante.

                  

As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.

No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bússola nos seja,
Senhor, tua palavra.

A melhor segurança
Da nossa íntima paz, Senhor, é esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.

Ah!! feliz o que pode,
No extremo adeus às cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
Vê quanto vale a terra;

Quando das glórias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta às eternas glórias;

Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E só por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.

Machado de Assis
in 'Crisálidas'    

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"O Homem, Esse Desconhecido"




"O Homem, Esse Desconhecido" - recorda-se - é o título do famoso livro escrito pelo médico francês, Alexil Carrel, Prémio Nobel de Fisiologia de 1912, convertido ao catolicismo mercê da sua vivência pessoal no Santuário de Lourdes no ano de 1903 quando em substituição de um colega acedeu a acompanhar um comboio de doentes e ali, perante a cura por ele considerada milagrosa da doente Maria Ferrand, o seu espírito se sentiu iluminado pelo sobrenatural.

Numa análise sintética de que o título daquele livro, apenas serve de introdução, dir-se-á que conhecemos o mundo à nossa volta pela rapidez da informação que nos chega mas nos falta o essencial: o conhecimento de nós mesmos. Exploramos o espaço em zonas que nos estavam interditas mas não viajamos por dentro de nós mesmos porque deixámos de ouvir os apelos do coração.

E "O Homem, Esse Desconhecido" vai continuando o seu caminho mais por fora que por dentro de nós mesmos.

E, no entanto, a pergunta do salmista (Sl 8, 5-7) com o pensamento em Deus: Que é o homem, para que te lembres dele? - Que é o ser humano, para que te preocupes com ele? a que rei David respondeu: (...) fizeste-o quase como um deus e encheste-o de honra e dignidade. Deste-lhe autoridade sobre as Tuas obras, colocaste tudo sob o seu poder, o que nos deixa entender que fomos criados para ser gestores da Criação por termos a nossa origem inscrita no sopro de Deus e não termos surgido sobre a face da terra por geração espontânea ou processo evolutivo, como alguns pretendem.

Temos corpo e alma, atributos que nenhum outro ser vivo tem; somos assim um duo formado por corpo e espírito e somos assim por sermos imagem e semelhança de Deus.

Quem é, pois, "O Homem, Esse Desconhecido"?

Eis uma pergunta tão inquietante quão antiga é, pois já na Antiguidade a cultura grega escreveu no templo de Delfos a legenda: "Conhece-te a ti mesmo", um desiderato que se mantém até hoje em todos os sectores mais cultos da História Humana, porque desde os primórdios a Humanidade tem andado a dividir a síntese sobre o homem entre aquilo que é e o que devia ser, criando um desentendimento humano por querer - quase numa afronta à Verdade do que é dita no Salmo - esquecer o que lá está dito e, por isso, parece que o homem se compraz em avivar estes desacertos quanto à sua conduta ante o Mistério que o rodeia.

E tanto assim é, que S. Paulo (Rom 7, 15 e 19) disse: Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é que faço.(...) É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico, e é este confronto do humano contra si mesmo que continua ainda no nosso tempo a agir como se fosse uma fatalidade a que o homem está condenado, quando ele é como asseverou David, um ser existencial quase como um deus cheio de honra e dignidade.

O que temos feito disto?

Eis a pergunta que nos falta fazer ou nos esquecemos dela de propósito, para pormos a render a incultura moral em que, parece, a civilização progride e a ciência que a suporta, enquanto regride a cultura moral onde está fundada a honra  e a dignidade outorgada em nosso favor desde a primeira aurora da Criação.

domingo, 25 de outubro de 2015

Fim de um certo caminho




Hoje é um dia muito especial para mim. enquanto autor deste "blog".

E é, por ele ser assim, muito especial, que tomei a decisão ponderada - "sábia" no meu entender - de só em casos extremos por não poder calar a minha consciência - é que voltarei a usar esta ferramenta da "blogsfera" para a publicação de quaisquer críticas de cariz político, pelo que a minha rubrica - Crítica Social - acabou com a publicação, ontem, com o número 308 das minhas intervenções e, assim, qualquer apontamento eventual que possa vir a surgir levará outro caminho e será sempre regido pelas normas de boa educação social.

Contenta-me, por isso, o facto de, embora esteja patente em quase todas elas a minha "feição política", a minha educação beirã recebida num berço pobre, enriqueceu-se da matriz sócio-religiosa do credo católico apostólico romano que me deu o condão de manifestar o meu desacordo, sem contudo, contra quem discordava, tal facto me tivesse levado a deixar explícito qualquer afronta ao carácter, com a utilização de nomes menos próprios, pois sempre procurei deixar subjacente às minhas palavras o conceito cristão de Santo Agostinho, que mais ou menos se expressa do seguinte modo:

  • Ama o homem mas combate o seu erro!

Ao longo da minha vida - pela graça de Deus já longa - essa baliza de amor traduzido pelo respeito pelo meu semelhante, tendo de continuar assim e embora discordando, penso que o devo fazer contrapondo ao erro que fere a minha consciência a Palavra do Justo que apontou o verdadeiro Caminho.

E pelo respeito venerável que Ele me merece e, também, de mim mesmo, penso que é tempo de por um marco no fim de um certo caminho por onde segui algumas vezes a enredar-me na coisa política - que é nobre na sua essência - mas tão maltratada como a vejo em Portugal deixou de me interessar.

E deixou, porquanto, há outros caminhos em que devo continuar a porfiar, neste estádio da vida com mais empenho na escrita que vou fazendo - já que a acção pela corrosão dos anos mo vai impedindo - na mira de honrar a minha cidadania pelo respeito da sobrenaturalidade que existe em mim e está impressa em cada cidadão.

E sobre isto não tenho qualquer dúvida, porque o cidadão no cumprimento íntegro da sua conduta, a política dos costumes, da honra e do dever que lhe estão associados preenchem a vida nesse campo, que sendo terreno, se for tratado na linha espiritual que ata o destino de todos os homens ao seu Mistério de existir, tende a melhorar a política da "Res-pública" que não pode deixar de existir na sociedade dos homens.

Mas precisa de ser mais bem tratada.

Penso, por isso, que o meu desinteresse pela política rasteira que vejo a impor-se, pode apenas ser alterado, se um dia em Portugal o voto eleitoral passar a ser respeitado de acordo com o sentido que ele tem quando é metido na urna e não para ser manipulado como está a acontecer no tempo sombrio que vivemos.

Pelo que, aqui declaro, que o meu caminho de eleitor - conforme a gravura documenta - bateu de encontro a uma barreira colocada ardilosamente no meu caminho de cidadão que nada deve a Portugal que não seja a honra de ter nascido aqui e pelo amor que ele me merece, a minha consciência dói-se dos jogos sombrios que estão a ser jogados nas minhas costas.

Ou seja, nas "costas do Povo"!

Doravante vou dar ao meu "blog" a escrita que o norteou à nascença, pedindo desculpa a mim mesmo de o ter levado - na mira de a poder compreender - pelos caminhos enviesados da política nacional, em que os sucedâneos de uma nova era que tanto desejei e pela qual lutei nos meus tempos de jovem e de adulto - estou a falar da queda do anterior regime - não têm sabido como encontrar o melhor caminho para a felicidade do grande Povo que somos.

E já era tempo.

Algo desiludido me confesso, restando-me pedir a quem tem tido a gentileza de me ler - fora da rubrica "Crítica Social" - e que são para mim ilustres desconhecidos que muito respeito que o continuem a fazer, agora que, mudada a agulha, o meu caminho vai centrar-se de onde nunca deveria ter saído, ou seja, no amor que me merecem todos os homens à luz daquilo que me ensinaram no berço da minha educação beirã e, depois, no velho Catecismo da minha infância que guardo como uma relíquia na minha mesa de cabeceira.

E com essa educação católica que quero continuar a seguir o meu caminho até ao tempo em que dobrado o corpo pelo peso dos anos, a minha alma - que ninguém humanamente conseguirá dobrar se há-de apresentar a Deus na verticalidade que hei-de procurar que aconteça, com todos os falhanços da minha condição humana.

Digo tudo isto a pensar na juventude de Portugal onde estão os meus netos, que espero, possam encontrar tempos melhores quanto à ética humana, pelo respeito das diferenças e, sobretudo, que a partir delas se não engendrem jamais supostas igualdades sociológicas, impondo-as pelas artimanhas, desfazendo tradições arreigadas, quando elas deveriam merecer mais respeito.

sábado, 24 de outubro de 2015

As maiorias são políticas não são aritméticas.


Nuvens a mais... 


As maiorias políticas não são maiorias aritméticas, porque as primeiras fundam-se em conjugações sociológicas de uma mesma vontade eleitoral, enquanto as segundas se fundam na soma de votos com vontades eleitorais diferentes.

Por isso, acho risível que andem por aí os entendidos do costume - a começar pela candidata à PR do BE - que o Presidente da República ao não ter dado indigitado António Costa para formar Governo, excluiu "um milhão de portugueses" ou seja, os votantes no PCP e no BE.

Não pensam, porém, mo óbvio.

Como os programas daqueles partidos são contrários - em muitos pontos programáticos - aos da tradição da cultura e interesses polítidos nacionais e europeus, estes partidos não foram banidos, porque, eles mesmos se auto-excluíram, pelo que o argumento não faz sentido e é isto que o Partido Socialista não percebe ao querer a todo o custo construir com eles uma unidade.

E isto faz-me pena.

Agora andam à procura dum programa comum, como se isso fosse possível do ponto de vista político e sociológico, pelo que, se esta pseudo maioria fosse experimentada no Governo não convencia ninguém a começar pelo BCE - o Banco Emissor - que não mais admite que criemos dívidas sem criarmos riqueza, não nos permitindo que agíssemos como se tivéssemos moeda própria.

Como é que o Partido Socialista entrou nesta "salganhada"?

Este Partido responsável que, louvavelmente apresentou um programa macroeconómico onde estavam todas as "contas certas" e António Costa apresentou no primeiro debate com Passos Coelho, neste momento, aquele programa - com as concessões já feitas pelo PS - já caiu pedra sobre pedra e custa ver o seu co-autor de braço dado com António Costa em reuniões com o PCP e com o BE, que habilmente, estão a desfigurar aquele documento que largas horas levou a elaborar

Penso que Passos Coelho depois de cair - como tudo leva a crer- não deve, se lhe for proposto pelo PR assumir um Governo de gestão, mas deve deixar que esta esquerda multifacetada de muitas esquerdas seja empossada, um motivo que me leva a pensar no silêncio ensurdecedor de Mário Soares, que sabe como ninguém que um Governo destes não tem consistência para governar Portugal.

Que estes senhores que andam agora a "enfiar o barrete ao Povo" entendam de uma vez para sempre que as maiorias autênticas são políticas, não são aritméticas, pelo que jamais deixarei de criticar o PS de andar metido nesta embrulhada que vai ter - a concretizar-se - dois prejuízos:
  • Em primeiro lugar para Portugal.
  • Em segundo lugar para o Partido Socialista que vai pagar muito caro se a aventura for por diante.
Caramba! Mas não há ninguém no Partido Socialista que chame à razão António Costa?

Dá que pensar, não dá?


http://24.sapo.pt/

O Partido Comunista Português condenou este sábado os exercícios militares da NATO e a participação de Portugal nestas iniciativas, considerando que são mais um elemento para a “escalada de tensão e confrontação que marca a situação internacional".

“O PCP condena e reitera a sua posição contrária à participação de Portugal nestes exercícios da NATO, tanto mais que materializam um elemento mais na escalada de tensão e confrontação que marca a situação internacional”, refere o PCP num comunicado intitulado “Não aos exercícios militares da NATO. Defender a Constituição da República”. (...)
                                    http://www.tvi24.iol.pt/de 24 de Outubro de 2015
...................................................................................................................

Mas, eis, que António Costa, não hesita e é com O PCP que quer fazer um acordo de Governo.

Dá que pensar, não dá?

Dá que pensar que este partido - que agora não pode ser esquecido de poder ter influência num futuro Governo de Portugal - aja deste modo contra esta Aliança intergovernamental de 1949 que visa a defesa colectiva do espaço atlantista, logo em oposição ao Tratado de Varsóvia de 1955 pelos países do Leste Europeu e pela então União Soviética.

Dá, efectivamente, que pensar o "namoro" de António Costa - não digo o PS - a este parceiro, o que prova a razão sublinhada pelo Presidente da República em dar posse a António Costa sem ter um acordo "preto no branco" com este Partido e com o BE, que também já se manifestou contra, tal como diz a continuação da notícia do endereço acima, de que se reproduz o seguinte:

O Bloco de Esquerda de Beja também já se tinha manifestado contra o exercício da NATO na cidade, considerando que que "o povo português, já fustigado pela austeridade, dispensa jogos de guerra", que são "um desperdício inadmissível de recursos".

É, por isso, muito estranha a posição assumida pelo por António Costa, líder de um partido europeu que se quer "encostar" a partidos - legítimos, é certo - mas com ideias contrárias à Europa e à NATO.

Dá que pensar, não dá?