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terça-feira, 25 de setembro de 2018

Um Epigrama de Bocage


Estando enfermo um poeta
Foi visitá-lo um doutor,
E em rigorosa dieta
Logo, logo o mandou pôr.

“Regule-se. coma pouco”
Diz-lhe o médico eminente:
“Ai,senhor! (acode o louco)
Por isso é que estou doente.”
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Hoje, quase em desuso, este género poético que tem a sua origem na Grécia clássica foi, sobremaneira, popularizado em Roma, consistindo numa poesia curta de fácil memorização e terminando sempre por lhe dar um humor satírico que vai do ar zombeteiro, à critica social, escondendo um duplo sentido de mexericos ou entrando, malicioso, no anedotário  do momento da vida social com o engenho que lhe davam os poetas de renome.

Bocage, foi um cultor exímio desta arte poética aparecida em Portugal no século XVI.

Teve o condão de nos deixar ao longo da sua vasta obra literária muitos exemplos como este que se publica, denotando com a sua veia satírica - que é um marco da sua vida - o pendor que tinha para pôr a ridículo não apenas, no caso deste epigrama, o médico, como usou tal arte na sua vida social que o levou até às grades da prisão do Limoeiro, deixando-nos de tal passo da sua vida testemunhos gravados em deliciosas quadras.

Bocage não pode ser ignorado e é, por isso, que lembrá-lo, hoje, embora modestamente, é um tributo que pago à memória de quem morreu a pedir esmola, porque, no seu tempo, como hoje acontece, o Poder instalado em  Portugal não reconhece como devia - em vida -  os homens que com a sua arte se tornaram imortais, como acontece com este grande Poeta sadino.

Não custa a crer que neste Epigrama o doente seja ele mesmo, que como se sabe viveu na penúria, muitas vezes com fome na sua casa humilde do Bairro Alto, onde faleceu.
Tinha 40 anos.

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